VELUDO AZUL - Um artigo de opinião de Miguel Guedes
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É oficial. O FC Porto voltou a praticar uma modalidade que na temporada passada simulou jogar: futebol. O que se viu em Alvalade não engana e reconcilia o clube com a prática da modalidade, galvanizando qualquer adepto, mesmo os rivais. Há um reconhecimento, público e notório, de que temos uma equipa que, num curto espaço de tempo, sabe ao que vai e a luta por um objectivo.
Ainda que à quarta jornada e muito longe de perceber o que será este plantel numa prova de regularidade como o campeonato, são evidentes os sinais de pujança e demasiadas as diferenças para o passado mais recente. A equipa não só compete como é competente e, perante o trabalho de urgência em poucos meses de Farioli, sente-se como este grupo de jogadores pode crescer no tempo, tática e tecnicamente, se conseguir manter ou apurar a condição física e psicológica que emana. É impressionante a forma como a equipa pressiona homem a homem e exerce solidez em todas as zonas do terreno. Na baliza, o melhor guarda-redes da sua geração. Uma defesa que há meses tremia como varas azuis, parece ter agora duas vozes de comando ao centro e dois laterais capazes de jogar em zonas interiores (que grande exibição, personalizada e influente, a de Alberto Costa). No meio-campo nasce o que será, porventura, uma das estrelas desta temporada: Victor Froholdt ganha metros no primeiro passo, aparece nas zonas nevrálgicas como uma inteligência tática fora de série e é difícil imaginar que o seu BI aponte tenros dezanove anos de vida, bastantes menos de futebol e uma expressão imutável de concentração e foco durante todos os jogos. Varela, na companhia do dinamarquês, é outro jogador e até melhor do que quando chegou ao clube e impressionou pela consistência. Borja Saínz e William Gomes são verticais e repentinos, capazes de fazer os movimentos de rutura que pontas de lança como Samu ou De Jong exigem. Rodrigo Mora, uma carta não se sabe bem de que baralho mágico, foi a jogo sem retirar o pé e sem ponta de queixume. Mesmo sem Gabri Veiga e Pepê, mesmo sem Samu a titular, a vitória em Alvalade foi convincente e incontestável, perante um Sporting que entrou melhor na segunda parte e tentou reagir como pôde após se ver em desvantagem súbita por dois golos.
A diferença que faz um treinador, líder, com o plantel na mão. Farioli mexeu com equipa inicial na impossibilidade de Gabri Veiga ir a jogo, mas não mudou o plano. Os golos acontecem após mexer na equipa, equilibrando o meio-campo com a entrada de Pablo Rosario. As substituições não nascem de um livro de autor, mas da resposta e contra-resposta à realidade. Uma equipa que joga com esta intensidade, só pode treinar com afinco e nos limites. E depois, o compasso. Há quanto tempo não víamos jogadas estudadas, com princípio-meio-e-fim à saída do nosso meio-campo, com tabelas organizadas e complementares, verticais, até à baliza adversária? Aconteça o que acontecer, o FC Porto voltou a jogar futebol.