"Estamos na Assembleia da República de um país que começa com um filho a bater na mãe"
Presidente do Sporting é uma das presenças na Conferência "Violência no Desporto", que decorre esta terça-feira na Assembleia da República.
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Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, é uma das presenças na Conferência "Violência no Desporto", que decorre esta terça-feira na Assembleia da República. O líder leonino voltou a pedir o direito à palavra, desta feita para contestar as ideias gerais defendidas pelas representantes da GNR e PSP.
"Não nos podemos esquecer que estamos na Assembleia da República de um país que começa com um filho a bater na mãe, portanto, nós somos uma contradição desde o início que nos formámos. Não é só no futebol que há contradições, temos de viver com aquilo que somos. Temos de nos habituar ao que somos e viver da melhor forma", disse antes de centrar-se no que acabara de ouvir nas intervenções.
"O que eu não percebo e gostava de entender por parte das autoridades é o seguinte: vivemos num país democrático, de direito. Não percebo por que na primeira intervenção foi pedido para que se deixasse a justiça trabalhar e falasse menos dela. Fico contente porque tenho "n" processos anónimos que estão no Ministério Público e que têm o interesse relativo que têm - e é zero, a não ser que haja o indício de alguma coisa. Mas fico um bocado preocupado quando vejo que algumas autoridades têm um jornal diário quase como relações públicas, o Correio da Manhã, em que os seus jornalistas quase sempre chegam aos acidentes antes de chegar a polícia e para o qual não há segredo de justiça. Sabemos todos de onde vêm essas falhas, por isso poderíamos deixar todos de falar se não houvesse logo esse mau princípio das próprias autoridades", afirmou, continuando sem se deter e com óbvias referências ao Benfica.
"Depois, fiquei contente por saber que o Ministério Público quer estar cada vez mais perto da realidade desportiva, para que o futebol não seja um subsistema dentro do sistema. Em vez de falar em números e coisas abstratas, vou falar de coisas concretas: há uma investigação que demorou quase um ano, séria, que teve por base disputas legais. Na audição de comandantes da polícia, na qual foi verificado claramente o apoio de um clube a uma claque ilegal e o que aconteceu... Foi aqui dito que a entrada de artefactos pirotécnicos era um crime e uma das coisas que estava nesse processo era um comandante da polícia a dizer que foi-lhe dito pelo presidente desse próprio clube para entrarem artefactos pirotécnicos para se mostrar que aquilo era um inferno, e a verdade é que foi arquivado. Não percebo onde é que funciona aí a justiça e como é que vocês querem falar em violência no desporto", acrescentou.
Para terminar, gostava de dizer que nós temos tarjas em campos de futebol e em pavilhões - em que a desculpa dada pelo clube é que a polícia não as foi retirar - e estamos a falar de tarjas como "Foi no Jamor que o lagarto ardeu, foi o very-light"... não vou dizer o resto. O presidente desse clube a dizer que não pode fazer nada porque foi a própria polícia que disse que a intervenção não podia ser feita... Temos situações em que um adepto é morto e logo de seguida aquilo que é dito é o que é que estava o adepto ali a fazer. Temos situações de tochas enviadas para cima de crianças e idosos num jogo...", apontou Bruno de Carvalho em jeito de conclusão.