<strong>O JOGO - 35 ANOS || 1997 || A VÉNIA DE CARLA SACRAMENTO - </strong>Campeã mundial dos 1500 metros nos campeonatos de Atenas
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Nas voltas que a vida dá, Fernando Santos, portuense nascido na freguesia de Massarelos há 77 anos, acabou por ver-se intimamente ligado à carreira de Carla Sacramento, natural de Lisboa, mas que começou a correr na margem sul, no Clube Desportivo de Paivas, da cidade da Amora (Seixal).
A campeã mundial começou no Paivas e teve como primeiro treinador um natural da Cidade Invicta
No arranque da década de 1980, foi este antigo atleta o responsável pelo impulso inicial no trajeto desportivo da campeã mundial dos 1500 metros em Atenas (Grécia), em 1997, e da Europa na mesma distância mas em pista coberta, no ano anterior, em Estocolmo (Suécia).
"A Carla foi-me apresentada por um senhor que corria, um dos chamados atletas do pelotão, que me tinha informado que havia uma miúda jeitosinha das Paivas", lembra Fernando Santos, orgulhoso da relação com a cidade que o viu nascer - "Sou o sócio número 3 do Pasteleira e fui atleta no Académico do Porto", atira, acrescentando que começou a frequentar o clube centenário aos sete anos, para jogar ténis de mesa. Só se iniciou na modalidade que o pai também praticou naquele clube a partir dos 16 anos, antes de o serviço militar o levar para sul.
"Sempre gostei de atletismo", diz Fernando Santos, que começou a treinar Carla Sacramento devido à experiência pessoal no chamado meio-fundo, que o próprio prefere designar por "velocidade prolongada", por achar que é disso que se tratam as provas dos 800 aos 1500 metros. E este espírito crítico é o mesmo que o leva a ser contra as homenagens em vida - "Não sou a favor de chamar-se Pista Carla Sacramento, Pavilhão Rosa Mota ou Carlos Lopes. São pessoas muito novas e não sabemos o que vai acontecer, se virão a desprestigiar essa homenagem" -; assim como contra certas opções da atleta que lançou, que acredita poderia ter tido uma carreira ainda melhor "se não tivesse ido para Espanha treinar".
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Nesse período, a meio dos anos 1990 a relação entre ambos esfriara, mas entretanto as coisas já se recompuseram e voltaram a ter "uma boa amizade". E nessa altura, também há muito que já não eram treinador e atleta. Começou a treiná-la aos 12 anos mas por volta dos 16 preferiu "entregá-la a quem sabe e Fonseca e Costa foi e é dos melhores do país". Esta terá sido outra atitude fundamental de Fernando Santos na carreira de Carla Sacramento, a quem sempre defendeu, recusando querer fazer logo uma campeã.
"Não se pode forçar quando são muito jovens", diz este confesso adepto boavisteiro, antigo presidente do GD Cavadas e fundador do Clube de Atletismo de Amora (ambos no Seixal), que, nas voltas que a vida deu, teve um irmão futebolista que passou pelo FC Porto, Armando Santos "Velhinha", onde jogou "um dos melhores" que viu: "Era fã do Hernâni. Não sou portista, mas também não sou besta!"