Opinião de Miguel Guedes
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Dizer que não há uma alternativa para o lado esquerdo da defesa é esquecer o que Zaidu representa: uma alternativa. Apesar da indiscutível capacidade para dar tudo o que tem, velocidade, crença e abnegação, apesar da felicidade que demonstra no jogo e a seriedade como profissional e homem, o nigeriano não foi a opção de Farioli perante a lesão de Francisco Moura, o natural detentor do lugar anual de época (ainda que sem cadeira). No momento em que foi necessário render Moura, o treinador do FC Porto arranca Martim Fernandes da ala direita, fazendo-o alinhar à esquerda, ultrapassando Zaidu pela direita. Mas como mostrou na pré-época com o Twente, Francesco Farioli não considera Zaidu uma carta fora do baralho colectivo e terá agora que o lançar à titularidade.
Quem não caça com cão, caça com galo em Barcelos? É que Zaidu, não tendo as bases e a escola que o poderiam transformar num jogador excepcional, tem bastante mais para dar do que muitos querem fazer crer. Para além de que é o único disponível no quarteto defensivo que conhece a realidade do que é jogar em Barcelos, deslocação tradicionalmente complicada, onde não ganhámos nas duas últimas épocas e que foi o dínamo destrutor da época passada, ainda com Vítor Bruno no comando da equipa.
Depois de ganhar convincentemente ao Vitória na estreia da Liga, o tempo é de afirmar peremptoriamente que há um FC Porto desenvolto dentro e fora de casa. Não trair o regresso a uma nova coragem-ilusão nos adeptos que remonta ao tempo em que entrávamos para ganhar em todos os jogos, fossem eles quais fossem. Todos esperamos que os soluços não genéticos da época transacta não se repitam e, para tal, é necessário reencontrar a equipa arrojada e crente, afirmativa e desempoeirada, que se viu frente ao Vitória e ao Atlético de Madrid. O FC Porto de Farioli parece tacticamente justo à pele dos jogadores, fisicamente capaz, e esta é uma condição fundamental para todos poderem dar tudo o que têm dentro de campo. Veja-se o exemplo de Pepê, a crescer para patamares onde foi considerado imprescindível no passado.
E os exemplos. O descalabro da equipa B em Vizela, um derrota-goleada por 4-0, não augura nada de bom para o que aí vem. João Brandão, treinador da B, faz (e bem) o aviso à navegação: é preciso mais, muito mais, de quase todos. Se o objectivo é acabar com a equipa B, que não sejam os jogadores a definir o futuro. É imprescindível que o grau de exigência e de rigor transpire da equipa A para a B. Seria absurdo estarmos a reconstruir um espírito de clube e de grupo que não comunique para todos os escalões, atletas e modalidades que envergam o sonho maior de ganhar com o dragão ao peito.