Comissão de Atletas Olímpicos critica antes das eleições: "Desporto não é valorizado"
Entidade pronunciou-se em comunicado
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A Comissão dos Atletas Olímpicos emitiu esta sexta-feira um comunicado, a lamentar que "o desporto tenha passado à margem dos temas que os diversos partidos", na corrida às Eleições Legislativas de domingo.
O organismo lembra que "os partidos não aproveitaram o trabalho que os diversos agentes e organizações do Movimento Desportivo foram cuidadosa e exaustivamente apresentando ao longo do último ano", em referência, por exemplo, ao encontro do Comité Olímpico de Portugal com todos os que concorrem ao ato eleitoral.
A CAO constata ainda que, em Portugal, "o desporto não é valorizado social, nem politicamente", elencando uma série de aspetos que gostaria de ter visto em discussão: os apoios em tempos de pandemia, as medidas de proteção social e estabilidade financeira dos atletas de alto rendimento, a promoção da atividade física, a ajuda aos clubes ainda mais fragilizados com a covid-19 e a existência de um Ministério do Desporto.
Recorde-se que O JOGO fez aqui um levantamento do que propunham os partidos nos seus programas para o setor.
Leia o comunicado da CAO na íntegra:
"Termina hoje a campanha para as eleições legislativas de dia 30 de janeiro, tendo o desporto
passado à margem dos temas que os diversos partidos foram paulatinamente apresentando e
discutido com o eleitorado, o que revela duas tendências:
-Primeiro, que os partidos não aproveitaram o trabalho que os diversos agentes e
organizações do Movimento Desportivo foram cuidadosa e exaustivamente apresentando
ao longo do último ano, com vista a salvaguardar a sua sustentabilidade. É importante
referir que as medidas apresentadas foram elaboradas com base no estudo não só da
realidade nacional, mas também tomando como exemplo boas práticas levadas a cabo no
contexto Europeu;
-Em segundo lugar, confirma porque Portugal continua sistematicamente a ter dos piores
índices de prática desportiva entre os países da União Europeia, pois o desporto não é
valorizado social, nem politicamente, como mais uma vez ficou claro com a ausência de um
debate esclarecedor e de medidas políticas concretas para o sector.
Talvez mais importante do que constatar estes factos, que já não surpreendem, seria
eventualmente pertinente refletir sobre o que gostaríamos que tivesse sido discutido neste
período:
-Num mundo que se modificou da noite para o dia, os atletas deram mostras de uma capacidade
de adaptação e resiliência que inspiraram milhões de pessoas por todo o mundo. O desporto
constituiu também uma salvaguarda e antídoto em termos de saúde mental de múltiplas gerações.
Até que ponto as diferentes abordagens desportivas, desde o lazer ao alto rendimento,
contribuíram para que as sociedades enfrentassem tempos tão difíceis? E para quando o
reconhecimento do desporto como sector estruturante da sociedade?
- As carreiras desportivas dos atletas de alto rendimento, com particular enfoque nos atletas
Olímpicos, consideradas de desgaste rápido, têm muito poucas medidas que transmitam proteção
social e estabilidade financeira a quem as abraça. Com múltiplos exemplos de boas práticas neste
campo que os mais diversos países Europeus têm consagrado aos atletas, nomeadamente com a
sua inclusão em diversos organismos dentro da esfera pública, porque é que Portugal não os segue?
- Se Portugal tem como objetivo figurar entre os países da União Europeia com melhores índices de
atividade física, para quando uma aposta séria na promoção da prática de atividade física como
verdadeiro cuidado de saúde primário? E como é que pretende levar a cabo esse desiderato? Qual
a estratégia?
- A pandemia trouxe grandes condicionalismos à já débil situação vivenciada pela grande maioria
dos clubes e associações desportivas - estruturas nucleares do desenvolvimento desportivo, de
ligação às comunidades locais e, fundamentalmente, células-base no início das carreiras
desportivas de atletas. Que medidas estão previstas para apoiar os clubes a cumprir a sua missão?
- Faz sentido continuarmos a ter um Instituto do Desporto e Juventude, ou seria do interesse, quer
dos jovens, quer do movimento desportivo, que este organismo fosse dividido em dois, um para
cada área? Embora ambos os campos se cruzem ao longo da caminhada, as perspetivas são distintas, assim como deveria ser a respetiva tutela. O mesmo poder-se-ia referir em relação à Secretaria de Estado da Juventude e Desporto. Para quando um Ministro verdadeiramente com a tutela do Desporto?
A Comissão de Atletas Olímpicos gostaria de ter presenciado a discussão destes e muitos outros
tópicos que o Movimento Desportivo, fruto de uma união e conjugação de esforços, tem colocado
à consideração não só da Sociedade, mas também dos partidos políticos e da tutela do desporto.
Sem eco, como se depreende. Mas isso não significa, usando a gíria desportiva, que deitaremos a
toalha ao chão. Assim, face a um período onde todos fomos postos à prova, o diálogo, a cooperação
e a comunicação são ferramentas fundamentais para a prossecução de um objetivo que sabemos
ser comum aos diversos atores do Movimento Desportivo Nacional: proporcionar aos portugueses
as condições para que possam desenvolver o seu potencial através do desporto, seja num jogo
entre amigos de uma qualquer modalidade coletiva, seja na corrida do bairro, seja nos Jogos
Olímpicos, em representação de Portugal.
Cada vez mais, o papel dos atletas estende-se muito para além do plano desportivo. Foram sendo
adquiridas competências pessoais, para além daquelas desenvolvidas no plano desportivo, que
tornam os atletas referências para a sociedade. Estão cada vez mais bem preparados a intervir em
vários domínios da vida do País. E têm a capacidade para tal, sendo uma voz ativa e empenhada na
resolução dos problemas de Portugal. Mas não só têm essa capacidade, como querem exercê-la.
Têm disponibilidade. Haverá abertura para tal?"