Proença reunido com clubes: início tenso, o desafio de Vieira e os temas debatidos
A reunião dos clubes com o presidente da Liga começou tensa, mas terminou com algum consenso. Há decisões para tomar, mas ainda não há propostas concretas para serem votadas.
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A direção da Federação Portuguesa de Futebol e o quadro executivo da Liga vão estudar, nos próximos dias, a solução para os impactos da pandemia da covid-19 nos quadros competitivos profissionais, nomeadamente os que resultam, diretamente, do cancelamento da II Liga.
Esta foi uma das conclusões da reunião que ontem decorreu, por videoconferência, entre o presidente da Liga, Pedro Proença, e os seus homólogos dos clubes dos campeonatos profissionais, tendo servido ainda para serenar, com informação de viva voz, a onda de protesto gerada nas 48 horas anteriores.
A decisão do Governo, que permite apenas a realização do principal campeonato e da final da Taça de Portugal, sob vigilância apertada da Direção-Geral da Saúde (DGS), implica um reorganizar "administrativo" de promoções e despromoções entre três competições, contando com o facto de a II Liga ser municiada por equipas do Campeonato de Portugal, este cancelado a 8 de abril, o que até pode não acontecer no final da temporada.
Com a data de reinício da I Liga apontada para o último fim de semana de maio (coincidente com a permissão governamental) e o primeiro de junho, a retoma competitiva depende ainda das vistorias aos estádios de todos os emblemas (ver peça à parte) e da definição, na Comissão Permanente de Calendários do organismo, das restantes 10 jornadas.
Os clubes sabem que, concluindo o campeonato em campo, haverá lugar a descidas, o que implica a necessidade de promover duas equipas da II Liga, não querendo alterar o seu quadro de 18 equipas (um objetivo de Pedro Proença com o fito na sustentabilidade da competição).
As melhor classificadas (aquando da suspensão) são o Nacional da Madeira e o Farense. Mas outros emblemas estavam matematicamente capazes de discutir o topo da tabela, nomeadamente o Feirense, um dos que mais têm protestado o cancelamento.
Início tenso com protestos
O JOGO sabe que o encontro de ontem começou em brasas, com vários presidentes da II Liga a exigir explicações a Pedro Proença, presente na reunião do Governo com a FPF, Liga, FC Porto, Benfica e Sporting, na terça-feira passada. Além disso, também Luís Filipe Vieira questionou o líder da Liga e desafiou-o a revelar o que se passou na dita reunião. Isto além de o ter confrontado com o apoio de um milhão de euros da FPF (ver peça ao lado) que resolveria quase todos os problemas da II Liga. O líder encarnado confrontou ainda Paulo Lopo, do Leixões, por declarações anteriores.
A argumentação de que a decisão foi política e com base em argumentos de saúde pública, da responsabilidade da DGS, terá reposto alguma serenidade, ao ponto de ter havido algum consenso sobre a questão das despromoções no segundo escalão, embora a decisão tenha ficado em "stand-by". A este propósito, sabemos que a maioria dos emblemas, incluindo FC Porto, Benfica, Sporting e Braga, pronunciou-se a favor de subidas e descidas entre as duas provas. Sendo assim, à espera dos resultados da análise conjunta da FPF e Liga ficam o Cova da Piedade e o Casa Pia, abaixo da linha de despromoção. Os clubes terão, porém, que aprovar em assembleia geral qualquer proposta que surja. O que também decidirá o futuro do Nacional e Farense, expectantes quanto ao regresso à primeira. Clubes estes que, quando foi debatido o apoio financeiro (ver ao lado), prescindiram das verbas a que terão direito se subirem por decisão administrativa. Toda e qualquer solução encontrada terá de ser equacionada em função do Campeonato de Portugal, nomeadamente se houver decisão a favor de despromoções na II Liga. Certo é que os clubes já foram informados telefonicamente, pela FPF, de que não haverá play-off de subida, sendo que Vizela e Arouca reclamam esse direito.
Estádios de 2004 na manga
Da reunião de terça-feira, entre Liga, FPF e os presidentes de FC Porto, Benfica e Sporting saiu a definição que os recintos desportivos seriam avaliados antes de receber o regresso da competição. A confirmação foi dada por Pedro Proença, presidente da Liga, no encontro de ontem. Assim, Liga, FPF e elementos da Direção-Geral de Saúde (DGS) farão a avaliação sobre as condições dos estádios para acolher as equipas, árbitros e demais agentes desportivos sem perigo de contágios e com percursos definidos para os agentes, dando como certo que alguns destes recintos não terão capacidade de adaptação ao novo protocolo sanitário. Da reunião com António Costa, ficou a indicação de que, caso os recintos não permitam a realização de jogos com as restrições atuais, os estádios do Euro"2004 seriam usados em alternativa. Dos 10 estádios usados nesse Europeu, o Estádio Algarve, Aveiro, Leiria e Coimbra (determinado que ficou o término da II Liga) podem ser indicados para a conclusão das jornadas em falta. Desde logo, as equipas insulares, Marítimo e Santa Clara, podem recorrer a estes estádios, previsto que está jogarem no continente para evitar a quarentena após as viagens.
A solução pode trazer inconvenientes imediatos aos clubes, pela gestão de publicidades contratualizadas para os estádios, e arrastar-se para a próxima época já que, e na ausência de uma vacina para a covid-19, ficou a dúvida se as equipas, cujos recintos não recebam luz verde nesta avaliação, teriam de continuar a jogar em casa emprestada.