VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes.
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Vítor Ferreira não consegue conter a emoção após marcar o primeiro golo pelo clube do coração. É Vitinha, diminutivo-alcunha para um jogador maior, que aparece com os olhos a brilhar na "flash-interview", após a partida.
Já ninguém perde tempo a contar os 20 milhões a haver no equilíbrio das contas ou a transpirar teorias sobre a cláusula que-era-para-ser-mas-não-foi com o Wolverhampton.
Vitinha faz do jogo coração, pêndulo e desequilibrador, certeiro ou meio vagabundo, maestro ou carregador. O excelente recorte técnico não lhe retira "punch" físico e acerto tático. E é essa fiabilidade que Sérgio Conceição começa a premiar com a titularidade. A solidez com que acrescenta pontos ao jogo ficou clara na forma como entrou na segunda parte com o V. Guimarães e teve, agora, continuidade contra o Portimonense. Marcou aos 70 minutos, mas foi o homem do jogo nos 79 em que esteve em campo.
Fará dois anos em janeiro. Vitinha estreou-se com a camisola principal do FC Porto contra o Varzim, aos 19 anos, tendo chegado ao clube ainda nas camadas infantis. Faltavam cinco minutos para o fim de um jogo semi-atado com o Varzim, sem golos na segunda parte, e saltava do banco para garantir o 2-1 e a passagem às meias-finais da Taça de Portugal. "É um cliché mas não tenho palavras", regozijava na estreia. Quase dois anos depois, mesmo após a aposta inicial em Bruno Costa, vemos um jogador com 513 minutos de Premier League e que Sérgio Conceição fez esperar e crescer, ativo que - fossem os negócios fiáveis e o mercado uma ciência exata - estaria, por esta altura, tão fora do clube como Sérgio Oliveira.
Ironia do destino, ambos ficaram e competem para o "mesmo lugar". Longe de serem incompatíveis, a presença de um deles na equipa titular faz-nos olhar para o banco em espelho. A mesma fiabilidade, a mesma noção de competência e estabilidade. Estivéssemos assim garantidos para cada uma das outras posições em campo.
Antes do dérbi da segunda circular, era fundamental não ceder pontos a um Portimonense que trilha uma época acima das expectativas. Desde o primeiro minuto, apesar do arrojo inicial dos algarvios, sentiu-se que o acerto e compromisso colocado no jogo garantiria os três pontos. A felicidade do golo imediatamente antes do intervalo ajudou à tranquilidade, mas tudo o resto foi trabalho e competência. Bem longe do berro e do grito.
Três no Dragão
Seguem-se três jogos no Dragão para todos os adeptos tirarem a barriga de misérias e uns certificados do bolso. Atlético de Madrid na Champions, Braga para a Liga e Rio Ave para a Taça da Liga. Se pouco há ganhar com o terceiro jogo, já a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões e uma vitória sobre os arsenalistas do Minho serão fianças para ficarmos mais próximos dos objetivos da época. Fasquia a fasquia, Sérgio Conceição parece ter um plantel que, muito por conta da plena exuberância de Luis Díaz e da juventude da "cantera", pode sonhar com o compromisso de acordar na realidade.