É uma modalidade nova que, em 2016, cresceu de forma exponencial, inclusive em Portugal. Os atletas pilotam pequenos aparelhos, como se lá estivessem dentro, e contornam obstáculos a baixa altitude, mas a grande velocidade. E o melhor: tira miúdos e graúdos de frente do computador e leva-os para a rua
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Não é algo futurista, tipo filme de ficção científica. As corridas de drones são hoje uma realidade em grande crescimento, inclusive em Portugal que, este ano, teve pela primeira vez um piloto no campeonato do mundo da modalidade, que reuniu 190 atletas de 37 países, no Havai, Estados Unidos (ver caixa). Em 2015, não passou uma única corrida de drones na televisão em todo o mundo.
Em 2016, quatro canais - a ESPN, a Eurosport, a Sky Sports e a ProSieben - compraram direitos de transmissão, com diretos incluídos. E as quantias financeiras envolvidas já não são assim tão baixas: a ESPN, por exemplo, pagou cinco milhões de dólares (4,7 milhões de euros) por uma temporada da Drone Racing League (DRL), uma das principais ligas norte-americanas da modalidade.
E no estrangeiro há competições com prémios monetários que vão dos 250 euros aos 250 mil euros, existindo também já pilotos profissionais que vivem essencialmente do dinheiro pago por marcas patrocinadoras.
Em Portugal, este foi o ano da afirmação da Portugal Drone Race como empresa organizadora, em exclusivo, de corridas de drones. Até agora, a modalidade estava muito associada ao aeromodelismo, mas começa a ganhar estrutura própria e um calendário competitivo que sai fora dos estádios, local inicialmente mais comum para a organização dos eventos, e monta corridas em ambientes mais exóticos, desafiantes e apelativos para atletas e público, como pontões, praias fluviais, parques de skate, centros urbanos ou grutas.
Experiência "visceral"
"Em 2017, vamos fazer corridas em castelos com o apoio da Rede de Castelos e Muralhas do Centro", revelou, a O JOGO, José Nunes, diretor de marketing e comunicação da Portugal Drone Race. A primeira prova do calendário ainda não será num castelo, mas acontecerá, em abril, na Praia Fluvial das Rocas, em Castanheira de Pera, distrito de Leiria.
"Este ano, entre 50 e 70 pilotos participaram nas nossas provas. Não temos ainda maneira de contabilizar o total de praticantes em Portugal, mas será certamente superior a estes números que dei. Há ainda muitos grupos fechados", afirma o responsável.
A regulamentação sobre a utilização de drones, que vai entrar em vigor em janeiro, nada tem a ver com a modalidade desportiva. Está como o código de estrada para as regras de uma prova de ralis, por exemplo
Nas corridas de drones, em vez de o piloto simplesmente telecomandar um aparelho à vista desarmada, ele comanda o aparelho como se estivesse dentro dele. Chama-se, na gíria, FPV, ou seja "First Person View" e é possível graças a uns óculos especiais que, às primeiras utilizações, até podem fazer algumas pessoas enjoar, pois dão ao piloto todas as sensações de velocidade e movimento. "É uma experiência muito visceral. Quando o drone bate num obstáculo, por exemplo, o teu cérebro assume que foste tu a bater no obstáculo. Os pilotos estão sentados, mas muitos estão a tremer. E fisicamente é esgotante, está ao nível da Fórmula 1 ou de pilotar os aviões da Red Bull", afiança José Nunes.
Fórmula 1 num "mini quad"
Em competição, os drones, também denominados "Mini Quad" ou "Quad Racer", não voam acima dos sete metros de altura e atingem velocidades de 130 a 150 quilómetros por hora. Em Portugal, cada piloto tem a liberdade de construir e montar o seu próprio aparelho - grande parte da dinâmica está na troca de material, experiências e ensinamentos entre os entusiastas - dentro naturalmente de parâmetros-base. Como acontece na Fórmula 1. Aliás, o desporto-rei do automobilismo é frequentemente citado na hora de explicar em que se baseiam as corridas de drones. "Andamos, inclusive, à procura de caras bonitas para Sponsor Pit Girls nas nossas provas. Há toda uma imagem, de preferência sexy, e marketing a criar", diz.
É possível pôr a plateia de uma corrida com óculos, em que cada espectador escolhe o drone dentro do qual quer assistir à prova
"Em 2017, a modalidade vai definitivamente explodir. Ao início, andávamos atrás das marcas para nos patrocinarem, agora já vêm ter connosco. Vamos organizar provas em pistas tridimensionais cada vez menos lineares. Este desporto vai crescer de forma muito mais rápida do que se possa imaginar. Todos os miúdos querem ter um drone. Está a massificar-se e rapidamente os preços também vão ser mais acessíveis." Neste momento, com 500 euros qualquer pessoa pode começar a "brincar", se quiser competir mais a sério, os custos podem chegar aos 1500 a 2000 euros. "As corridas de drones podem ser praticadas por toda a gente e, ao contrário dos jogos de computador e simuladores, promove a sociabilização e a atividade ao ar livre", diz ainda José Nunes.
Um português entre os melhores
Henrique Antunes fazia acrobacias com helicópteros telecomandados quando, há cerca de quatro anos, descobriu que pilotar drones era muito mais excitante, pois sentia-se dentro do aparelho. Com 27 anos, natural de Ponte da Barca, e residente em Arcos de Valdevez, investiu na compra de material e muitas horas na internet a ver vídeos e a estudar. Até que, em abril deste ano, fez a sua primeira prova oficial. "Depois, fui a um evento de qualificação e, quando dei conta, estava no campeonato do mundo. Esperava encontrar um nível muito superior ao nosso, mas isso não aconteceu", conta o também número um do ranking nacional das provas organizadas pela PortugalDrone Race. "Sinto uma liberdade extrema quando estou a pilotar. Desligo do mundo", afirma. No Mundial, Henrique Antunes ficou pela fase de qualificação, mas, garante, "valeu muito a pena".