Campeonato de Portugal pressiona decisões na II Liga: os cenários em cima da mesa
Direção da Liga convocada para decidir o que fazer com o campeonato secundário. Critérios de subidas e descidas podem ficar decididos na terça. FPF aplicou mérito desportivo como critério.
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A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu promover, "por mérito desportivo", o Arouca e o Vizela, os clubes com mais pontos das quatro séries do Campeonato de Portugal, indicando-os à Liga de Clubes para ocupar vagas na II Liga.
Decisão que coloca alguma pressão no organismo que tutela o futebol profissional quanto à necessidade de soluções para subidas e descidas no escalão secundário, que não irá concluir as 10 jornadas que faltavam disputar por decisão do Governo e da DGS, no âmbito das medidas de combate à pandemia da covid-19.
A Direção liderada por Pedro Proença terá de decidir com brevidade esta questão das promoção de duas equipas à I Liga e a descida de outras tantas ao CdP, equação que será feita com o campeonato secundário cancelado. Ou avançar para um cenário menos plausível, que é o do alargamento da prova (sem descidas e/ou sem subidas). A resposta a estes cenários deverá ser conhecida depois de amanhã, terça-feira, dia para o qual foi convocada uma reunião da direção do organismo, cuja agenda prevê um ponto sobre a matéria: "Decisão relativa às consequências desportivas do término da competição da Liga Pro, da época 2019-20", conforme comunicado ontem tornado público.
Proença, na sexta-feira, informou todos os clubes das duas divisões profissionais de que essa solução seria encontrada juntamente com a FPF. Porém, será da competência do organismo a que preside decidir ou apresentar propostas para resolver as situações no escalão secundário, de modo a preparar a próxima temporada. O que não impede, claro, um entendimento com a tutela máxima do futebol português, até pela inter-relação das várias provas.
A decisão da FPF
Mas vamos por partes: durante a tarde de ontem, a FPF comunicou, oficialmente, que, reconhecendo "o mérito desportivo", indicou, "de entre os líderes das [quatro] séries à data em que a prova [CdP] foi dada por concluída, os dois clubes com maior número de pontos". Ou seja, "serão indicados para ascender à II Liga o Futebol Clube de Vizela (Série A) e o Futebol Clube de Arouca (Série B)".
Porém, tal decisão motivou alguma contestação, nomeadamente do Praiense e do Olhanense, que eram líderes das séries C e D aquando da suspensão do CdP. O primeiro ameaça recorrer à justiça (ver peça à parte), o segundo garantiu ir defender os seus interesses "em todas as instâncias oportunas".
Casa Pia é membro da Direção da Liga e pode ter que decidir em causa própria, no que diz respeito às subidas e descidas da II Liga
Liga chama Direção
Ao início da noite de ontem, foi a vez da Liga comunicar a convocatória da sua Direção, composta pelo próprio presidente, por um representante da FPF e por Benfica, FC Porto, Sporting, Tondela, Gil Vicente (I Liga), Leixões, Mafra e Cova da Piedade (II Liga). Este último emblema poderá, então, ser obrigado a decidir sobre um cenário que lhe será desagradável, pois, juntamente com o Casa Pia, está em lugar de despromoção na II Liga, caso sejam aplicados os mesmos critérios desportivos que a FPF usou para decidir as subidas de Vizela e Arouca.
Há, ouvidas fontes de vários emblemas, dúvidas sobre a interpretação jurídica relativa às promoções e despromoções (e até quanto a uma eventual decisão de não sagrar qualquer campeão na II Liga). Há quem defenda que o assunto tem de ser debatido e decidido em assembleia geral. Porém, parece ser entendimento geral na própria Liga de que bastará uma decisão da sua Direção, com base nos pressupostos do Regulamento de Competições.
Por todas estas razões, a reunião da Direção da Liga deverá ser decisiva quanto aos impactos desportivos deste cancelamento para a próxima temporada.
O cenário mais plausível passa por uma decisão idêntica à aplicada do CdP, mas o alargamento da II Liga também é hipótese e não precisa de "autorização" da FPF
Os cenários
Admitindo-se como mais provável a utilização dos mesmos critérios usados pela FPF no CdP, subiriam à I Liga o Nacional da Madeira e o Farense, os mais pontuados no momento da paragem por "força maior", expressão que consta das regras das competições, assim como os "méritos desportivos". Da mesma forma, Cova da Piedade e Casa Pia, conforme já dissemos, desceriam ao CdP, podendo a competição acolher Arouca e Vizela, indicados pela FPF.
No entanto, e porque, em teoria, a Direção da Liga o pode fazer, existe ainda o cenário de zero descidas, mas isso implicaria o alargamento da II Liga para 20 equipas, algo que desagrada ao próprio Pedro Proença, que se bateu, desde que assumiu o cargo, pelas 18 equipas em prova, tendo encolhido, desde 2016, de 24 emblemas para os 18 atuais (com duas equipas B, FC Porto e Benfica).
Mesmo que menos plausível do que o anterior, este não deixa de ser uma cenário possível, tanto mais que a própria Direção da Liga o poderia implementar ao abrigo do protocolo com a FPF, de 1 de julho de 2016, assinado por Fernando Gomes e Pedro Proença. Nesse contrato, está estabelecido, no artigo quarto, respeitante ao número de clubes que participam nas competições profissionais, que a II Liga poderá ter entre um mínimo de 16 clubes e um máximo de 20. Ou seja, a Liga pode decidir, sem necessitar de validação da FPF, uma redução para 16 ou um alargamento para 20 equipas.