Os dois maiores emblemas da cidade do Porto encontram-se no Dragão para dar continuidade<br/> a uma rivalidade tão antiga como a República
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O Porto vai parar. O jogo mais especial da cidade tem esta tarde a sua 146.ª edição com um Boavista confortável na classificação, embora longe dos lugares cimeiros que durante tantos anos foi reclamando, a visitar a casa de um FC Porto a fazer as contas ao título, sabendo que não pode perder pontos para continuar a sonhar com a reviravolta histórica, além de ter o Braga à frente, ainda que com um jogo a mais. A pressão está toda do lado dos donos da casa, num duelo de vizinhos carregado de emoções e de uma rivalidade com mais de cem anos entre os dois maiores clubes da Invicta. Não faltam, por isso, peripécias e histórias em torno do dérbi portuense em que é normal os clubes fazerem das tripas coração para somar os três pontos.
O JOGO recorda seis delas, contadas na primeira pessoa por intervenientes dos dois lados, que vão desde finais dos anos 1970 até à atualidade. João Fonseca, histórico guarda-redes dos dragões, puxa a fita de uma das vitórias mais gordas do FC Porto no Bessa, levava Pinto da Costa uma curta presidência de um mês e rezam as crónicas que o resultado ao intervalo já provocava a ira das bancadas e a saída revoltada de Valentim Loureiro.
João Fonseca, guarda-redes
16 de Maio de 1982, 29ª jornada
Boavista-FC Porto 0-6
Golos: Jaime Pacheco, Frasco, Jacques (3) e Sousa
"Fomos apreensivos para o Bessa, era um rival aguerrido"
"Estávamos numa altura difícil, com mudanças internas, era um mês de presidência do Pinto da Costa. Ainda era uma fase pós-Pedroto, com Hermann Stessl. E sem o nosso Gomes, já no Gijón. A memória que tenho é que não estávamos confiantes. Mas, no campo, as coisas foram acontecendo, as bolas foram entrando e já havia um 5-0 ao intervalo. O Jacques fez três golos, é o ano dele de Bola de Prata. Esse jogo ficou muito marcado pela preocupação do impacto do resultado para o Madureira, era um miúdo de 19 anos. Já éramos amigos pela ligação a Matosinhos e ao Leixões. Era um dos primeiros jogos dele. Sei que o tive de confortar, explicar-lhe que tinha uma carreira pela frente e melhores jogos viriam. Foi um resultado com que ninguém contava, nós fomos apreensivos para o Bessa nesse dia, era um adversário aguerrido e sempre bem orientado."
O "25 de Abril" dos clubes
A "Revolução dos Cravos" devolveu a democracia e a liberdade ao país e marcou o arranque da cidade do Porto rumo ao estatuto de maior potência futebolística nacional. Não só o FC Porto multiplicou o número de títulos, como os nove troféus que o Boavista tem no palmarés foram todos conquistados depois do 25 de Abril. Começando com a Taça de Portugal de 1974/75, a primeira de cinco que foram parar ao Bessa. E três figuras históricas emergiram nessa fase: Pinto da Costa, já responsável pelo departamento de futebol portista, Valentim Loureiro, como líder das panteras, e um treinador que esteve nos dois bancos para revolucionar o futebol nacional, José Maria Pedroto.
Já nos anos 90, depois dos primeiros troféus europeus dos azuis e brancos, surgiu o "Boavistão" a somar duas Taças de Portugal e duas Supertaças, chegando ao inédito título de campeão já em 2000/01, fase em que a rivalidade entre tripeiros esteve nos píncaros. Isto pouco depois de, pela primeira vez na história do campeonato, as duas equipas da Invicta terem terminado nos dois postos cimeiros (1998/99). A cidade quase fez (de novo) história em 2003 quando ambas estiveram para se encontrar na final da Taça UEFA. O Celtic, porém, afastou o Boavista nas meias-finais e impediu a festa total.
Por causa do "Apito Dourado", o Boavista viria a descer de divisão (2008/09) o que, aliado a uma grave crise financeira, o levou a andar pelos escalões secundários até 2014, altura em que o dérbi da Invicta voltaria a encher os estádios da cidade.
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