FORA DE JOGO - Entrevista a Rita Latas
Corpo do artigo
Rita Latas, jornalista da Sport TV, entrou para a história por ter sido a primeira mulher a narrar um jogo de futebol na televisão em Portugal. Respira futebol, foi futebolista, mas as exigências da vida obrigaram-na a abandonar essa paixão. Perdeu-se uma futebolista, ganhou-se uma cara colega que vamos conhecer melhor.
Nasceste em Lisboa, mas cresceste em Évora. Quantas vezes foste ao templo de Diana?
Tantas que nem consigo contabilizar! Como fica mesmo no centro de Évora, acabava por passar por ele muitas vezes sempre que me encontrava com os meus amigos. Para quem não o conhece, vale a pena visitar tal como a própria cidade e o Alentejo em si. Fica aqui a sugestão turística apesar de ser suspeita...
O que é que recordas da tua infância, muitos pontapés na bola?
Diria até que foi o que aconteceu durante todos os anos que vivi em Évora. Lembro-me de já na Primária, com seis e sete anos, levar a minha bola para jogar no pátio da escola. Além disso, costumava ir ao café perto de casa com o meu pai ver futebol.
Tens um apelido que eu nunca vi em ninguém, Incenso. Como é que te aconteceu isso? Conheces o cheirinho do incenso?
Essa é uma pergunta que faço a mim própria quase todos os dias, mas a melhor pessoa para responder é a minha mãe. Os meus pais são alentejanos e a verdade é que o Alentejo nos traz nomes muito peculiares, no mínimo. Não é, no entanto, um cheiro que me agrade particularmente apesar de ter em casa. Fica como homenagem.
Podias ter sido uma grande craque de futebol, ou deixaste o futebol porque eras fraquinha?
Preferia que tivesse sido por ser fraquinha! Acho que poderia ter conseguido fazer uma boa carreira, mas a incerteza quanto ao futuro naquela altura era grande e tive de apostar noutra vertente. As lesões também não ajudaram, o meu joelho traiu-me desde muito cedo.
Recordas algum jogo em especial da tua carreira?
Acho que não consigo enumerar um jogo. Joguei em quatro clubes federados diferentes, estive na seleção distrital de Évora, tive a possibilidade de ir à seleção nacional de futebol sub-19 e ainda de representar a minha faculdade no campeonato universitário... É difícil escolher, mas é uma boa pergunta.
Formada em Sociologia e em Comunicação Social. Boa, como é que arranjaste tempo para isso tudo?
Era uma pessoa muito ativa. Tinha as aulas, jogava futebol federado, futsal universitário, estava na associação de estudantes e também queria aproveitar as festas da universidade, claro. Era uma nova experiência até porque estava a viver sozinha pela primeira vez.
Optaste pelo jornalismo desportivo porque querias continuar ligada ao futebol, uma vez que não conseguias o profissionalismo. Foi difícil essa decisão?
Talvez tenha sido a decisão mais difícil que tomei até hoje. Joguei durante metade da vida, por isso o quebrar dessa rotina mexeu comigo. Gostava muito da competição e de tudo aquilo que o futebol me trazia. Ainda tentei arranjar forma de conciliar, mas tornou-se impossível devido aos horários imprevisíveis que temos em jornalismo. Não ia estar comprometida a 100% e eu gosto de estar nas coisas por inteiro.
Fizeste estágio na Bola TV e depois saltaste para a Sport TV. Foi um sonho concretizado?
Claro que sim. Acima de tudo foi um objetivo atingido que tinha estabelecido para mim. Toda a gente sabe que a Sport TV sempre foi a referência televisiva do desporto em Portugal, por isso queria aprender com alguns dos melhores.
Entretanto, tão novinha, já entraste para a história. Foste a primeira mulher a narrar um jogo de futebol da I Liga na televisão. Orgulhas-te disso?
Estaria a mentir se dissesse que não. A narração também fazia parte da minha lista de "checks" e ver que já consegui fazê-lo traz-me realização pessoal e crença no trabalho que tenho feito. É muito bom olhar para o meu curto trajeto no jornalismo desportivo e ver aquilo que já alcancei.
E deu-te algum estatuto especial, quero dizer, passaste a ganhar como um profissional de futebol?
Adorava, mas infelizmente acho que vou continuar longe dos milhões, por agora... pode ser que surpreendam a minha carteira. Eu agradecia!
Jornalista não tem clube... ou tem. Admito que não me vás dizer qual é o teu por ética profissional. Diz-me só se o teu clube se está a portar bem nesta época (ratoeira...)...
Quando o Lusitano e o Juventude de Évora estiverem nas competições profissionais podemos falar de boas épocas! Isso sim, seria bom!
O que é que dizes a quem tem preconceitos em relação às mulheres falarem de futebol. Mandas para canto?
Dou cartão amarelo com possibilidade de análise no VAR para vermelho. Mandar para canto seria ignorar e não é isso que quero fazer apesar de ser uma conversa que já devia estar ultrapassada.
És uma pessoa feliz?
Sim! Faço aquilo que gosto e estou rodeada de boas pessoas e que me apoiam em tudo.