Quatro a quatro, jogadores têm sofrido em sessões de 40 minutos o que passam, por exemplo, num dia de pré-época.
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O Sporting regressou aos treinos no dia 20 de abril, após cerca de mês e meio de atividade condicionada pelo confinamento em casa dos jogadores, primeiro, e de um curto período de férias, depois, e de forma progressiva está a fazer a sua pré-temporada para estar em ótimas condições no regresso à competição.
Após uma semana as sessões diárias, não superiores a 40 minutos, ganharam (ainda) maior carga física e a palavra pré-temporada assenta que nem uma luva, pois a exigência dos exercícios que o departamento médico e a Unidade de Performance estão a desenvolver junto do grupo assemelha-se, sabe O JOGO, ao volume que se aplica na preparação de uma temporada para se dar uma boa resposta durante vários meses consecutivos de competição. No fundo, o leão redimensionou aquelas "tareias" do verão...
Boa solução? Jorge Castelo, preparador físico ex-Sporting, contactado por O JOGO, aprova, sempre que seja adaptado à especificidade do futebol, com a devida criatividade que tal exige perante o distanciamento social que vigora nas sessões de treino (começaram com dois jogadores por cada relvado e passaram entretanto para quatro), argumenta.
"São jogadores que trabalham há anos, ninguém volta à barriga da mãe. Eles já criaram uma capacidade de resposta e ninguém parte do zero"
"São jogadores que trabalham há anos, ninguém volta à barriga da mãe, costumo dizer. Eles já criaram uma capacidade de resposta e ninguém parte do zero. Não houve uma paragem completa. Não é difícil exigir níveis de esforço difíceis de sustentar. E é fácil verificar individualmente se o esforço está acima das capacidades de cada atleta. É mais difícil escapar de um ou dois se o grupo fosse de 25. Além de que a comunicação facilita. Já treinam há muito tempo e quem joga não perde a capacidade em seis semanas, é impossível", explica-nos Jorge Castelo, em aceitação à aplicação de cargas elevadas neste regresso leonino aos treinos.
"Cargas mais pesadas? Não vejo as coisas dessa forma. Não separo a dimensão física da técnica e tática. Há outros exercícios para recriar rotinas coletivas e situações de organização de equipa, movimentos padronizados, há os bonecos que se usam em livres... Há vários instrumentos para criar diversidade de treino. E individualmente podem treinar condução de bola, remate, técnica, tomada de decisão, concentração, fazendo também corrida. Se fizerem só coisas que não tenham que ver com o jogo, então estão a destreinar os jogadores. Tem de se treinar em dimensão de jogo e não de atletismo. Fazer coisas reduzidas, mas de futebol. O treino é especificidade, próximo à realidade do jogo. Assim, ficarão mais próximos do que é exigido em jogo", atira, apelando assim à criatividade para a elaboração de exercícios que simulem a realidade de um jogo de futebol e que estimulem os jogadores, mesmo a treinarem em número reduzido.
Para já, os leões treinam uma hora por dia, por turnos, em cumprimento das medidas de segurança e higienização. A preparação leonina começou com dois jogadores em cada campo, situação propiciada pelas condições da Academia e número de relvados disponíveis, mas entretanto já passaram a trabalhar quatro jogadores em cada campo, tal como O JOGO noticiou em exclusivo.
Treinar sozinhos é patamar mínimo para as exigências
Jorge Castelo, que integrou a equipa técnica de Sá Pinto em Alvalade em 2011/12 e 12/13, recordou que a pausa não foi total para os jogadores, pois, em confinamento, receberam "planos de trabalho baseados na rotina de esforço". "Para terem atividade física rotineira a determinada hora e com particularidades ligadas ao futebol. Agora têm de as conciliar com o regresso aos treinos no clube. Terá de ser um treino progressivo em relação à dinâmica física e coletiva. O trabalho de equipa é a dominante fundamental no futebol, porque trabalharem sozinhos é só um patamar para estarem em condições mínimas para as exigências de quando estiverem outra vez juntos", assegura.
"O que se fala sobre a possibilidade de os jogos serem numa só zona, e também de poder haver cinco substituições, será positivo para o calendário ser mais denso. É preciso os jogadores recuperarem a confiança e a segurança. No futebol há suor, transpiração, respiração forte... Imaginem o número de jogadores em curto espaço de terreno num canto? Vai demorar algum tempo a reabilitar a confiança dos próprios jogadores, que não podem ser obrigados a nada", sentencia Castelo.
Francisco Tavares, coordenador da Unidade de Performance e o preparador físico Gonçalo Álvaro têm sido peças fulcrais neste regresso.
Zero riscos, jogos sem público e em canal aberto
Aproveitando o facto de o termos em antena, questionámos Jorge Castelo também sobre o contexto que está a ser criado para que Portugal possa terminar o seu campeonato. "Aparecer alguém com o vírus pode criar pânico. É preciso ter atenção a espaços, higiene... zero riscos", defende. Para o especialista, o futebol "deve voltar sem público e devia ser em canal aberto". "De outra forma as pessoas vão juntar-se para ver em casa de quem tem o canal da transmissão", explica ao nosso jornal o preparador físico.