Vinte e nove segundos foi quanto André Fialho precisou para ser notícia de jornal. O lutador de Cascais foi aos EUA para tentar entrar num "reality show" de MMA. Não conseguiu e, por isso, foi bater a outra porta. Já não voltou para Portugal.
Corpo do artigo
André Fialho tem 21 anos, é natural de Cascais e há pouco mais de uma semana tornou-se notícia na generalidade dos meios de Comunicação Social portugueses por derrotar por KO, e em apenas 29 segundos, o norte-americano Manny Meraz, naquele que foi o seu primeiro combate no Bellator, espécie de segunda divisão norte-americana de MMA, logo a seguir ao UFC, cujos torneios são transmitidos em todo o mundo. "Se calhar abri um capítulo na história do MMA em Portugal", comentou André Fialho numa entrevista feita por telefone, via Whatsapp, desde a cidade de São José, na Califórnia, Estados Unidos (EUA).
Vitória por KO em 29 segundos! Que grande estreia no Bellator!
Na altura, nem me apercebi de quanto tempo é que tinha durado o combate. É gratificante ver que tudo aquilo em que acredito está a tornar-se realidade.
Neste momento, acho que nenhum atleta do meu peso (meio-médio) aguenta um round comigo...
Isso é que é autoconfiança...
Isto ainda não foi nada! Quero ser campeão do mundo Bellator e depois campeão do mundo UFC. Custe o que custar!
Não é fácil encontrar pessoas nos dias de hoje que falem com essa segurança e certeza.
Sempre fui competitivo de mais. A minha mãe conta que, já em pequeno, era um bocado obcecado pelas coisas. Não tinha meio termo. Já quando jogava futebol era assim. Ainda era júnior e já alinhava nos seniores.
Em que clube(s) jogou?
No Estoril e no Dramático de Cascais. O meu pai ensinou-me a fazer boxe ainda em bebé, quando comecei a andar. E quando há uns anos descobri o MMA, apaixonei-me pela modalidade e meti na cabeça que iria ser o melhor lutador de todos os tempos. A derrota é coisa que nem sequer me passa pela cabeça.
Estava muito nervoso antes do combate?
Foi pior em novembro quando fui ao Cage Figthers, no casino, em Portugal, e venci de seguida, por KO, numa única noite, três brasileiros. O facto de estar em casa e ter ali 800 pessoas para me verem deixou-me mais nervoso. Mas assim que entro na "cage" [ndr: termo usado para designar o ringue nos combates de MMA], os nervos desaparecem e sinto que estou no meu habitat.
Como foi parar aos Estados Unidos e à Bellator?
Em maio do ano passado, fui tentar participar no The Ultimate Figther Las Vegas, um reality show que passa lá na televisão, onde vários lutadores ficam fechados numa casa e o vencedor assina um contrato profissional com o UFC. Mas não entrei. Fiz um minuto e meio de jiu jitsu no casting e eliminaram-me logo. Fiquei muito irritado porque estava confiante de que ia ganhar o concurso.
E depois?
Tinha hotel para quatro dias. Resolvi ir a São José, ao ginásio onde treina o Cain Velasquez, que é uma referência para mim. Entrei na American Kickboxing Academy e falei com a rececionista, que é a mulher do dono do ginásio, o Javier Mendez, agora meu treinador. Ela foi chamá-lo, ele aceitou que eu fizesse lá testes no dia seguinte. Isto foi numa terça-feira e, na sexta, estava a ligar para casa a dizer que já não voltava para Portugal. O treinador gostou de mim, mostrou o meu perfil ao presidente do Bellator e ofereceram-me um contrato para três combates. Nem sequer tinha levado roupa para mais do que quatro dias...
O primeiro desses três combates foi o da semana passada?
Sim. Devo ter o próximo a 14 de maio. Após os três combates, vou renovar contrato.
Este contrato implica receber um ordenado?
Não. Só recebemos por combate. Para ficar cá, tive de recorrer a dinheiro que tinha de parte. Ao início foi complicado. Aluguei uma casa e não tinha nada para lá pôr. O meu treinador arranjou-me um trabalho como segurança, a receber 50 dólares/noite.
Quanto recebe por combate?
No primeiro, 4000 dólares [3636 euros] pelo combate e mais 4000 pelo triunfo. O próximo já será 6000 pela luta lutar e mais 6000 se vencer. Vai aumentando gradualmente. Assim que o combate termina, recebemos logo o cheque.
O que está a achar da vida nos EUA?
Portugal é um paraíso a comparar com isto. Em São José, onde estou, só se vê gente feia, a comida não presta, há uma mistura de raças brutal...
Não há miúdas giras?
Muito poucas.
Nem as que treinam no seu ginásio?
Não [risos].
SAIBA QUE
Saiba que MMA é a sigla internacional para Artes Marciais Mistas, desporto de combate que mistura diversas modalidades de luta, também conhecido por Vale-Tudo, onde é permitido o combate em pé, com punhos, cotovelos, pés ou joelhos, mas também a imobilização e a luta no chão. O Bellator MMA é a segunda maior organização de MMA dos EUA, depois do Ultimate Fighting Championship (UFC), o maior e mais famoso campeonato dos EUA e do mundo. Portanto, o Bellator é uma espécie de II Liga da modalidade. Por seu turno, o The Ultimate Fighter é um "reality show" criado nos EUA, em que lutadores competem entre si para ver quem ganha um contrato com o UFC.