"A polícia e o pessoal do condomínio chateavam-me, mas ninguém me impedia de ver o Vitória"
António Miguel Cardoso, candidato pela Lista A à presidência do Vitória de Guimarães, deu uma entrevista a O JOGO.
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Sempre vai agir judicialmente contra os membros da lista de Miguel Pinto Lisboa por terem sido detetadas centenas de assinaturas falsas na lista C?
Já fizemos isso. Avançámos com uma queixa-crime.
Acha que esse episódio pode jogar a seu favor?
Foi um episódio péssimo para o clube. Agimos judicialmente porque entendemos que isso devia ser feito, não se tratou de uma estratégia eleitoral.
E os maus resultados da equipa principal beneficiam-no?
Há três anos, quando me candidatei pela primeira vez, percebi que existiam processos nublosos para o Vitória perder o controlo do SAD e falei sempre na blindagem dos estatutos. Fomos nós que obrigámos a atual direção a fazer essa blindagem. Foi um processo ganho por nós. Desta vez, quem nos dera a nós, que o Vitória estivesse bem e que não tivéssemos a necessidade de avançar com outra candidatura. Eu quero é que a equipa ganhe jogos e ainda se apure para a Europa. Isso é o mais importante para o clube. Os sócios não vão tomar decisões em função de vitórias e de derrotas. Eles conhecem bem o panorama atual do clube em termos desportivos, a nível financeiro e na comunicação. As coisas estão muito más. É importante que o Vitória ganhe, mas os sócios sabem o que se passa no clube.
Rotulou de "excessivamente otimistas" o plano de recuperação apresentado por Miguel Pinto Lisboa e o empréstimo obrigacionista, de cerca de 15 ou 20 milões de euros, projetado pela lista encabeçada por Alex Costa. Que plano entende ser o mais adequado para o Vitória?
Critiquei-os e mantenho o que disse. O próprio Alex Costa até já disse que esse empréstimo obrigacionista só poderia ser feito num segundo mandato. E também fiquei muito preocupado quando ele disse que avançaria para um aumento do capital da SAD, de cinco para 20 milhões de euros, o que significaria que o clube teria de entrar com 7,5 milhões. Onde é que o clube arranjaria esse dinheiro, além de não existir um parceiro para avançar com o resto do dinheiro? Ou seja, o Vitória teria de penhorar o seu estádio e terrenos. O que eu defendo é a restruturação total do clube em termos de despesas. Temos que diminuir o número de recursos humanos e não me refiro aos funcionários que estão no clube há muitos anos. O Vitória tem excesso de funcionários e alguns com salários muito elevados que não se praticam em grandes empresas em Portugal. Há que cortar também nos salários dos jogadores. Por outro lado, teremos uma almofada financeira que evitaremos utilizá-la. Queremos fazer cortes, alterando a estratégia do clube... No entanto, sabemos que se calhar teremos mesmo de utilizar essa almofada porque o Vitória tem de fazer inscrições na UEFA e compromissos com vários fornecedores. É de um valor substancial e bastante superior aos cinco milhões que o Alex Costa diz ter.
Essa almofada financeira será obtida de que forma?
Virá de um fundo internacional, mas o ideal é que não seja usada. Trata-se de um financiamento, de um empréstimo, com um custo reduzido, e que consistirá no adiamento de receitas futuras de publicidade, etc.
Continua a defender um Vitória maioritário na SAD ou admite a venda de ações a futuros investidores?
Já pensava dessa forma há três anos, quando me candidatei pela primeira vez. O Vitória tinha de controlar a SAD e continuo a defender isso. O clube é inalienável e tem de esgotar os seus recursos, especialmente na formação. Só assim pode crescer. É um ponto assente nos meus desígnios.
Consegue apontar algum presidente do Vitória que seja uma referência para si?
As minhas referências são o Paulinho Cascavel, o Ademir e o N"Dinga. Sinceramente, nunca me identifiquei com nenhum presidente.
Aproxima-se mais de Miguel Pinto Lisboa ou de Alex Costa nas ideias que cada um defende?
De ninguém. São candidaturas do sistema, com pessoas que já lá estão há muitos anos. Provavelmente chatearam-se e transformaram-se em duas listas. O Vitória vive nesta altura num ambiente muito tóxico. Dou-lhe um exemplo disso: quando a equipa perdeu em casa com o Arouca, os adeptos tentaram manifestar-se e elevaram o som da música para não serem ouvidos. É muito fácil perceber quem são essas pessoas que lá estão há muitos anos. Não me revejo por exemplo minimamente na lista B e na lista C. As pessoas que me acompanham são grandes vitorianos e que são independentes, com currículos invejáveis a nível profissional. Têm apenas o objetivo de fazer crescer o Vitória, ao nível dos seus adeptos.
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Apesar de apostar na formação, não fala na construção de uma nova academia. Entende que as instalações da atual serve perfeitamente as necessidades desse setor?
Claro que não. Temos a intenção de negociar com a Câmara Municipal a cedência de terrenos para a edificação de uma academia com condições para o desporto de alta competição, fora de Guimarães, numa zona protegida. O complexo atual irá destinar-se preferencialmente para a formação enquanto a futura academia servirá o desporto de alta competição. Só que não podemos prometer isso já nos próximos três anos.
Tendo definido a II Liga como um dos campos de recrutamento preferenciais para o futuro, consegue apontar nesta altura alguns jogadores apetecíveis dessa divisão?
Há bons jogadores na II Liga e na III Liga, assim como também há no mercado brasileiro. Aliás, nesta altura até já temos jogadores referenciados na I Liga, desde que estejam em fim de contrato. Estamos atentos a vários mercados. Esses jogadores têm é de sentir uma nova liderança, um novo paradigma. Qualquer jogador ambiciona representar o Vitória, cabe-nos é identificar o que é preciso para a próxima época. É o que já estamos a fazer, mas não vou falar em nomes. Não quero desestabilizar o atual plantel, nem alertar a concorrência.
Que clubes podem ser modelos para o Vitória?
Identificamo-nos muito com o Atalanta. Tem um orçamento inferior a vários clubes poderosos em Itália, mas tem um grande treinador e segue uma política de contratações muito rigorosa. Fazem ainda outra coisa gira: em Bérgamo, disponibilizam logo para cada bebé um kit de sócio. O Atlético de Bilbau é outro clube que tem muito a ver com o Vitória, mas há mais. Tanto podem servir de inspiração para nós como nós podemos ser uma referência para esses mesmos clubes.
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Que rumo dará às modalidades?
Há muito ecletismo na minha equipa. Queremos que o Vitória se faça representar em cada modalidade ao mais alto nível. A formação será uma base importante e apostaremos numa área de marketing comum, de modo a angariarmos sponsors de forma coletiva. Vamos estar sempre muito próximos das modalidades.
É verdade que tem paixão pelo ténis?
Sim e representei a Seleção Nacional nos escalões de sub-12, sub-14 e sub-16. Atualmente, sou campeão nacional em veteranos pelo Ténis da Foz e também joguei futebol distrital no Futebol Clube Foz. Joguei ainda futebol universitário em Miami, para onde fui à conta de uma bolsa de estudo. Faço maratonas. Enfim, pratico desporto pelo menos três vezes por semana.
Sendo o João Sousa o melhor tenista português e ainda por cima natural de Guimarães, projeta acrescentar o ténis às modalidades do Vitória?
Não devemos ofuscar os clubes que estão à volta do Vitória. Há o Clube de Ténis de Guimarães, entre muitos outros bons clubes. O Vitória tem é de se preocupar com as contas. Mas, sim, é um grande orgulho que o João Sousa seja de Guimarães. Somos amigos e pessoas do ténis. Mas não apostaremos numa política expansionista nas modalidades. Temos antes que apoiar e dignificar as que existem.
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Que maior loucura já fez pelo clube?
Desde os meus seis ou sete anos, ia para todo o lado. Só para apoiar o clube, lembro-me de ter torcido pela equipa fora de casa frente ao Barcelona, Anderlecht, Real Sociedad. Vivi em Londres e em Miami durante muitos anos, numa altura em que ainda não existia a TV por cabo. Em Miami arranjei uma antena parabólica muito grande para apanhar os jogos do Vitória transmitidos pela RTP Internacional, mas o condomínio proibia isso. Quando havia esses jogos, metia a parabólica junto da janela e durante as duas horas do jogo trancava as portas e desligava os telefones. Durante as duas horas do jogo, era polícia, o porteiro e o pessoal do condomínio e não só a chatear-me, mas ninguém conseguia impedir-me. Tive muitos problemas com isso. Eu não conseguia viver sem ver o Vitória. Depois descobri um restaurante português e passei a assistir lá a jogos do Vitória e da Seleção Nacional.
Quatro equipas marcantes?
O Vitória de Marinho Peres de 1986/87, a equipa de Jaime Pacheco, com o Zahovic, Capucho, foi a que dominou o Parma. O triunfo sobre o Parma foi o momento de maior felicidade que tive no D. Afonso Henriques com o Vitória. Foi uma loucura esse jogo. A equipa de Inácio que jogava em Felgueiras no célebre 3x5x2, a equipa de Jaime Pacheco e a do Rui Vitória que ganhou a Taça de Portugal. Esses foram os melhores Vitórias de sempre.
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