Tiraspol, uma aventura para o Braga: "Tanques de guerra e homens armados até aos dentes"
Rui Miguel, ex-FC Zimbru, diz que impressiona mais atravessar a fronteira da cidade moldava do que o Sheriff, esgotado do fator "surpresa" e de valor inferior ao Braga.
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O Braga voa esta terça-feira para a Moldávia e a comitiva deve manter o espírito aberto quando se preparar para entrar em Tiraspol, a cidade onde mora o Sheriff, o adversário de quinta-feira, para a primeira mão do playoff da Liga Europa.
Estar preparado para tudo, depois da viagem direta até à capital Chisinau (fica a 80 quilómetros de distância de Tiraspol), será mesmo a atitude ideal para a ponta final da jornada.
É que existem fronteiras (sim, dentro do mesmo país) e ninguém escapa à revista e à apresentação do passaporte perante olhares atentos de militares altamente armados, quase sempre apoiados por tanques de guerra. Perde-se tempo e, naturalmente, convém ter muita paciência.
Antigo jogador do Paços de Ferreira e V. Guimarães, Rui Miguel passou por essa experiência em 2015/16, quando representava o FC Zimbru. "Aquilo parece um país dentro de outro país. Vivem praticamente isolados do resto da Moldávia. E a zona da fronteira é um cenário um bocadinho intimidatório: como se estivessem em guerra permanente, há tanques de guerra e homens armados até aos dentes. Apesar de falarem romeno, estão mais virados para a Rússia", contou.
Entrando em Tiraspol, a marca Sheriff parece estar em todo o lado. "Vê-se nos supermercados, nas bombas de gasolina e por aí fora. Porquê? Explicaram-me que terá a ver com o dono do clube, que está envolvido em vários negócios. E sim, diziam por lá que teria estado ligado ao KGB e à venda de armas. O mais curioso é que ninguém o vê", comentou o ex-jogador português, dando conta de um clube rico, com "condições fora do normal". "Possui um centro de treinos gigantesco, onde até existe um hospital, e três estádios. Num disputam as competições internas, no mais recente as competições europeias e depois ainda têm outro totalmente coberto que utilizam quando está mau tempo", pormenorizou. Garantindo que "não é pelo ambiente nos jogos que aquilo assusta", apesar da presença regular e maciça "dos militares" numa das bancadas, Rui Miguel duvida ainda que o Sheriff, a voltar da pausa de inverno, surpreenda o Braga, como fez ao Dínamo Zagreb, Estrela Vermelha, Shakhtar e Real Madrid "O fator surpresa do Sheriff esgotou-se e o Braga está mais do que avisado das boas prestações deles nas competições europeias. O Braga tem claramente melhor equipa e vai tomar conta do jogo", estimou.
Da multa insólita à gravilha
Nem sempre a razão anda de braço dado com a autoridade em Tiraspol. As manifestações de abuso de poder são frequentes e a esposa de Rui Miguel sentiu isso quando se deslocou, de automóvel, à cidade moldava para assistir a um jogo entre o Sheriff e o FC Zimbru. "Sempre que veem um carro com matrícula romena, multam logo. Multaram-na por excesso de velocidade quando não ia a mais do que 50 quilómetros, no máximo. Por isso, se o avião do Braga aterrar noutra cidade, o melhor é passarem a fronteira a pé", gracejou o ex-jogador. Noutra ocasião, numa visita ao Dínamo Auto (outro clube de Tiraspol), teve de jogar num relvado sintético "cheio de pedras, de gravilha". "Acabei o jogo com as pernas todas esfoladas e não era necessário porque esse clube tem um relvado natural bom, mas decidiram assim...", recordou.