Já não pisa o relvado todas as manhãs. Agora, Miguelito senta-se a uma secretária num escritório em Vila do Conde e, em vez de ténis, calça sapatos e veste uma camisa. "Estou a gostar desta minha nova imagem", afirmou o novo empresário de futebol.
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José Miguel Organista Simões Aguiar é o nome completo de Miguelito, o defesa-esquerdo que começou no Rio Ave, passou pelo Benfica e terminou a carreira, em janeiro último, no Tirsense. Aos 35 anos, pendurou as chuteiras e, de imediato, iniciou uma nova etapa da sua vida, como empresário de futebol na ProEleven, empresa de Carlos Gonçalves que já tem na sua carteira cerca de uma centena de jogadores e treinadores, entre os quais André Villas-Boas, Marco Silva, Paulo Bento, Rui Patrício ou Marcos Rojo.
Sempre foi conhecido por Miguelito enquanto jogador. Como quer agora que o tratem?
Por Miguelito à mesma. Vai ser sempre o meu nome.
E porquê Miguelito?
Porque quando andava na formação, no Rio Ave, havia mais do que um Miguel. Como eu era o mais franzino, ficou Miguelito.
Por que decidiu terminar a carreira a meio de uma época desportiva?
Porque o Tirsense decidiu restruturar o plantel face a um projeto que não estava a correr como esperado e o meu nome apareceu na lista de dispensas. De qualquer forma, esta já seria a minha última época.
Porquê?
Porque sempre meti como limite jogar até aos 34 ou 35 anos e já planeava começar a trabalhar com o Carlos Gonçalves.
Fisicamente já não se sentia bem?
Não foi por aí. Sinto-me bem, ainda capaz de jogar mais um ou dois anos. Podia já não ter o mesmo fulgor físico para correr 90 minutos seguidos, mas a qualidade e a inteligência estavam lá.
Foi difícil pendurar as chuteiras?
Foi uma decisão superfácil, porque já vinha sendo falada a minha inclusão na ProEleven. E ao contrário da maioria dos jogadores, não fiquei parado. Assim que deixei o Tirsense, comecei logo a trabalhar como empresário. Posso ainda vir a ter saudades, mas para ser franco até agora não tenho sentido a falta de jogar, pois estou bastante ocupado e a gostar do que estou a fazer.
E o que está concretamente a fazer?
Ainda estou a absorver informação, mas basicamente faço o acompanhamento dos nossos jogadores da Zona Norte: vou ver os jogos e estou em permanente contacto com eles para saber se precisam de alguma coisa...
Ser treinador não era hipótese?
Não. Nunca me puxou.
O que o atraiu na profissão de empresário de futebol?
Quando era jogador, já fazia este tipo de trabalho: telefonava muitas vezes ao Carlos [Gonçalves] para dizer-lhe que tinha visto um jogador interessante para ele agenciar.
O Carlos Gonçalves foi sempre o seu empresário enquanto jogador?
Praticamente sim. Tive uma primeira experiência que não correu bem, com uma empresa que nunca contactava os seus jogadores e acabou por falir. Fui ainda abordado por dois ou três empresários, mas a partir do momento em que conheci o Carlos Gonçalves, não trabalhei com mais ninguém. Cativou-me a forma como dava atenção aos jogadores. Fui um dos seus primeiros agenciados, há cerca de 21 anos.
Nem sempre os empresários de futebol têm boa reputação...
Isso não acontece na empresa onde estou, onde as pessoas são corretas e sérias. Pode confiar-se nelas. E é isso também que quero para mim.
Depois de tantos anos a jogar futebol, não se sente ainda um pouco perdida com esta mudança tão drástica de rotinas?
É verdade, ainda ando um bocado perdido, pois antes só tinha a preocupação de ir treinar e agora tenho de planear o que vou fazer no dia seguinte e pensar em muitas outras coisas. Até a filha tem resmungado mais um bocadinho, pois já não tem tanta atenção do pai.
Vai precisar de adquirir algum tipo de conhecimentos, que implique voltar a estudar?
Sou capaz de investir num curso de inglês. Entendo, mas não estou totalmente à vontade. De resto, os regulamentos da FIFA em relação aos empresários mudaram e deixaram de existir as licenças FIFA e os respetivos exames escritos.
Apesar de já não jogar, continua a praticar desporto?
Tento fazer alguma coisa, mas nada muito planeado. Às vezes, faço umas futeboladas com os amigos.
SAIBA QUE
Miguelito foi futebolista profissional durante 17 anos. Iniciou a carreira no Rio Ave e na I Liga, para além dos vila-condenses, jogou em vários emblemas: Nacional, Benfica, Braga, Marítimo, Belenenses e Vitória de Setúbal. Passou também pela II Liga ao serviço de Moreirense e Chaves, e viveu uma experiência em Chipre, na temporada 2012/13, com a camisola do Apollon Limassol. "Sinto-me bastante orgulhoso pela carreira que construí. Joguei em grandes clubes e fui feliz", afirma, elegendo como momento mais marcante da carreira "quando soube que ia assinar contrato profissional no Rio Ave". "Tinha sido sempre o meu sonho: ser jogador profissional", diz.