Braga e Benfica discutem pela primeira vez a Taça de Portugal. A história favorece Jesus, mas o passado recente sorri a Carlos Carvalhal.
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Ainda não é este ano que a Taça de Portugal encerra com a tradicional festa do futebol fora das quatro linhas: a pandemia de covid-19 desaconselha as multidões e, tal como no anterior, a final disputa-se à porta fechada.
Para seguir pela televisão, a partir de Coimbra, sobra uma discussão inédita do troféu, no quarto capítulo da temporada deste clássico em construção que é o Braga-Benfica, com os minhotos em vantagem, com duas vitórias e uma derrota.
A tradição joga a favor dos lisboetas. Jorge Jesus comanda o emblema que mais vezes festejou a conquista do troféu - 26 vitórias em 37 finais disputadas - e Carlos Carvalhal é o rosto do projeto desportivo mais ambicioso dos últimos anos, em Portugal, um Braga que tem conseguido alargar a quatro nomes a elite dos clubes grandes, sedento de títulos que deem expressão a esse crescimento que o Benfica tem sentido na pele.
A história dos três encontros que precedem esta final, no campeonato e na Taça da Liga, confirma isso mesmo e atira para a memória distante - embora seja menos de duas décadas - o tempo em que o Braga era visto como o clube de uma cidade benfiquista. A era de António Salvador sacudiu a história a favor dos da Pedreira, que na primeira volta venceram na Luz, por 3-2. A equipa da casa vivia, então, o segundo aperto da época (o primeiro fora a derrota com o PAOK, a riscar a Liga dos Campeões do calendário): depois de uma inesperada derrota no Bessa (3-0, primeira vitória axadrezada na Liga NOS, à sexta jornada) e de um empate caseiro (2-2) com o Rangers, na Liga Europa, foi atropelado pelo fulgor do Braga, inabalável, apesar do primeiro desaire europeu, em Leicester (4-0) que pôs termo a uma série de meia dúzia de vitórias, duas delas na Liga Europa. Nesse primeiro round, à sétima jornada, brilhou Francisco Moura, 21 anos, que Carvalhal lançara no flanco esquerdo. O jovem marcou os dois únicos golos de uma época que viria a ser interrompida poucos dias depois, de forma dramática: num treino, fez uma entorse no joelho esquerdo, com lesão do ligamento cruzado anterior; Iuri Medeiros, que abriu o marcador, viria a ter o mesmo destino.
O reencontro deu-se em campo neutro, Leiria, nas meias-finais da Taça da Liga, dessa vez com o Benfica abalado por um surto de covid-19. Privado de nove atletas, Jorge Jesus alterou o sistema tático e rendeu-se ao 3x4x3 que Carlos Carvalhal já implantara no Braga, mais rotinado a explorar a versatilidade de um esquema que se revelou um desafio para a defesa benfiquista, batida por Abel Ruiz e Tormena, com um golo vão de Pizzi pelo meio no caminho para a final que o Sporting viria a conquistar.
O Benfica só sorriu no terceiro capítulo, à 24.ª jornada, quando golos de Rafa e de Seferovic garantiram a vitória no assalto final ao terceiro lugar, conquistado na Pedreira, na quinta de uma série de sete vitórias da equipa de Jorge Jesus, que até ao final do campeonato apenas viria a perder com o Gil Vicente e a ceder um empate com o FC Porto. O Braga começava, então, a acusar o desgaste que marcou a fase final da época: empatou metade dos dez jogos seguintes, venceu três e perdeu dois. Acabou a ganhar fôlego para o capítulo histórico desta noite, que encontra de novo o Benfica atrapalhado na defesa, sem Lucas Veríssimo para a corrida à 27ª Taça de Portugal, terceira nas contas do Braga.
Águias ganham um calendário mais apertado em caso de vitória
O vencedor da Taça de Portugal terá na agenda a Supertaça, a 1 de agosto. O desafio que abre a nova temporada está marcado para o início de uma semana determinante para o Benfica, nas competições europeias. A 19 de julho, conhecerá o adversário da terceira eliminatória da Liga dos Campeões e entra em campo na ronda que se disputa nos dias 3 e 4 (segunda mão no dia 10, véspera da Supertaça Europeia). Se for a equipa de Jorge Jesus a vencer a final de Coimbra, a Federação Portuguesa de Futebol poderá antecipar a Supertaça. Quanto ao Braga, entra na fase de grupos da Liga Europa a 16 de setembro.