António Miguel Cardoso, candidato pela Lista A à presidência do Vitória de Guimarães, deu uma entrevista a O JOGO.
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De volta à carga em contexto de eleições, António Miguel Cardoso, o líder da Lista A, aposta num triunfo categórico. O empresário de 45 anos, licenciado em marketing e gestão, garante que não dará carta branca absoluta ao futuro homem forte do futebol profissional e colocará um ponto final no "abandono" a que diz estar votada a equipa comandada por Pepa.
Foi o segundo nome mais votado nas eleições de julho de 2020 (31%), atrás de Miguel Pinto Lisboa. O que o leva a pensar que poderá vencer neste próximo sufrágio?
A atual direção está a gerir o Vitória de uma forma muito negativa. Quem me dera não ter a necessidade de me candidatar outra vez. O meu objetivo e da minha equipa não é ir para lá simplesmente porque sim. Vamos porque esta direção é muito errática e, por isso, senti a necessidade de alterar o rumo do clube.
Confirmando-se a sua eleição, que medidas imediatas tomará?
Vamos falar com os recursos humanos do clube e tentar motivá-los. Há que alterar a comunicação e a cultura do clube. Não perderemos tempo obviamente em falar com a equipa principal. Eles precisam de motivação. Sinto a equipa técnica e os jogadores muito abandonados. Vamos passar-lhes confiança de modo a ainda podermos garantir o apuramento para uma prova europeia.
Por que razão saiu praticamente de cena enquanto durou o mandato de Miguel Pinto Lisboa, sendo pouco interventivo?
Sou uma pessoa democrática e entendi que deveria dar liberdade aos outros para trabalharem. Aliás, disse mesmo que não seria oposição. Fui a todas as assembleias do clube e da SAD, estive em todas, e até dei entrevistas no fim de cada época, dizendo o que eu achava. Aliás, no fim da primeira época de Pinto Lisboa, até falei a uma rádio local de Carlos Freitas (antigo diretor geral). E essa entrevista não perdeu atualidade, nessa altura eu já previa o que acabou por acontecer. No final da segunda época, fiz o mesmo. Estive sempre em cima, mas não criei guerrilhas, nem andei nas redes sociais. Quem me dera que não tivesse de me candidatar, mas percebi que teria de ser outra vez voz ativa. Se eu ganhar as eleições, também espero paz. E voltarei a tomar a mesma atitude se Pinto Lisboa ou Alex Costa ganharem.
Carlos Freitas foi um trunfo determinante para Miguel Pinto Lisboa nas anteriores eleições?
O problema do Vitória foi o presidente ter dado carta branca a Carlos Freitas e depois nunca se responsabilizou de nada. Não tem capacidade de comunicação, seja onde for. Comunica essencialmente através de comunicados. No caso do Marega, por exemplo, fomos massacrados pela comunicação social e, quando saiu a sentença desse caso, ilibando o Vitória, ele devia ter-se pronunciado sobre esse massacre, defendendo o clube. Só que não consegue fazer nada. Já em relação a Carlos Freitas, é claro que as coisas correram mal. Ele veio para o clube para gerir o clube e contratar jogadores a partir de Lisboa, sem nunca ter entrado no balneário da equipa. Não acompanhava os treinos, fazia o que queria e, de repente, arranjou-se uma doença para sair um bocadinho na diagonal, sem ninguém falar sobre o caso. Um presidente a sério teria de explicar publicamente que saiu porque tinha corrida mal, mas não.
Que autonomia terá Diogo Boa Alma (ex-Santa Clara) na qualidade de diretor-desportivo do Vitória?
Não podemos ter um diretor desportivo com carta branca para tomar todas as decisões, nem um presidente que depois não se responsabiliza de nada quando as coisas correm mal. Não se pode trocar consecutivamente de diretores para que a direção nunca seja responsabilizada. Não nos revemos nessa situação. Diogo Boa Alma vai ajudar-nos a assegurar jogadores em fim de contrato e a estabelecer parcerias. Vai detetar talentos e estar sempre ao lado da equipa técnica e dos jogadores, criando consensos e transmitindo equilíbrio. Tudo isso para que o espírito da equipa seja muito forte nos dias dos jogos. Já na formação e no scouting, há muita gente e muitos departamentos. Falta, no entanto, uma liderança porque as pessoas estão muito perdidas. Vamos entrar e mudar processos.
O seu programa eleitoral prevê a redução do orçamento do futebol profissional (o atual ronda 20 milhões de euros) e do número de jogadores profissionais. Como é que menos pode dar mais?
Não pensamos em encurtar o plantel da equipa principal. Temos é que perceber se é possível, dentro do contrato que o Vitória tem com a FPF, extinguir a equipa de sub-23. Só isso já implicaria uma redução de custos ao nível de treinadores, equipa médica e jogadores. Isso não significará a dispensa total dos jogadores. Poderemos optar por uma política de empréstimos na perspetiva de que depois voltem mais preparados. O campeonato dos sub-23 não tem grande dinâmica, não faz com que os jogadores cresçam. Já o orçamento atual é desajustado em relação às contas do clube. Temos excesso de despesa que tem de ser retificado. Como é que isso se fará? Tendo menos jogadores e com salários mais baixos, mas isso não fará com que o Vitória passe a ter resultados inferiores. Nos últimos anos, os orçamentos têm sido altíssimos e, ainda assim, o Vitória tem ficado atrás de Gil Vicente, Rio Ave e Santa Clara... Tem de haver mais critério na política de contratações e no planeamento da equipa. A minha equipa já está a pensar na próxima época, sinalizando jogadores em fim de contrato e estabelecendo parcerias com clubes estrangeiros de modo a partilharmos passes. O plantel tem de ser bem estruturado de modo a que os resultados possam ser muito melhores, e com um orçamento inferior.
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O Braga, que é o principal rival do Vitória e tem estado regularmente por cima na classificação, terá um orçamento superior a 20 milhões...
O Vitória tem de se refundar, estruturando um novo plano de negócios. Só depois poderá crescer. Terá de fazê-lo a partir de outro tipo de suporte, com outra cultura, apostando muito mais na formação. Não deve virar-se para a formação somente quando não há opções, deve fazer essa aposta de uma forma consistente. Quando o Vitória estiver equilibrado em termos financeiros, poderá então dar um salto superior ao do Braga. É que este clube já é muito superior ao Braga em número de adeptos, sócios e até em garra. Temos que pensar em nós, ajustar e, por fim, crescer.
A aposta em Pepa é para manter?
A equipa técnica e os jogadores estão muito isolados. Não estão suportados pela direção do clube. Não estão ao lado da equipa técnica nos momentos mais difíceis, ajudando-os, por exemplo, ao nível da comunicação para o exterior... Achamos que podemos fazer muito melhor. A direção deve estar presente em todos os momentos.
Depois da venda de Edwards, resta Estupiñán no plantel como jogador mais influente e está em fim de contrato. Dá-o como perdido no termo da época?
Processo eleitoral à parte, o Vitória deve renovar com o Estupiñán. Se a minha lista ganhar, a partir do dia 5 de março, tratarei de saber se ainda há possibilidades de o segurar na equipa. Vamos ver. Depois de ter estado muito tempo na equipa B, e sem sentido nenhum porque se tratava de um ativo perdido, agora está numa boa fase e nós vamos tentar perceber se poderemos renovar-lhe o contrato.
Ainda é agente de atletas?
Tenho uma série de empresas e de projetos profissionais. Como gosto muito de desporto, em tempos fui, de facto, agente de atletas, mas foi sempre um part-time. Ajudou-me a conhecer melhor o mundo do futebol, mas sempre disse que no dia em que me tornasse presidente do Vitória abdicaria dessa atividade. A verdade é que nesta altura não sou agente de atletas. De resto, podem ter a certeza de que a minha vida será dedicada ao Vitória caso vença as eleições.
Esteve envolvido na transferência de algum jogador conhecido?
Acho que isso agora não interessa.
O desempenho dessa atividade é uma mais-valia para quem tenciona assumir a presidência de um clube?
Claro que sim. Ganhei experiência na elaboração de contratos e até na comunicação.
A transferência de Edwards para o Sporting foi um bom negócio?
Fiquei chocado com a transferência do Edwards, apesar de ter sido uma operação normal. Os valores pareceram-me normais, mas não me pareceu razoável a cedência do Plata. Está emprestado ao Valladolid e se esse clube acionar a opção de compra, fixada em 10 milhões de euros, já não virá para o Vitória. Como alternativa, o clube terá então direito a outro ativo do Sporting avaliado em três milhões e isso não faz qualquer sentido. Deveria ter sido negociado antes isto: se o Valladolid acionasse a opção do Plata, três milhões, em dinheiro, deveriam ser transferidos para o Vitória. É muito importante termos a capacidade de argumentar bem, de modo a proteger o nosso clube.
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Como se cresce vitoriano tendo nascido no Porto e vivido desde sempre na mesma cidade?
O meu pai é natural de Guimarães e vitoriano, daí que desde muito jovem comecei a acompanhar o Vitória para todo o lado. Foi uma paixão natural. Na infância, tinha guerras quase diárias com os meus amigos por causa desse vitorianismo. Até ia muitas vezes para a escola com o cachecol do Vitória e eles não entendiam. Só falavam do FC Porto e do Boavista. Tudo isso deu-me resiliência. Teria sido mais fácil tornar-me portista, mas nunca foi opção para mim e ainda bem. De qualquer modo, é mais difícil ser-se vitoriano nesta cidade ou noutra qualquer do que vivendo em Guimarães.
É verdade que tem paixão pelo ténis?
Sim e representei a Seleção Nacional nos escalões de sub-12, sub-14 e sub-16. Sou campeão nacional em veteranos pelo Ténis da Foz e também joguei futebol distrital no Futebol Clube Foz. Joguei ainda futebol universitário em Miami, para onde fui à conta de uma bolsa de estudo. Faço maratonas. Enfim, pratico desporto pelo menos três vezes por semana.