Na tranquilidade do Cávado, Emanuel Silva já começou a treinar com vista à quinta presença em Jogos Olímpicos. É um recorde na modalidade, mas o atleta de 31 anos não garante que fique por aí. Entrevista a O JOGO
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A meio do ciclo olímpico anterior, Emanuel Silva teve de se juntar a João Ribeiro e ambos trabalharam em contrarrelógio pelo K2 português, que acabou por ficar a centésimas do pódio no Rio"2016.
Depois da medalha de Telma Monteiro, foram o Emanuel Silva e o João Ribeiro a terem o melhor resultado. Mas os portugueses perceberam-no?
-Não houve o devido reconhecimento, porque os holofotes estavam virados para outros atletas. Não significa que ficássemos desapontados com isso, mas o resultado não teve a visibilidade que devia ter. Ficámos a 20 centésimos da medalha e isso não foi valorizado.
Ficar tão perto do pódio já superou as expectativas, tendo em conta que foi uma dupla que se formou praticamente a meio do anterior ciclo?
-Eu, o João e o José Sousa queremos sempre muito. A medalha seria sempre a cereja no topo do bolo, dada a novela que passámos. Tentámos fazer o nosso trabalho, mas alguém teria de ser quarto.
É uma dupla em evolução?
-Há sempre margem para crescer, temos de nos unir cada vez mais e a federação e o Comité Olímpico têm de nos ajudar. Com certeza que esta equipa, se não houver nenhum percalço, vai ficar mais consolidada.
[Disputa entre Benfica e Sporting] só ajudou o clube a ficar mais forte. Se há capacidade financeira para isso, é bem jogado, uma boa estratégia. Esperemos que o Sporting consiga alcançar aquilo que ambiciona em todas as modalidades"
Está a caminho da quinta presença em Jogos, o que se traduz em 20 anos de preparação. Como explica uma carreira tão longa?
-Gosto muito de praticar desporto, da canoagem e da adrenalina da alta competição. Gosto do meio em que estou envolvido, tenho por trás de mim pessoas que compreendem o meu estilo de vida, que me apoiam incondicionalmente desde o meu clube, patrocinadores, treinador até à família. Vou continuar até as condições estarem reunidas. Quando me cansar ou já não existirem essas condições, abandono. Até lá o meu objetivo é ser campeão olímpico e ser o canoísta português com mais presenças nos Jogos.
Essa segunda já está...
-Mas eu quero ser mesmo imbatível. Enquanto tiver esses objetivos na cabeça, farei tudo por eles. A minha família está superdedicada para me ajudar. Os patrocinadores têm-se mantido, os resultados falam por si.
Quando acabou o Rio"2016, já tinha a decisão tomada para ir a Tóquio?
-Sim. Se há atletas olímpicos que foram campeões com 37 ou 38 anos, porque não posso ser eu um desses casos? Tenho de continuar a treinar e ter as pessoas certas à minha volta.
Portanto, Tóquio"2020 não é para acabar...
-Não está nos meus planos. Acredito que Tóquio"2020 pode ser o auge, vou ter 34 anos, estou consciente de que poderá ser o topo. A partir dos 34, o corpo já não é o que era. Devo aproveitar este ciclo olímpico para apostar tudo e dar o máximo, porque sei que o próximo, se o fizer, terá de ser ainda mais profissional. Portanto, o ciclo atual é o mais importante de todos.
O que significam 20 anos em alta competição?
-Em 2012, foram 190 dias fora, isso é mais de meio ano. Em 2015, foi praticamente igual, o que multiplicado por 20 anos dá muito tempo. São muitas horas dedicadas ao treino, são milhares de quilómetros no rio, de corrida, de bicicleta, muitas toneladas de peso no ginásio... Não me arrependo de nada, ganho condição física com isso. Houve alturas melhores e piores, mas nunca me passou pela cabeça desistir. Tornei-me mais maduro mais cedo. Portanto, estes 20 anos foi só somar.