ENTREVISTA (Parte 1) - Com um passado carregado de sportinguismo, Augusto Inácio mostra-se disponível para regressar ao Sporting como dirigente. Deixa um apelo para que terminem as divisões em torno do clube.
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Augusto Inácio é, acima de tudo, treinador - acabou recentemente uma experiência profissional ao serviço dos brasileiros do Avaí, da qual diz "não se arrepender" -, mas tem um passado recente como dirigente do Sporting, ao lado do ex-presidente Bruno de Carvalho, e, como "sportinguista assumido", não perde o emblema de Alvalade de vista.
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Crítico do estado em que o clube está, o antigo diretor-geral durante dois anos - entre 2013 e 2015, regressando mais tarde em 2018 num momento em que Bruno de Carvalho estava numa fase de declínio, após o ataque à Academia -, através de O JOGO, mostra-se desiludido com o atual presidente e o trabalho por este apresentando, questionando a gestão feita em termos desportivos.
Frederico Varandas tem sido o presidente que esperava?
- É uma boa pergunta.
Claro que depende do que esperava.
- Sim, de facto. Olhe o que esperava é que o Sporting estivesse a lutar pelo título, que estivesse mais unido, que não tivesse tantas fraturas. Que a gestão fosse diferente. Esperava muito mais e melhor. Não estava à espera do que aconteceu, este conflito, com as claques. O Sporting está muito instável, porque internamente podiam ser mais humildes e fortes nos desafios que precisavam.
Está disponível para voltar ao Sporting como dirigente?
- A questão não é essa... o Sporting não está em eleições. O presidente foi eleito e o Sporting está a passar por uma fase em que todos desconfiam de todos. Há a guerra das claques, sportinguistas estão divididos. Frederico Varandas apresentou-se para unir, quanto mais candidatos mais divisões se vê. O fiel da balança são sempre os sócios. É natural que haja contestação, resultados não aparecem, ambições não correspondem. As pessoas não acreditam. O Sporting tem de acabar com as divisões, mas tem de haver vozes críticas. Tem de haver humildade com os sinais que vêm de fora para dentro. Não dar ouvidos para o que vem de fora mostra uma arrogância e prepotência muito grande.
Mas está disponível?
- Depende do momento, se estou a trabalhar ou não. Estou atento, oiço, vejo comentários, recebo chamadas, não conto tudo o que me dizem. É verdade que tenho dito sempre que sim quando o Sporting me chama. Quando isso acontece, toca-me alguma coisa cá dentro. Se puder ajudar, claro que estou disponível.
"Não sou hipócrita, nem mentiroso. Sou amigo de Bruno de Carvalho. Não quero saber do presidente, sou amigo da pessoa"
Tem saudades do Sporting de Bruno de Carvalho?
-Estive lá dois anos e senti o clube a crescer muito no futebol e nas modalidades amadoras. Senti uma afronta muito grande aos poderes instalados. Trouxe ideias para discutir no futebol português, como a questão do VAR. Senti uma cultura de exigência muito grande de todos, senti um Sporting a crescer. Esteve muito perto de ganhar o primeiro campeonato com Jorge Jesus [2015/16], para mim ganhar mesmo, foi roubado! Depois, o segundo ano não correu bem...
Mantém ligação com Bruno de Carvalho?
-Não sou hipócrita, nem mentiroso. A mim ninguém me escolhe as amizades. Sou amigo de Bruno de Carvalho. Não quero saber do presidente, sou amigo da pessoa. Não sou de pessoas, sou do Sporting. Falei com ele uma ou outra vez, dei-lhe os parabéns no aniversário e ele a mim....
"QUISERAM MATAR BRUNO DE CARVALHO"
Condenando os acontecimentos de Alcochete, concretamente a invasão à Academia a 15 de maio de 2018, Augusto Inácio entende que a história "nunca foi bem contada", defendendo que "quiseram matar Bruno de Carvalho". "Foi uma vergonha o que aconteceu em Alcochete. Acho que a verdadeira história não está contada. Até pelos testemunhos que têm aparecido [em julgamento], quiseram matar o Bruno de Carvalho. Era o chefe do Daesh, que mandou fazer tudo, e os testemunhos não têm dito isso. Houve um aproveitamento para o derrubar mais depressa. As histórias estão todas muito mal contadas, primeiro quiseram destroná-lo, agora, depois dos testemunhos veremos... Acho que foi uma golpada", disse, considerando que o ex-presidente tem legitimidade em querer voltar ao Sporting: "Voltar? Depende dele, se foi derrubado ilegitimamente, é legítimo que pense em voltar!"
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