<strong>O JOGO - 35 ANOS || 1994 || A VÉNIA DE TONI - </strong>O Benfica reage à crescente hegemonia portista no futebol sob a liderança de um histórico, que presta homenagem ao seu primeiro clube: o Anadia
Corpo do artigo
"Foi no Anadia onde tudo começou, foi o meu primeiro clube. O Anadia tinha grandes equipas. Havia o campeonato distrital de Aveiro e por duas vezes fomos apurados para a fase final, não sei se fomos campeões distritais ou se passámos em 2º lugar, porque os dois primeiros eram apurados. Depois jogávamos na Zona Norte do nacional, que o FC Porto ganhava sempre e depois jogava sempre a final, que era disputada em Leiria, contra o vencedor da Zona Sul. Mas houve um ano que ganhámos ao FC Porto em casa, por 3-1", recordou o treinador Toni, antigo internacional português.
A meio caminho entre Aveiro e Coimbra, o clube de raiz aristocrática e eclética viu o talento de Toni despontar
O clube que serviu de pontapé de saída para o ex-jogador do Benfica, que aí jogou até aos 18 anos, tem como símbolo o trevo - nome pelo qual também são, ainda hoje, conhecidos os atletas da equipa principal - e o azul e branco como cores.
E a escolha das tonalidades tem uma justificação: são as cores da bandeira da monarquia. Entre os fundadores do Anadia, a 19 de novembro de 1926, estão Mário Duarte (fundador e primeiro presidente da AF Aveiro) e o filho Francisco Duarte (pai do poeta Manuel Alegre). Mário Duarte, natural daquela cidade aveirense, era monárquico convicto e amigo pessoal do rei D. Carlos I, pelo que não escondeu a razão da sua escolha.
Mais que as cores do regime político extinto, Mário Duarte deixou ao clube uma herança de ecletismo, ele que foi eleito "sportman mais completo de Portugal", no início do século XX, por praticar vários desportos. O Anadia não tem tantas modalidades quantas as praticadas pelo principal fundador (futebol, caça, ciclismo, canoagem, ténis...), mas tem uma variedade interessante.
"Tivemos atletismo, basquetebol, ciclismo, hóquei... modalidades implementadas na altura da fundação. Agora temos, basquetebol, hóquei em patins e futebol. São as três modalidades em que estamos a competir. Podíamos ter mais e vamos ter mais, mas neste momento as coisas estão viradas para o futebol. Preferimos a distribuição, quando as outras modalidades são disponibilizadas por coletividades vizinhas", disse Vasco Oliveira, presidente do Anadia há oito anos.
O Anadia tem um título que exibe com orgulho
O dirigente, e ex-atleta do clube, não nasceu a tempo de ver Toni jogar com as cores do Anadia, mas reconhece que ele é o "expoente máximo da qualidade" que passou pelo clube. "Não fico admirado por ter mencionado o clube. Vem aos jogos quando pode, gosta de saber, preocupa-se. É uma referência para todos nós".
Tal como Toni, Paulo Adriano foi outro "trevo" que saiu de Anadia para a Académica, passando pelo V. Guimarães e por clubes de Chipre, Roménia e Rússia. Orlando Ribeiro (Pirolo) e Valério Ferreira também saíram do Anadia para a I Liga, no Águeda, em 1983/84. Na atualidade também há talentos a despontar. Com equipas nos campeonatos nacionais de iniciados, juvenis e juniores, tem três atletas chamados à seleção nacional de sub-15.
Sem nunca ter chegado ao principal campeonato português, o Anadia tem um título que exibe com orgulho: "É o clube mais representativo dos campeonatos nacionais, onde está há 50 anos, desde 1969". Depois dessa subida à extinta III Divisão Nacional, foi campeão desta prova em 2006/07 e em 2009/10.