<strong>ENTREVISTA (Parte 3)</strong> - Para Augusto Inácio, os problemas das equipas portuguesas nas provas da UEFA resultam da ausência de "exigência"
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Olhando para este Sporting, sente que há o sério risco de o clube não se qualificar para as competições europeias da próxima época?
Em todo o mundo pode-se treinar com o FIFAPro, mas em Portugal isso não chega
- Não. O terceiro lugar dá entrada à fase de grupos da Liga Europa, o quarto terá de fazer o play-off e o quinto duas eliminatórias. Isso é o que temo, que o Sporting não fique em terceiro lugar. A preparação é diferente e se não ficar nesse posto vai baquear no que deve ser uma boa preparação da próxima época. Tenho dúvidas que consiga. Braga está muito mais forte. Depois, vejo V. Guimarães e Rio Ave perto, mais me arrepia e custa. A eliminação com o Basaksehir vai ser uma cacetada. Aquilo ainda mexia com alguma coisa... Não sei que força vai ter. Agora é o brio profissional e o caráter que está em causa. Os adeptos contestam tudo e todos, vai chegar aos jogadores.
O que está a falhar às equipas portuguesas nas provas europeias?
- O problema não são os treinadores, mas as equipas. Os treinadores fazem milagres se as equipas não têm qualidade nos atletas. Na primeira fase disfarças, mas depois... vê-se. O Bayer Leverkusen era campeão em Portugal. Jogam sempre contra boas equipas. O Benfica apanhou uma grande equipa, comete dois ou três erros e sofre outros tantos golos, aqui cometem os mesmos, mas as equipas não têm a mesma qualidade. Os jogadores precisam de condições difíceis para renderem. Falta andamento ao nosso campeonato, pela falta de qualidade dos jogadores. O dinheiro tem muita influência. Ópera é no teatro de São Carlos. Acho que há três campeonatos em Portugal. O que é para ser campeão, para o terceiro lugar e Liga Europa, e o campeonato para quem não desce de divisão.
Mas o campeonato ucraniano e escocês têm andamento?
- Com todo o respeito, o Hearts dá mais trabalho ao Rangers que o Santa Clara ou Aves dariam. Por exemplo, o Braga podia ter eliminado o Rangers, mas acharam o jogo fácil de mais. Mas as equipas escocesas e inglesas já jogam em contra-ataque, não como antigamente. As coisas também mudaram taticamente.
As equipas grandes têm de ser humildes, só sabem atacar em Portugal
As equipas portuguesas estão a ser vítimas de uma visão e abordagem estratégica daquilo que são as exigências das competições europeias?
- As equipas grandes têm de ser humildes, só sabem atacar em Portugal. Não podem ouvir o que os adeptos querem, às vezes é preciso ser humilde e colocar o travão. Há 90 minutos para ganhar. Foi o caso do Benfica e esquecem-se de recolher e ser pequenas. O defender não quer dizer ser defensivo. Depois caímos no erro de não recolhermos as nossas zonas e esperar. Vou marcar logo à frente e tal, certo, mas tem os riscos... O Sporting, por exemplo, perdeu com uma equipa muito vulgar. Estavam cheios de medo daquele jogo, os jogadores não seguravam a bola, sem ratice. Não tiveram classe nenhuma. Mas há outra coisa.... a calendarização do futebol português também não é a melhor. É muito mal feita. A Taça da Liga faz falta, mas não no mês em que é. As paragens são muito longas e depois há muitos jogos seguidos.
Silas e Rúben Amorim não têm as mesmas habilitações de Augusto Inácio para treinar e comandam duas das principais equipas nacionais [Sporting e Braga, respetivamente], isso incomoda-o?
- A legislação está mal feita. Em todo o mundo pode-se treinar com o FIFAPro, mas em Portugal isso não chega, é preciso o diploma do IPDJ. Mas isso não é preciso para treinar no Brasil e na China. Mas porquê? Faz algum sentido? As pessoas precisam de tempo para tirar o curso. Não me aflige. Mas se a lei é esta, temos de cumprir a lei.
Mas na classe houve críticas...
- Compreendo, as pessoas muitas vezes andam na luta anos e anos... e não conseguem ser treinadores. Sou mais moderado.
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