<strong>ENTREVISTA - </strong>Na Bélgica há um extremo português que encanta os adeptos do Antuérpia. Ivo Rodrigues, ala formado no FC Porto, já marcou quatro golos esta temporada, mesmo não sendo um titular indiscutível.
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Ivo Rodrigues, de 24 anos, está num dos melhores momentos de uma carreira, cuja formação foi em parte feita no FC Porto. O extremo deixou-se apaixonar pelos dragões e em entrevista a O JOGO faz juras de amor eterno ao clube que nunca deixa de acompanhar. A devoção de Ivo pelos portistas é tão grande que a possibilidade de poder regressar é o sonho de uma vida. Por agora, o presente faz-se na Bélgica, mas o futuro deverá ser noutras paragens.
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Tem três golos em oito jogos efetuados na Liga Belga e também já marcou na Liga Europa. Está a começar bem esta terceira época no Antuérpia?
-Comecei por ser titular nesta temporada, fiz um golo na primeira jornada e outro na terceira pré-eliminatória da Liga Europa. As coisas estavam a correr bem, mas o clube contratou o Mirallas no último dia do mercado, um extremo que já passou pelo Everton, entre outros, aquisição que acabou por diminuir, um pouco, o meu espaço. Entretanto, reentrei na equipa e tive a felicidade de voltar a marcar.
Isso quer dizer que precisa de mostrar mais do que os outros para se poder afirmar?
-Não, não acredito nisso. O treinador [Laszlo Boloni] terá pedido a chegada de outros jogadores, e é normal que tenha apostado neles, mesmo eu não estando a jogar mal. A verdade é que comecei muito bem e é difícil manter esse nível. Acabei por sair do onze num momento menos bom, mas sinto que voltei a agarrar um lugar na equipa.
O ala já marcou por oito vezes em três temporadas na Bélgica, nas quais leva 62 jogos nas pernas. Em Portugal, Ivo Rodrigues, de 24 anos, participou em 59 partidas da I Liga e 55 do segundo escalão
Já a relação com os adeptos não poderia ser melhor...
-É verdade. Tenho uma empatia muito grande com os adeptos, desde que cheguei. Não sei se gostam de mim pelo estilo de jogo, se calhar não estavam habituados a este estilo, mas criei uma relação muito boa. São fãs que valorizam muito a entrega e isso nunca me falta. Quando entro, os adeptos gritam o meu nome e ainda recentemente fizeram isso, no jogo com o Kortjik [26 de outubro] em que entrei e marquei.
Tem contrato até 2021. Pensa cumpri-lo?
-No ano passado, pensei que podia sair. As coisas não correram da melhor forma e acho que este será o meu último ano, pois ambiciono jogar noutros países.
Voltar a Portugal é uma possibilidade?
-Antes de mais, quero dizer que a Bélgica não é tão valorizada quanto deveria ser. O ambiente nos estádios é muito bom e só nos grandes portugueses é que se pode sentir um ambiente semelhante. Aqui vive-se mais o futebol. Respondendo à pergunta, neste momento só poderia voltar para jogar em quatro ou cinco clubes. Não digo que se for preciso não jogarei num patamar inferior, até porque as coisas podem correr mal e posso precisar de me reafirmar, mas não acredito que saia daqui e volte a Portugal.
"Representar a Seleção Nacional é o sonho de qualquer jogador mas, a par disso, afirmar-me no FC Porto também o é"
E é um sonho regressar ao FC Porto?
-Sempre disse que, se pudesse, ficava no FC Porto para sempre. Representar a Seleção Nacional é o sonho de qualquer jogador mas, a par disso, afirmar-me no FC Porto também o é. Trata-se do clube onde cresci, o clube que eu amo e que acompanho para todo o lado. Seria um grande feito conseguir voltar e, como se costuma dizer, se eu regressasse bem que já podia morrer descansado. Quanto à Seleção Nacional, tenho noção de que chegar lá é muito difícil. Portugal está recheado de jogadores de qualidade e então na minha posição posso, assim de repente, nomear 12 ou 15 jogadores com capacidade de serem chamados, mas nunca irei perder essa esperança.
Costuma, portanto, seguir à distância os jogos do FC Porto? O que está a achar da época, até agora?
-O FC Porto não tem vindo a jogar um grande futebol, mas está a lutar por todas as frentes e importante mesmo é conseguir títulos. Espero que possam dar a volta no campeonato e que consigam terminar no primeiro lugar, e também desejo que ainda consigam fazer uma boa carreira na Liga Europa. Mas sou, sobretudo, um adepto de futebol. Tenho os canais portugueses e vejo muitos jogos da I Liga.
"LUÍS CASTRO É O TREINADOR QUE MAIS ME MARCOU"
Luís Castro foi um "professor" para Ivo Rodrigues, quando estava no FC Porto B. Tanto é que o treinador, agora no Shakhtar, foi o que mais marcou o extremo. "O Luís Castro coincidiu com o melhor momento da minha carreira. Eu era um jovem e em 2014 fiz 12 golos em seis meses, antes de ser emprestado ao V. Guimarães. O Lito Vidigal, no Arouca, também me fez crescer e mostrou-me o outro lado do futebol."
"JACKSON TEVE UMA ATITUDE QUE ME MARCOU"
Corria a época 2014/15 quando Julen Lopetegui chamou Ivo Rodrigues para um jogo da Taça da Liga. O extremo contou com uma mensagem especial de Jackson Martínez antes dessa partida...
"Estreia pelo FC Porto? Levei uma joelhada e falhei um golo cantado que podia ter mudado a minha vida no clube"
Fez um jogo com a camisola principal do FC Porto. De que é que se recorda?
-Lembro-me que me deram uma joelhada nas costas e que à custa disso tive de sair ao intervalo. Mas recordo-me, ainda mais, de uma clara ocasião que falho perto do guarda-redes. Era um golo cantado que podia ter mudado a minha vida no clube, se a bola tivesse ido lá para dentro. Nunca tinha jogado num estádio tão grande e com tantas luzes. O Jackson Martínez, que até era uma pessoa muito reservada nos treinos e que nunca tinha privado comigo, disse-me para ter calma e para não ter medo de mostrar. Para ele era só mais um jogo, mas para mim era uma ocasião muito importante e ele sentiu isso. Foi algo que me marcou.
Passado pouco tempo, é emprestado ao V. Guimarães e nunca mais volta...
-Sim. Passado uma semana desse jogo da Taça da Liga, eu ainda estava lesionado, deram-me a notícia que ia ser emprestado ao V. Guimarães. Como já disse, se dependesse de mim nunca tinha saído.
"Nunca pensei sair do Porto. Sinto-me deslocado e triste por não poder estar em Portugal, mas o fator económico pesa"
Jogou com nomes como Gonçalo Paciência, André Silva, entre outros... Ainda mantém contacto com algum deles?
-A minha geração é a de 1995, ou seja, a do André Silva, a do Rony Lopes, que apanhei nas seleções nacionais, mas eu era muito amigo do Gonçalo Paciência e ainda mantenho contacto com ele. Quando venho a Portugal privo muito com o Nuno Santos, do Rio Ave, e com o Rafa Soares, do V. Guimarães, jogadores que, no fundo, cresceram comigo. Também converso com o Leandro Silva, da Académica. Ele é uma verdadeira personagem, tenho muitas histórias caricatas com o Leandro e com ele no balneário não dava para estar de mau humor. Diria mesmo que a maior cena caricata é ter privado com ele.
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DESENRASCANÇO ENTRE DUAS LÍNGUAS
Os quatro golos marcados em 12 jogos são o melhor registo de Ivo Rodrigues na Bélgica. Jogador confessa-se "triste" e por não poder estar no Porto e para matar saudades até francesinhas cozinha.
Tem quatro golos em 12 jogos e esta é, desde logo, a melhor marca pessoal na Bélgica. Conta superar o máximo de golos (12) numa só época?
-Os doze golos foram conseguidos no FC Porto B, numa época (2014/15) em que tínhamos uma boa equipa, embora não tenhamos feito um grande campeonato. Na altura, houve uma onda de lesões e o Luís Castro colocou-me a ponta de lança. Além disso, é óbvio que é mais fácil fazer esses golos na II Liga. Na Bélgica, o futebol é muito tático e eu nem jogo a extremo, jogo a médio-ala que é quase um lateral-esquerdo. Agora, se me pergunta se posso lá chegar? É claro que sim.
Quais foram as dificuldades que encontrou, quando se mudou para Antuérpia?
-Na cidade só se fala neerlandês e a segunda língua é o inglês. Porém, no clube falamos francês e isso facilita-me a vida, pois não sei falar neerlandês. As maiores dificuldades acabam por ser familiares. Moro aqui apenas com a minha namorada, sempre fui uma pessoa de família e nunca pensei sair do Porto. Sinto-me deslocado e triste por não poder estar em Portugal, mas tenho objetivos de vida e não escondo que o fator económico é o que mais pesa. A alimentação foi outra novidade, estava habituado a comer as nossas massas e aqui eles usam muito os legumes misturados com outros molhos.
A francesinha também faz falta?
-Faz [risos]. Mas às vezes faço aqui e também há restaurantes portugueses.
Os emigrantes portugueses são seus fãs?
-Os fãs que tenho são mais belgas, mas também já fiz amizades com alguns emigrantes portugueses.