Tem 16 anos e 1,85 metros de altura. É jogadora de andebol na equipa de juvenis e juniores do Colégio de Gaia e modelo desde que foi finalista do concurso Elite Model Look Portugal 2013. O andebol e a moda assentam-lhe na perfeição, mas quer ser médica cirurgiã plástica. "Acho que é possível conciliar tudo." Veja a galeria de fotos e o vídeo book da Carolina: https://www.youtube.com/watch?v=UfhnMCsMGI4
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SÓ CONVERSA por Ana Proença
Não gosta de dar nas vistas nem de elogios. Pelo menos no seu dia a dia, entre os treinos diários de andebol e a escola, onde é só mais uma miúda de 16 anos a frequentar o 11º ano na área de ciências. Espontânea, brincalhona, Carolina Loureiro explica como a sua modalidade preferida a ajudou no concurso Elite Model Look e como, no sentido contrário, os castings, os desfiles e as sessões de fotografia a ajudaram a amadurecer mais cedo.
Como apareceu o andebol?
Fiz ballet durante seis anos e natação mais dois anos, até que numas férias desportivas experimentei várias modalidades. E assim que conheci o andebol fiquei mesmo apaixonada. Acho que nunca mais vou conseguir deixar de jogar, é mesmo um vício. Uns fumam, uns bebem, eu jogo andebol!
O que a encantou tanto na modalidade?
Não sabia da existência do andebol até essas férias desportivas que fiz há uns quatro anos. Como era possível eu não conhecer? [risos] Sempre adorei futebol, mas nunca fui boa de pés. Então, achei o andebol parecido com o futebol, com muito movimento, onde é preciso desenvolver muito o raciocínio e ter um forte espírito de grupo. E com a vantagem de se jogar com as mãos.
E donde veio esse gosto pelo futebol?
O meu avô é adepto ferrenho do FC Porto. E o meu pai também gosta. Então, desde pequenina habituei-me a ver jogos de futebol. Sempre me fascinaram os estádios cheios de gente, adorava um dia poder jogar num grande estádio perante milhares de pessoas, deve dar uma pica imensa. Adoro espetáculos.
Fala com um sotaque nortenho muito pronunciado...
Eu tenho sotaque? Não sabia [risos]. Mas se tenho ainda bem! Gosto do sotaque do Norte. As pessoas de Lisboa pensam que não têm sotaque, mas também têm: fecham muito as letras das palavras...
Entre os estudos e o andebol como apareceu a carreira de modelo?
Sou bastante alta. Desde pequenina que os meus pais achavam que tinha potencial para inscrever-me numa agência de modelos. Há uns dois anos, por sugestão deles, fiz um curso para aprender a maquilhar-me e a posar para fotografias. E depois a instrutora sugeriu que eu me candidatasse ao concurso Elite Model Look. Os meus pais apoiaram, mas eu fiquei com medo de concorrer, estava um bocado tímida.
E...
Fiquei a pensar bastante tempo no assunto, mas acabei por decidir concorrer. Sempre adorei moda, vejo as revistas todas. Então, inscrevi-me na aplicação que a Elite tem no Facebook, é preciso enviar fotos e eles selecionam 100 perfis para um casting. Estava no Algarve de férias quando me ligaram. E foi mesmo lá que fui fazer o casting.
Em que consistiu?
Tinha de desfilar de saltos altos. Não estava nada habituada e andei a treinar em casa para ver se não tropeçava [risos]. Também tinha de falar sobre mim e tirar algumas fotografias. Felizmente nunca tive muita vergonha de falar em público. Quando eu disse que jogava andebol, o Rúben Rua [ndr: modelo, booker da Elite Lisbon e um dos júris do concurso] disse que também já tinha jogado, começámos a falar sobre andebol e foi muito tranquilo. Depois, nem quis acreditar quando me telefonaram a dizer que estava entre as dez finalistas.
O andebol acabou por ajudar também no concurso...
Sim. Outra coisa em que ajudou foi que, no andebol, aprendemos a controlar os nervos. Normalmente só estou nervosa antes dos jogos e, assim que começo a jogar, passa. E ganhamos um grande espírito de equipa, que se aplica também no dia a dia.
Vi uma foto sua em que está a desfilar de biquíni e saltos altos, e o concurso já foi em 2013, o que quer dizer que era ainda mais nova. Não acha demasiado cedo para as modelos começarem a fazer este género de desfiles?
Eles têm cuidado quando a modelo é mais nova e normalmente escolhem uma roupa adequada. O biquíni com que desfilei era super-normal. Se vejo que me dão roupas mais ousadas, peço algo que ache mais apropriado para mim. Mas não costuma acontecer.
E qual é a sensação de estar a desfilar numa passarela?
Gosto de me ver e é muito boa a sensação de ter as pessoas a olharem para mim, mas só ali. No dia a dia não gosto nada de usar roupa que faça as pessoas olharem para mim. Nos desfiles tenho uma imagem diferente. Tenho oportunidade de vestir roupa a que não estou habituada. Acho que fiquei mais feminina desde que me tornei modelo. Nunca me maquilhava e, este ano, comecei a ficar curiosa e a comprar umas coisinhas. Os saltos altos continuo a não usar. Tenho 1,85 metros e não gosto de me sentir a Torre Eiffel à frente das outras pessoas. Além de que calço o número 40, é um tamanho fixe... pé de princesa!
Foi finalista do Elite Model Look, assinou um contrato de agenciamento com a Elite Lisbon. Como foi na escola? Ficou a miúda "cool" com quem toda a gente quer estar?
[risos] Não me subiu nada à cabeça, continuo humilde e ainda uma criança. Às vezes, umas miúdas mais pequeninas vêm cumprimentar-me, dizem que gostam de mim. Não gosto mesmo nada que digam que tenho a mania de que sou modelo. Detesto chamar a atenção, prefiro passar despercebida.
Com os rapazes também continua a passar despercebida?
Há tantas raparigas mais bonitas do que eu na escola. Sou modelo, mas não tenho um rosto muito bonito. E quem gosta de mim, gosta pelo que eu sou, pela minha maneira de ser, que continua a ser a mesma. Fico tímida quando me elogiam, prefiro que não o façam.
Gostou dos outros concorrentes do concurso? Fez novos amigos?
Desde o quinto ano que tenho os mesmos amigos. A diferença é que, com o Elite Model Look, conheci 19 pessoas novas, dez rapazes e nove raparigas. Fiz bons amigos e ainda hoje costumamos encontrar-nos no Porto para tomar café. São mais velhos do que eu. Com eles tenho em comum o mundo da moda, e ainda aprendo outras coisas que não aprendo com os meus colegas de escola ou do andebol.
A escola não ficou prejudicada com o concurso e o início de uma carreira como modelo?
Nada disso. Estou na área de ciências e tenho boas notas. Nunca reprovei. Há aquela ideia de que uma loura, ainda por cima modelo, é uma Barbie. Mas nada disso! É possível conciliar tudo e estou a estudar para poder ser médica. Gostava de ser cirurgiã plástica que, no fundo, mistura a ciência com a estética e a moda.
Não resisto a perguntar-lhe se viu o novo rosto da atriz que fez de Bridget Jones, a Renée Zellweger? E o que achou?
Não vi...
Mudou muito o rosto e, por isso, houve uma enorme discussão nas redes sociais e média de todo o mundo sobre a sua transformação.
Para mim, as cirurgias plásticas devem ser para aperfeiçoar, tal como fazemos quando nos maquilhamos. Não deve ser para mudar a pessoa, mas para tapar alguns defeitos ou disfarçar rugas. Aumentar o peito ou tirar umas gorduras acho bem, agora como o Michael Jackson fez, por exemplo, já considero um completo exagero. Ele devia ter tido orgulho da sua raça.
Se lhe oferecessem um cheque com a quantia em branco para usar numa cirurgia plástica, que iria corrigir em si?
Oferecia o cheque a outra pessoa. Gostava de ser eu a fazer aos outros e não que me fizessem a mim [risos]. Não tenho muito peito, mas nem o andebol nem a moda pedem muito peito. Está bem assim.
Portanto, não quer seguir a carreira de modelo a tempo inteiro?
Não. Só em part-time. Mas acho que é possível conciliar tudo.
Se tiver de escolher entre o andebol e a moda?
Não sei fazer essa escolha. Vou manter-me nos dois até conseguir. Neste momento, treino andebol todos os dias, menos à terça-feira. Na moda, não tenho trabalhado muito desde o concurso, têm surgido algumas propostas e não se recebe nada mal, mas ainda sou nova para algumas produções.
E quando considera que chegou ao topo no andebol e na moda?
No andebol, quando representar Portugal numa prova internacional. Já fui convocada para ir à Seleção Nacional de juniores A e adorava ser chamada, no próximo ano, para a qualificação para o Europeu. Na moda, quando for capa na "Vogue". Amava mesmo!
NÃO DEIXAR DE COMER, ANTES SABER ESCOLHER
"As pessoas pensam que uma modelo deixa de comer, mas a questão passa por saber comer", comentou Carolina Loureiro, que tem 1,85 metros de altura e 63 quilos de peso. "Sempre fui habituada a comer de forma saudável. Não vou ao McDonald"s todas as semanas, e quando vou troco as batatas fritas por salada", afirmou a andebolista, explicando que depois de um treino, por exemplo, prefere comer uma maçã a um chocolate ou a beber um sumo. "Sou de ciências, por isso ainda mais tenho a obrigação de saber o que devo ingerir em cada altura e o que o organismo vai absorver", acrescentou a modelo que tem as papilas gustativas do seu lado. "Não gosto de doces. Prefiro fruta."
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E paciência para o tempo passado na maquilhagem e no cabeleireiro ou para as longas produções fotográficas e ensaios na passarela? Carolina Loureiro tem muita paciência. "Este ano, no início das aulas, fiz um desfile para a Revlon em Lisboa e estiveram quatro horas só a arranjar-me o cabelo. Queriam um cabelo todo encaracolado. Entretive-me a tirar selfies", contou. "Cheguei ao hotel, depois do desfile, às três da manhã e, como no dia seguinte tinha de apanhar o comboio muito cedo e ir logo para a escola, deixei ficar o cabelo. Ia demorar muito tempo dentro da banheira para tirar aqueles produtos todos que me tinham colocado. Quando cheguei à escola, as reações foram hilariantes ao verem o meu cabelo todo encaracolado. Parecia mais velha", acrescentou, entre risos.
SAIBA QUE
Organizado em mais de 60 países, o Elite Model Look é considerado o maior concurso de modelos do mundo. Foi neste concurso que foram descobertos nomes como Gisele Bündchen, Cindy Crawford, Naomi Campbell, Linda Evangelista ou Alessandra Ambrósio.
A nível nacional, o Elite Model Look foi o responsável pelo lançamento de Soraia Chaves, Marisa Cruz, Sofia Aparício, Victoria Guerra, Gonçalo Teixeira, Luísa Beirão, Ana Isabel ou Rúben Rua, entre outros. Os vencedores de 2013, ano em que Carolina Loureiro participou, foram Pedro Pinto, de 17 anos, e Ana Baptista, da mesma idade. Já em 2014, Rita Costa e Francisco Ruivo foram os modelos vencedores da 31ª edição do Elite Model Look Portugal. Os jovens rumaram depois à China, onde participaram na final mundial.
(Entrevista publicada na revista J a 21 de dezembro de 2014)