A vida tem destas coincidências: quem abriu caminho para Jorge Jesus ir para o Flamengo foi, curiosamente, o primeiro brasileiro a ser treinado por ele em Portugal.
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Parte I da história, Portugal, 1990: Jorge Baidek, conceituado defesa-central brasileiro que tinha passado a época anterior no Belenenses, andava a treinar sozinho no Jamor, enquanto esperava pela documentação para ir jogar por um clube turco, com quem já tinha acordo. Não chegou a ir. Jorge Jesus ia começar a sua primeira época como treinador, no Amora, e ligou-lhe para o convidar.
É Baidek a contar agora, para o JOGO, na primeira pessoa.
"Eu tinha tudo acertado para ir jogar num clube da Turquia e estava só à espera do passaporte. Até andava a treinar à parte, no Jamor. Eu e o Jesus não nos conhecíamos, mas ele soube da minha situação. Ele morava na Amadora, eu em Algés e então, por intermédio de um amigo em comum, combinámos ir tomar um café em Algés. O Jesus disse-me então que tinha um projeto de subida no Amora. Eu aceitei, estive lá com ele e até hoje mantemos amizade. Uma amizade de muitos anos. Jantamos juntos e às vezes vamos na casa um do outro", conta o brasileiro.
"Fui o primeiro jogador brasileiro a ser treinador pelo Jesus. Ele gostava muito do sistema defensivo do Milan, do Arrigo Sacchi, que tinha Baresi, Costacurta e Maldini. Ele até foi lá a Itália fazer um estágio com eles. E eu no Belenenses jogava num sistema defensivo parecido, que o Marinho Peres tentava implementar ali. E também foi por isso que ele se lembrou de mim para o Amora", prossegue Baidek, agora empresário.
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"Em Portugal tenho vários jogadores, como o Patrick William, do Famalicão, ou o Bruno Jesus, do Aves. Tenho uma agência aqui no Brasil e o meu filho trabalha comigo, também", conta.
Uma função que viria a ser determinante para o culminar desta história.
Parte II da história, Brasil, 2019: Jorge Jesus terminara contrato com o Al Hilal, da Arábia Saudita, quando Jorge Baidek, numa conversa de circunstância, se lembrou de que o treinador sempre tivera o sonho de trabalhar no Brasil.
"Quando ele saiu da Arábia, estávamos a conversar e eu falei na hipótese Flamengo. 'O clube certo para você é o Flamengo', disse eu. E ele: 'Baidek, por mim, tudo bem'. Eu já sabia que ele sempre tivera o desejo de trabalhar no Brasil. Na altura o Abel Braga até estava com problemas de saúde. E eu então disse a ele: 'Jesus, eu vou mesmo falar no teu nome ao Flamengo'. 'Claro que sim, que eu teria todo o interesse', respondeu ele. Naquela altura, se havia um clube que podia dar estabilidade a um treinador era o Flamengo. E ao mesmo tempo havia insatisfação dos adeptos com o Abel Braga", começa por contar Baidek.
Daí até o empresário passar à prática foi menos de nada.
"Liguei para a Direção do Flamengo e falei com o Marcos Braz e o Paulo Pelaipe da Direção. Quando eu falei com eles, não tinham nem ideia do nome do Jesus, mas eu senti logo que havia essa possibilidade. Então depois voltei a falar ao Jesus. "Olha, você vai para o Flamengo. Só precisa de ter um pouco de calma."
A seguir, Baidek foi a Lisboa para um almoço com o técnico: "Nessa altura fui a Lisboa, com o meu filho, fomos almoçar e eu voltei a dizer-lhe: "Você tem que ter calma, porque você é estrangeiro e a situação não é assim tão simples, mas você vai para lá. Depois o Jesus veio ao Brasil, ainda chegou a ir ver um jogo do Atlético Mineiro e eu voltei a dizer-lhe para ter calma, porque as coisas iam fazer-se para o Flamengo. E assim foi", conta agora Baidek, orgulhoso do desenlace que esta iniciativa viria a ter.
"Mas eu não sou representante e oficialmente também não participei nas negociações. Depois foi tudo tratado entre o Flamengo e o advogado do Jorge Jesus. Mas fiquei muito feliz de se ter concretizado e hoje torço muito por ele para que tudo dê certo", explica.