É a Lisboa e à sua casa, próxima de Belém, que Carina Caldeira, 32 anos, regressa de cada vez que viaja para gravar mais um episódio do "Soccer Cities", programa que vai a caminho da segunda temporada, agora com José Mourinho, André Villas-Boas e Aimar como entrevistados - alguns dos episódios que já foram gravados. Os outros permanecem em segredo...
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TEXTO: ANA PROENÇA FOTOS: ORLANDO ALMEIDA/ GLOBAL IMAGENS
Começou por querer fazer um programa em que estivesse 24 horas com um futebolista. Rapidamente, Carina Caldeira percebeu que a ideia era irreal e, do trabalho conjunto com a Mediapro Portugal, nasceu o "Soccer Cities", um mix entre programa de viagens, "lifestyle" e entrevista. Já foi transmitido em mais de 40 países. Em Portugal, passou na altura do Mundial do Brasil, há cerca de um ano.
A segunda temporada vem a caminho. Serão mais seis ou sete episódios, que irão passar na RTP, desta vez num formato diferente: em vez de um futebolista e/ou treinador a guiar Carina Caldeira pela cidade onde vive, serão dois futebolistas e/ou treinadores num único episódio. Mourinho gravou com o brasileiro Oscar, do seu Chelsea, Villas-Boas com Hulk, ambos do Zenit, e Aimar com o antigo internacional uruguaio Enzo Francescoli.
Foi a Carina a sugerir o local da entrevista, uma esplanada junto ao Padrão dos Descobrimentos. Encaixou na perfeição, afinal a sua vida, neste momento, é andar pelo mundo.
Gosto de vir aqui e ficar a olhar o rio. Sou do Porto, adoro a cidade onde nasci, mas estou em Lisboa há três anos e agora é aqui que vivo com o meu marido.
Na primeira série, transmitida no verão passado, entrevistou Deco, no Rio de Janeiro, Javier Pastore, em Paris, Bruno Alves, em Istambul, João Moutinho, no Mónaco, Frank de Boer, em Amesterdão, e Jackson Martínez, no Porto. Conte-me uma história de cada um deles.
O Deco foi o primeiro. Ele estava no final da carreira e achei-o muito feliz e focado no que queria fazer a seguir. Adorei a parte de ir a casa dele, tem milhares de filhos, de mulheres todas diferentes, e dão-se todos superbem. Filmar no Rio de Janeiro foi um pouco stressante, fomos a uma favela, para falar com miúdos, estava lá a polícia, eu fiquei nervosa e com medo. Nessas alturas, só faço disparates e ainda chamo mais a atenção [risos]. Mas conseguimos.
Em algumas entrevistas, os jogadores falaram muito da vida pessoal, em outras nem tanto. Como geriu os temas a abordar?
Eu faço uma preparação, mas depois depende um pouco do que eles dão. O meu objetivo é espremer e tirar o máximo deles. Gosto mais de falar da vertente humana, da família, mas há uns que se fecham e não querem falar disso. O Frank de Boer, por exemplo, é do norte da Europa. São pessoas muito fechadas, eu para o conseguir fazer rir quase tive de fazer o pino e dizer umas 100 coisas estúpidas.
Mas era antipático ou apenas fechado?
Ele até era bastante simpático e bem-educado, mas era uma pessoa fria. É uma questão cultural.
Foi o entrevistado mais difícil?
O mais difícil tendo em conta os meus objetivos. Depois, fiquei toda contente porque consegui pô-lo a rir-se... mas tive de fazer 300 palhaçadas!
Qual dos jogadores, pelo contrário, abriu mais facilmente o seu coração?
O Jackson Martínez tocou-me muito. Também é uma pessoa fechada, não fala muito, mas comecei por perguntar-lhe como o futebol tinha aparecido na sua vida - até para sentir quem estava do outro lado - e fiquei a pensar na resposta dele durante uma semana. Disse-me que o primeiro contacto com a bola tinha sido na Colômbia, num bairro muito pobre, em que tinha de cortar a cabeça das bonecas das irmãs para poder ter com que jogar futebol. Tocou-me imenso aquela resposta e acho importante falar disto, porque as pessoas têm muitas vezes uma ideia errada dos jogadores: acham que eles são uns novos ricos, parvos e estúpidos, mas eles lutaram e sofreram muito para chegar onde estão. O Jackson é muito ligado à familia, à mulher, à religião, tem uma história de vida que me fez ver o outro lado do futebol
O episódio com Jackson foi no Porto, que é a sua cidade natal.
[risos]. Sim. Estava em casa. E foi giro fazer turismo dentro da minha cidade. Era algo que nunca tinha feito e fui a vários locais do Porto, inclusive às caves, pela primeira vez.
No episódio com o Bruno Alves, vê-se Carina, com ele e a mulher no carro, vítimas de uma autência perseguição na estrada...
E, imagine, era para lhe pedir dinheiro. E o Bruno Alves deu. A mulher disse-me que acontecia muitas vezes e ele dava sempre. Adorei-os.
E o que achou do contacto com João Moutinho?
É brutal o contraste entre ele e o Mónaco, um sítio cheio de luxos tão exagerados. Ele é tão humilde e querido, com os pés assentes na terra, sabe o que quer. Falta-me falar do Javier Pastore, do PSG. Foi incrível também, eu sou fã dele e ainda fiquei mais. Estava ainda a fazer a maquilhagem e os cabelos quando ele próprio me liga, 20 minutos antes da hora marcada, para dizer-me que estava à minha espera, sozinho, no lóbi do hotel. Eu atendi à bruta e ouvi: "hola, es Javier". Tive de ficar uns instantes a pensar para perceber quem era [risos]. É muito tranquilo e meigo.
Mantém o contacto com eles depois da filmagens?
Nem por isso. Mando-lhes o programa quando fica pronto.
O que nos pode revelar da segunda temporada que está a ser gravada?
Agora, vamos parar porque os jogadores vão de férias e depois a pré-época é, normalmente, fora das cidades onde vivem. Só devemos voltar a gravar no fim de agosto. A estreia só lá para outubro...
Mas já gravou três episódios, um deles com José Mourinho, outro com Villas-Boas...
Têm de esperar para ver. O que posso dizer é que vai ser muito mais estimulante, serão figuras fortes.
Cristiano Ronaldo por exemplo?
Não posso dizer.
E Aimar? Também já o entrevistou para esta série. Gostou dele?
Adorei-o, a ele e à mulher. Achei incrível o amor que ele tem pelo Benfica, a mulher só me dizia que ele quer voltar para cá. Ele é supertranquilo, a casa dele nada pretensiosa, até me foi levar à porta de canadianas, pois estava lesionado na altura, em abril.
SAIBA QUE
Carina Caldeira estudou Ciências da Comunicação na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, onde nasceu. E foi no Porto Canal que começou o seu percurso profissional. "Depois, achei que precisava de aprender mais e fui para Nova Iorque, onde estive três anos a estudar na New York Film Academy. Nunca quis ser atriz mas quis ter uma boa base de comunicação", afirma. Seguiu-se um curso de jornalismo na NBC e depois foi para Madrid, para aperfeiçoar o espanhol. Chegou a apresentar um programa de moda, antes de voltar a Portugal. "Já estou a pensar em novos projetos, em paralelo ao "Soccer Cities"."
40
O formato do "Soccer Cities" está registado e, portanto, segundo Carina Caldeira, não pode ser copiado sem a compra de direitos. Entretanto, desde que a RTP transmitiu a primeira temporada, antes e durante o Mundial do Brasil, algumas das principais cadeias televisivas do mundo compraram o programa e este já foi transmitido em mais de 40 países, incluindo EUA, Canadá, Malásia, China e Japão. O beIN Sport, canal de desporto internacional, propriedade da Al Jazeera, foi um dos que compraram o programa "made in Portugal".
PRIMEIRO AS CIDADES
SÓ DEPOIS AS VEDETAS
Primeiro, escolhem o destino e, depois, uma estrela do futebol que esteja nessa cidade. É assim que Carina Caldeira diz ser planeado o "Soccer Cities". Claro que é preciso conciliar as duas coisas, não irão para uma cidade sem vedetas do desporto-rei. Mas depois de terem dado a conhecer um local, não podem lá voltar. "Temos de ir por exclusão de partes", explica a simpática apresentadora. Na primeira temporada, foram dadas a conhecer as cidades do Rio de Janeiro, Istambul, Mónaco, Amesterdão e Porto. Da segunda, em gravação, Carina já filmou em Londres, São Petersburgo e Buenos Aires. Fica à imaginação do leitor outros possíveis destinos e jogadores/ treinadores na calha...
(entrevista publicada na revista J de 7 de junho de 2015)