Em Coimbra, o Braga tenta a sua terceira conquista na prova-rainha e os encarnados a 27.ª. Para César Peixoto, que jogou nos dois emblemas, o Benfica terá uma "época completamente perdida" caso perca.
Corpo do artigo
Braga e Benfica fecham domingo de forma oficial a temporada de 2020/21 numa inédita final da Taça de Portugal, a disputar em Coimbra.
Para as águias, será a oportunidade de dar algum brilho a uma época de desilusões na UEFA e no campeonato, levantando o 27.º troféu enquanto para os minhotos abre-se o caminho para a terceira taça conquistada, após os sucessos de 1965/66 e de 2015/16.
Depois dos tropeções vividos nas restantes competições, é sobre os ombros da equipa de Jorge Jesus que recaem as maiores responsabilidades no Municipal de Coimbra, perante um Braga que, já nesta temporada, derrubou por duas vezes as águias, na Taça da Liga e na visita à Luz para o campeonato.
Antigo jogador dos dois finalistas da prova-rainha nacional, César Peixoto vê como divididas as possibilidades de sucesso de qualquer um dos contendentes, mas o agora treinador também não tem dúvidas de que a margem de erro é muito mais curta para as águias e que esse peso extra só pode ajudar os minhotos. "O Benfica está claramente mais pressionado nesta final. Surge mais moralizado porque tem vencido mais ultimamente e tem muitos jogadores experientes que podem capitalizar isso de forma positiva. Mas, se a ansiedade for canalizada de forma negativa, isso pode favorecer o Braga", analisa. O antigo jogador frisa que "este é um jogo onde tem de vir tudo cá para fora, em qualidade de futebol com e sem bola". "O Benfica não pode desperdiçar esta oportunidade, pois, então, será mesmo uma época completamente perdida. A equipa sabe que tem aqui a última possibilidade de ganhar um título e, de alguma maneira, limpar a imagem da época", acrescenta.
A final da Taça encontra, também, as equipas participantes em ciclos antagónicos no que a resultados e qualidade de jogo diz respeito. Se os bracarenses foram muitas vezes apontados como formação a praticar melhor futebol na Liga, agora acabaram a época a "esvaziar", com apenas um triunfo [Moreirense] nas derradeiras seis partidas. O contrário do Benfica, que após um início de ano negro terminou com 13 vitórias nos últimos 15 jogos, perdendo apenas uma vez, na Luz, com o Gil Vicente. Estes ciclos opostos podem pesar na cabeça dos jogadores, segundo César Peixoto. "O Braga não tem tido os mesmos níveis de qualidade quer com bola, quer sem ela. Houve muitas lesões, foi perdendo jogadores e isso afetou a equipa, cuja confiança não é tão forte neste momento. Olhando para o que foi a ponta final do campeonato, o Benfica está em termos anímicos, físicos e de confiança um passo à frente do Braga. O Benfica vem de uma segunda volta muito mais forte e em crescendo enquanto o Braga vem num ciclo contrário", justifica o técnico.
Surpreender na transição como arma de Carvalhal
E que podem fazer os bracarenses para travar um Benfica tão mais inspirado neste momento? Parte da resposta passa por aproveitar a lesão de Lucas Veríssimo. "O Braga pode aproveitar uma para transição surpreender o Benfica, que não está tão forte nesse aspeto. Carlos Carvalhal tem sido fiel à sua ideia de jogo e não se baseia muito na estratégia. Ele vai sempre tentar encontrar um ponto fraco do Benfica e o facto de não haver Lucas Veríssimo poderá ser um dos aspetos a explorar. Veríssimo é forte no jogo aéreo, nos duelos e rápido, e o Braga tentará jogar em posse, procurando aproveitar na transição defensiva os espaços entre linhas que possam surgir na retaguarda encarnada", afirma César Peixoto. O técnico sente que o regresso ao 4x4x2 é inevitável para Jesus amanhã: "Os três centrais deram maior robustez defensiva à equipa. Sem esse jogador [Lucas veríssimo], acredito que Jorge Jesus irá voltar ao 4x4x2, pois seria arriscado numa final colocar um jogador que não esteja rotinado com Otamendi e Vertonghen. O Benfica não estará tão forte defensivamente e o Braga irá procurar aproveitar-se disso."
Galeno e Weigl são motores afinados
Apesar de Abel Ruiz e Seferovic serem os goleadores de Braga e Benfica na caminhada até ao jogo de Coimbra, quem mais tem sido essencial nas duas equipas, segundo César Peixoto, são Galeno e Weigl. Presente em 49 dos 51 jogos dos minhotos até ao momento, Galeno é apontado mesmo como "elemento chave" de toda a estratégia de Carlos Carvalhal, sendo que "a sua quebra causou também uma queda no rendimento da equipa". "É um jogador que permite a Carvalhal defender e atacar em várias estruturas, dependendo do seu posicionamento em campo e é ele quem permite a estrutura híbrida do Braga, dando muita profundidade e imprevisibilidade. Quando está bem, o Braga também está e a equipa sobe uns furos", garante César Peixoto, que também elogia jogadores como "Iuri Medeiros, Ricardo Horta e Abel Ruiz".
Do lado do Benfica, a maior influência vem de Weigl, para lá dos golos de Seferovic. "Ele [Seferovic] acaba por ser o concretizador da equipa e tem feito um final de época fantástico. Mas a subida de rendimento de Weigl é que foi extremamente importante para a equipa do Benfica, pois resolveu muitos dos problemas a meio-campo e equilibrou a equipa, dando estabilidade ao coletivo", defende Peixoto.
Braga
A favor
.Motivação de poder ganhar a terceira Taça da história do clube
.Dupla vitória esta época sobre o Benfica, para a Liga, na Luz, e na Taça da Liga
.Chega à final com o melhor ataque da prova, com 20 golos apontados
Contra
.Quebra da forma física de atletas importantes
.Ausência de jogadores como David Carmo e Iuri Medeiros
.Só um triunfo nas últimas seis partidas do campeonato
Benfica
A favor
.Ciclo de 13 triunfos conseguidos nos derradeiros 15 jogos disputados
.Bom momento de Seferovic, que fez quatro golos nas últimas duas partidas
.Vitória sobre os minhotos na partida anterior, por 2-0 no campeonato
Contra
.Peso da ansiedade de "ter" de ganhar para apagar época negativa na Liga
.Lesão de Veríssimo força Jesus a mexer na defesa
.Menor fulgor de atletas como Rafa, Darwin e Waldschmidt