Aplicar o modelo da Alemanha, que considerará lesão um caso de covid-19 em jogadores, não parece ser o ideal, segundo o médico. As lesões serão outros dos problemas que vão dar dor de cabeça
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Como se prepara a equipa para o regresso à competição no final de um período de confinamento serviu de mote ao seminário promovido pela União de Treinadores de Futebol dos Países Lusófonos, no qual despontaram algumas questões pertinentes, como a probabilidade de infeções. Os jogadores terão de jogar sem máscara de proteção, aumentando o risco de contágio com o novo coronavírus. Hélder Pereira, ortopedista, lembra que em situação de jogo "o jogador está com a função cárdio pulmonar no máximo" e há "gotículas em suspensão".
A observação do clínico leva-o a considerar que se "houver o azar de uma infeção, o resultado será o término da competição", argumentando ter "dúvidas que socialmente tal venha a ser aceite". Aplicar o modelo da Alemanha, ao considerar lesão um caso de covid-19 entre jogadores, não é considerado por Hélder Pereira a solução ideal, pelo que apela a que "tudo seja muito bem explicado e apreendido com os próprios. O risco terá de ser aceite e é real", frisou.
Hélder Pereira, ortopedista, lançou a questão na plataforma de debate promovido pela União de Treinadores de Futebol de Países Lusófonos
O assunto "será alvo de discussão", acredita Hélder Pereira, como também solicitará por parte dos clubes uma compreensão maior face à possível recusa de um jogador em jogar por não se sentir seguro. Carlos Carvalhal, treinador do Rio Ave, admite que tal poderá acontecer, pois "estamos a lidar com pessoas e é natural que tenham receios. Não há nenhum treinador que ponha a jogar um jogador que não sinta confiança e até poderá ser devido a um problema circunstancial". Hélder Postiga recomenda "uma estrutura reduzida e numa estratégia bem definida pelos clubes"´.
A resposta fisiológica dos jogadores a um breve período de readaptação é outra das incógnitas. Carlos Carvalhal dúvida que quatro semanas sejam suficientes para se retomar rotinas e padrões de jogo, tanto que o "trabalho individual feito em casa tem um valor zero. Foi apenas condicionamento físico geral e não dá para regressar à competição". Há um conjunto de variáveis que terão de ser asseguradas pela equipa médica, no sentido de criar o quadro do estado atual de cada jogador e "haverá mais lesões neste período", avisa Hélder Pereira, apoiando Carvalhal para assumir "uma solução com muita criatividade" para preparar rapidamente o plantel para competir, sem constrangimentos físicos.
O momento atípico solicita respostas que ainda não existem e que só surgiram com a experiência. E para ajudar neste complicado processo, Hélder Pereira "chamaria alguém representativo do plantel a participar no organograma das atividades. Assim compreenderia cada medida e seria o portador da mensagem".