Zé Carlos e memórias do FC Porto-Boavista: "Eu e o Emerson tínhamos combinado um churrasco"
Os dois maiores emblemas da cidade do Porto encontram-se no Dragão para dar continuidade a uma rivalidade tão antiga como a República
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O Porto vai parar. O jogo mais especial da cidade tem esta tarde a sua 146.ª edição com um Boavista confortável na classificação, embora longe dos lugares cimeiros que durante tantos anos foi reclamando, a visitar a casa de um FC Porto a fazer as contas ao título, sabendo que não pode perder pontos para continuar a sonhar com a reviravolta histórica, além de ter o Braga à frente, ainda que com um jogo a mais. A pressão está toda do lado dos donos da casa, num duelo de vizinhos carregado de emoções e de uma rivalidade com mais de cem anos entre os dois maiores clubes da Invicta. Não faltam, por isso, peripécias e histórias em torno do dérbi portuense em que é normal os clubes fazerem das tripas coração para somar os três pontos.
O JOGO recorda seis delas, contadas na primeira pessoa por intervenientes dos dois lados, que vão desde finais dos anos 1970 até à atualidade. João Fonseca, histórico guarda-redes dos dragões, puxa a fita de uma das vitórias mais gordas do FC Porto no Bessa, levava Pinto da Costa uma curta presidência de um mês e rezam as crónicas que o resultado ao intervalo já provocava a ira das bancadas e a saída revoltada de Valentim Loureiro.
Zé Carlos, central
30 de dezembro de 1993, 14ª jornada
Boavista-FC Porto 1-1
Golos: Sánchez; Kostadinov
"Eu e o Emerson tínhamos combinado um churrasco"
"Esse jogo foi terrível para mim. Lembro -me especialmente bem do contexto porque eu e o Emerson estávamos sempre juntos e tínhamos combinado fazer uma churrasco nessa noite. Mas, infelizmente, deu-se um jogo confuso que não acabou bem. Fui expulso e cancelei esse evento. Eu estava a ter uma grande oportunidade de jogar, porque não era escolha inicial nessa fase, mas acabei por ser expulso, prejudiquei a equipa e prejudiquei-me muito. Mas já havia marcado na época anterior ao Boavista, no Estádio das Antas. Como sempre morei perto do Bessa, tinha muitos amigos do lado do Boavista e, para mim, era sempre um jogo muito especial, pois metia rivalidade e admiração pelo adversário."
O "25 de Abril" dos clubes
A "Revolução dos Cravos" devolveu a democracia e a liberdade ao país e marcou o arranque da cidade do Porto rumo ao estatuto de maior potência futebolística nacional. Não só o FC Porto multiplicou o número de títulos, como os nove troféus que o Boavista tem no palmarés foram todos conquistados depois do 25 de Abril. Começando com a Taça de Portugal de 1974/75, a primeira de cinco que foram parar ao Bessa. E três figuras históricas emergiram nessa fase: Pinto da Costa, já responsável pelo departamento de futebol portista, Valentim Loureiro, como líder das panteras, e um treinador que esteve nos dois bancos para revolucionar o futebol nacional, José Maria Pedroto.
Já nos anos 90, depois dos primeiros troféus europeus dos azuis e brancos, surgiu o "Boavistão" a somar duas Taças de Portugal e duas Supertaças, chegando ao inédito título de campeão já em 2000/01, fase em que a rivalidade entre tripeiros esteve nos píncaros. Isto pouco depois de, pela primeira vez na história do campeonato, as duas equipas da Invicta terem terminado nos dois postos cimeiros (1998/99). A cidade quase fez (de novo) história em 2003 quando ambas estiveram para se encontrar na final da Taça UEFA. O Celtic, porém, afastou o Boavista nas meias-finais e impediu a festa total.
Por causa do "Apito Dourado", o Boavista viria a descer de divisão (2008/09) o que, aliado a uma grave crise financeira, o levou a andar pelos escalões secundários até 2014, altura em que o dérbi da Invicta voltaria a encher os estádios da cidade.
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