Os dois maiores emblemas da cidade do Porto encontram-se no Dragão para dar continuidade a uma rivalidade tão antiga como a República
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O Porto vai parar. O jogo mais especial da cidade tem esta tarde a sua 146.ª edição com um Boavista confortável na classificação, embora longe dos lugares cimeiros que durante tantos anos foi reclamando, a visitar a casa de um FC Porto a fazer as contas ao título, sabendo que não pode perder pontos para continuar a sonhar com a reviravolta histórica, além de ter o Braga à frente, ainda que com um jogo a mais. A pressão está toda do lado dos donos da casa, num duelo de vizinhos carregado de emoções e de uma rivalidade com mais de cem anos entre os dois maiores clubes da Invicta. Não faltam, por isso, peripécias e histórias em torno do dérbi portuense em que é normal os clubes fazerem das tripas coração para somar os três pontos.
O JOGO recorda seis delas, contadas na primeira pessoa por intervenientes dos dois lados, que vão desde finais dos anos 1970 até à atualidade. João Fonseca, histórico guarda-redes dos dragões, puxa a fita de uma das vitórias mais gordas do FC Porto no Bessa, levava Pinto da Costa uma curta presidência de um mês e rezam as crónicas que o resultado ao intervalo já provocava a ira das bancadas e a saída revoltada de Valentim Loureiro.
Ricky, avançado
24 de maio de 1992, final da Taça de Portugal
Boavista-FC Porto 2-1
Golos: Marlon Brandão, Ricky; Jaime Magalhães
"Até apareço numa foto de cuecas no balneário"
"O FC Porto tinha uma equipa melhor do que a do Boavista, mas a nossa estava bem montada e psicologicamente era muito forte. Não tínhamos nada a perder e fizemos um grande jogo. O Manuel José trabalhou bem a equipa e disse para jogarmos sem medo, além de que tínhamos grandes jogadores, como o João Vieira Pinto, Marlon Brandão, Rui Casaca, Samuel, Paulo Sousa, Tavares, Alfredo e muitos outros. Era uma equipa muito equilibrada. Aproveitei uma bola que bateu no Aloísio e marquei ao Vítor Baía. Naquela altura, o FC Porto tinha uma equipa quase imbatível, o que valorizou ainda mais a nossa vitória.
No final do jogo, os fotógrafos estavam no nosso balneário e eu lembro-me que até apareço numa foto de cuecas. Eu estava no meu cantinho e os jogadores começaram a atirar água para cima do major Valentim Loureiro. Era um grande presidente, que cumpria com aquilo que prometia."
O "25 de Abril" dos clubes
A "Revolução dos Cravos" devolveu a democracia e a liberdade ao país e marcou o arranque da cidade do Porto rumo ao estatuto de maior potência futebolística nacional. Não só o FC Porto multiplicou o número de títulos, como os nove troféus que o Boavista tem no palmarés foram todos conquistados depois do 25 de Abril. Começando com a Taça de Portugal de 1974/75, a primeira de cinco que foram parar ao Bessa. E três figuras históricas emergiram nessa fase: Pinto da Costa, já responsável pelo departamento de futebol portista, Valentim Loureiro, como líder das panteras, e um treinador que esteve nos dois bancos para revolucionar o futebol nacional, José Maria Pedroto.
Já nos anos 90, depois dos primeiros troféus europeus dos azuis e brancos, surgiu o "Boavistão" a somar duas Taças de Portugal e duas Supertaças, chegando ao inédito título de campeão já em 2000/01, fase em que a rivalidade entre tripeiros esteve nos píncaros. Isto pouco depois de, pela primeira vez na história do campeonato, as duas equipas da Invicta terem terminado nos dois postos cimeiros (1998/99). A cidade quase fez (de novo) história em 2003 quando ambas estiveram para se encontrar na final da Taça UEFA. O Celtic, porém, afastou o Boavista nas meias-finais e impediu a festa total.
Por causa do "Apito Dourado", o Boavista viria a descer de divisão (2008/09) o que, aliado a uma grave crise financeira, o levou a andar pelos escalões secundários até 2014, altura em que o dérbi da Invicta voltaria a encher os estádios da cidade.
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