Muitos jogadores de futebol investem na área da restauração e hotelaria, mas nem sempre os negócios correm bem. Casos de sucesso e falência.
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Têm sido vários os jogadores, ao longo dos anos, a investir no mundo da restauração como forma de acautelar o futuro, após uma vida dedicada ao desporto. Alguns são bem-sucedidos. Outros nem por isso e até declaram falência. Tal como o futebol, não é uma área de negócio para quem quer. Luís Figo, Cadú, Adrien Silva e Fábio Coentrão, por exemplo, têm tido sucesso mas há uma série de futebolistas e antigos atletas que não saborearam o êxito dos tempos de competição.
Cadú, defesa do Gil Vicente, abriu as portas do seu mais recente espaço de restauração, em Paços de Ferreira, há pouco mais de um mês. "O Cavalheiro" é uma pastelaria e restaurante rústico que surge na vida do jogador, de 33 anos, como "forma de prevenir o futuro", depois da carreira nos relvados.
Como Cadú, há muitos outros futebolistas e atletas que investiram e investem em áreas de negócio idêntico. E com objetivo semelhante. "Dediquei toda a minha vida ao futebol e não dura para sempre. Aos 35/36 anos não dá para continuar a jogar e é agora, enquanto estamos no ativo e temos capacidade financeira, que temos de pensar no futuro", justifica Cadú, em conversa com a J.
O defesa-central, natural da Capital do Móvel, não é inexperiente neste ramo de negócio, sentindo desde muito cedo o gosto pela restauração. "Aos 21 anos abri um bar, o "Mikadu", no centro de Paços de Ferreira. Sempre me interessei por esta área. A minha família está envolvida no negócio de móveis, mas foi coisa que nunca me atraiu", afirma, lamentando, contudo, nunca ter conseguido viver de perto a experiência do bar "Mikadu". "Fui para a Roménia jogar e só voltei ao fim de nove anos. Entreguei a gestão do espaço ao meu irmão Rui."
Tal como Cadú, foi por se identificar com a área de negócio que Carlos Xavier, antigo jogador do Sporting, investiu há coisa de quatro anos num restaurante em Cascais em sociedade com o irmão gémeo, Pedro Xavier. "É uma paixão que tenho há 30 anos. Era jogador e já cozinhava em casa para os amigos. Quando deixei de jogar, ainda estive num projeto ligado ao futebol, com uma academia direcionada para a formação, mas depois surgiu a hipótese de investir no restaurante e foi o que fiz", recorda. O primeiro projeto não foi bem-sucedido, mas Carlos Xavier não pendurou os tachos. Juntou-se a outros dois sócios e voltou a investir num bar/restaurante no Clube de Golfe da Quinta da Beloura, o "Bar 19". "Agora, até cozinho! Tínhamos um "chef", mas foi para Angola e eu abracei a cozinha", conta o antigo jogador dos leões que, ao fim de um ano na Beloura, diz estar a correr bem o negócio.
PREVENIR O FUTURO
Se este tipo de investimento surge aos futebolistas como uma possibilidade de ter trabalho após uma carreira profissional nos relvados, a verdade é que os bares e restaurantes raramente são a primeira opção, surgindo, muitas vezes, como atividade paralela. Veja-se o caso de Luís Figo. O antigo internacional português, em sociedade com Paulo China, inaugurou há vários anos o Sete Café, na Marina de Vilamoura, mas manteve-se ligado ao futebol até há bem pouco tempo, quando abandonou o cargo de embaixador do Inter Milão para se candidatar à presidência da FIFA.
Carlos Xavier admite que "preferia estar no futebol". "Essa era a minha preferência, e se possível ligado ao Sporting. Não havendo essa possibilidade, tenho de me dedicar a este negócio", afirma.
Cadú ainda não decidiu o seu futuro profissional. Está prevenido, diz, mas está tudo em aberto, ressalvando, contudo, que o futebol não é para quem quer. "Vou andar no futebol até o meu corpo permitir e acordar com vontade de treinar. Depois será uma nova vida. O meu sonho é continuar ligado ao futebol como diretor desportivo, até porque treinador, quanto a mim, é um papel muito complicado. Mas sei que o futebol não dá para todos", sublinha o antigo capitão do Cluj. Caso não seja capaz de manter-se no desporto rei, Cadú vai "começar da estaca zero". "Muito embora não saiba cozinhar para clientes, sei tirar um café e posso ajudar no balcão. De qualquer forma, a minha ideia é dedicar-me à gestão do restaurante/pastelaria e do bar. Não é algo que dê para enriquecer mas, no caso do bar, já recuperei o investimento e dá para viver", destaca o defesa gilista.
Carlos Xavier e Cadú não são casos únicos no universo da restauração. Fábio Coentrão, só para apontar três exemplos de jogadores no ativo, é sócio do Seca Bar, em Vila do Conde, o colombiano James Rodríguez, do Real Madrid, tem uma participação no restaurante Âncora Violeta, em Leça da Palmeira, e Adrien Silva é coproprietário do La Doce Vita Gourmet, no Parque das Nações.
O ESPAÇO 10 E O BUHLE
A área da restauração, tal como o futebol, não é igualmente para todos e têm sido vários os antigos jogadores e atletas que, pelos mais diversos motivos, não foram bem sucedidos. Pietra, por exemplo, teve um restaurante na Ajuda, antes de regressar ao Benfica como técnico adjunto.
No clube encarnado, o caso de Rui Costa é paradigmático. Ainda jogava quando abriu, com a mulher, Rute (de quem se separou), o Espaço 10, um restaurante e bar decorado em tons de preto e branco, com paredes envidraçadas, no Saldanha, em Lisboa. "Quero que seja um espaço onde as pessoas se sintam bem", disse na festa de inauguração, que esteve à pinha e onde marcaram presença socialites e figuras do futebol. Apesar do aparato na abertura, o espaço não pegou moda e, no início de 2013, cerca de cinco anos após a inauguração, Rui Costa viu-se obrigado a encerrar o estabelecimento, por não conseguir fazer face às despesas. Trabalhavam lá 20 pessoas que o antigo Maestro conseguiu colocar a trabalhar noutros espaços de empresários do sector.
No Porto, os ex-futebolistas Vítor Baía e Pedro Emanuel, tendo como sócios o piloto de automóveis Tiago Monteiro, investiram em 2009 no restaurante Buhle, na Foz do Douro. A aposta chegou a ter sucesso, com o sofisticado e luxuoso espaço a ser um dos mais "in" da Invicta. A moda e o negócio duraram menos de dois anos.
Também Eurico Gomes, antigo jogador e campeão nacional pelos três grandes (FC Porto, Benfica e Sporting), já se desfez dos seus bares discotecas no Porto, o Memory"s Club Oporto e o Fox/Memory"s, e o hoquista Caio, atualmente na Oliveirense, do Will Restaurante Sushi Bar.