ENTREVISTA, PARTE I >> O RB Bragantino é uma das grandes surpresas do Brasileirão. Está em 2.º lugar e já amedronta os vários candidatos ao título. Chegar ao topo é difícil, mas para Pedro Caixinha não há impossíveis
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Chegou como um desconhecido, mas com bagagem considerável reforçada no México e na Argentina. Absorveu o projeto da Red Bull e colocou no Bragantino o selo de equipa sensação.
Com 26 jornadas decorridas, o RB Bragantino ocupa o segundo lugar. Acreditava numa classificação assim nesta altura do Campeonato?
-Estar nesta posição era algo que não prevíamos no início, embora fosse uma posição a perseguir. Mas olhar apenas para a classificação é redutor, pois há que analisar todo o projeto, primeiro o da empresa Red Bull e depois a ideia que existe para o Bragantino, que está apenas no seu quarto ano no Brasileirão. Quando ocorreu o contacto para as primeiras entrevistas, trocámos ideias quanto à filosofia de jogo do clube, que tinha sido desvirtuada. A empresa procura uma filosofia global, que já é aplicada nas outras equipas do grupo. O desafio era implementar essa filosofia também no Bragantino e com uma ideia ganhadora, com comportamentos de equipa. Nessa altura, definimos objetivos com o grupo. Através do departamento de análise, pedimos um estudo dos últimos 10 anos e que enquadrassem os diferentes patamares classificativos, para termos conhecimento da realidade em matéria de números, tudo para definimos de forma ambiciosa onde queremos estar e o que queremos perseguir.
Quais as grandes alterações que implementou?
-Verificámos que a equipa tinha bom rendimento com os melhores, mas teria de assumir mais o jogo quando defrontasse equipas teoricamente mais acessíveis. Vimos logo esse exemplo na prática: chegámos às meias-finais do Paulistão e fomos eliminados pelo Água Santa, na Taça caímos muito cedo frente ao Ypiranga e na Copa Sul-Americana fomos afastados pelo América Mineiro, todos adversários teoricamente inferiores. Então, pensámos em definir as coisas com médias de pontos, com a ideia firme de ganhar todos os jogos, seja em casa ou fora. Se queremos estar nos seis primeiros, temos de manter uma média de pontos de 1,43 a 1,54. Houve momentos em que estivemos abaixo disso, neste momento estamos com uma média de cerca de 1,8 pontos por jogo. É essa a nossa visão e caminho. Vamos ver até onde a ambição nos leva.
"Em quase todos os parâmetros coletivos estamos no top-3 do Brasileirão"
No Brasil há inúmeros candidatos assumidos ao título, com orçamentos astronómicos. Não sendo um dos gigantes do país, sente-se o "outsider desta" luta pelos lugares de cima?
-Confesso que houve jornadas em que nem sabia qual era a nossa posição, nem a posição dos adversários. Só olhámos para a classificação no final da primeira volta e chegámos a algumas conclusões, percebendo um padrão claro: virámos os jogos com o Bahia e com o Palmeiras, em todos os outros jogos as vitórias resultaram do facto de termos marcado primeiro. Temos uma entrada muito forte, tentámos impor os nossos comportamentos e detetámos uma relação causa-efeito. Em quase todos os parâmetros coletivos estamos no top-3 do campeonato e foi a partir daí que lançámos o desafio para a segunda volta, em que o ponto é muito mais caro. As equipas em posição G-4 reforçaram-se muito e mesmo outros em posições mais baixas foram buscar jogadores de qualidade, como o Cuiabá, Vasco da Gama ou Goiás. Nos só tivemos dois reforços, um miúdo de 17 anos e o Lucas Rafael, que veio do Estrela da Amadora. Nessa altura, o nosso CEO falou com o grupo e disse: "Se os pontos são mais caros, também vão receber mais por eles". Com isso foi criada motivação extra para fazermos ainda melhor na segunda volta. Queremos competir jogo a jogo, ser uma equipa forte e favorita em todos os desafios.
"Não apagamos a chama que existe, embora no Brasil seja muito ténue a fronteira entre o êxito e o fracasso"
O líder Botafogo tem uma vantagem de nove pontos. O título é uma utopia ou esse milagre é possível?
-Naquele célebre jogo da Alemanha com a Seleção antes do Mundial do México"86, José Torres dizia: "Deixem-nos sonhar!" Gerir expectativas é muito importante e temos de as ter. Os Leicester da vida acontecem. Só não podemos ignorar o facto de faltarem disputar muitos pontos e em 12 jogos no Brasil tudo pode acontecer. Não podemos mudar a nossa fórmula, mas a ilusão existe. Não apagamos essa chama e temos uma realidade muito clara do que devemos fazer, com a noção de que no Brasil é muito ténue a fronteira entre o êxito e o fracasso.