APITADELAS - Opinião de Jorge Coroado
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Não é em vão a "Premier League" concitar as atenções, ser considerada a melhor competição do planeta.
Tal não se deve somente à qualidade dos relvados; à capacidade técnica, física e empenho dos jogadores; à agressividade positiva colocada em cada disputa direta pela bola ou ao respeito evidenciado pelos artistas perante as decisões das equipas de arbitragem; ao ambiente em redor das quatro linhas; à paixão pela modalidade, repita-se: modalidade, não apenas pelo clube de eleição, demonstrada pelos adeptos; eficiência da organização, onde, apesar da existência de autorregulação, o rigor se expressa em decisões administrativo-disciplinares céleres, credíveis, invariavelmente demonstrativas de bom-senso e adequação à situação em concreto.
Deve-se, também e sobretudo, à filosofia e conhecimento da essência do jogo; à assunção plena e absoluta de, apesar de hoje em dia o futebol ser uma indústria, continuar a ser jogado por humanos, como tal sujeito aos mais díspares e imprevisíveis movimentos a que um corpo é submetido quando em esforço ou em confronto com um adversário e, igualmente, ser dirigido, fiscalizado por humanos.
No domingo passado, no jogo Manchester United-Liverpool, aos 53", Martial assistiu Rashford para o segundo golo da primeira vitória dos locais. Observadas as imagens, as linhas da tecnologia mostravam o atacante minimamente adiantado no momento do passe, porém havendo sobreposição daquelas, na terra de Sua Majestade, desde a presente temporada, o fora-de-jogo deixou de ser considerado. Não se estranhe, assim, o VAR ser ali entendido na exata medida dos princípios subjacentes à sua implementação, i.e., ferramenta auxiliar, não decisória.
Picuinhas
O VAR veio para ajudar em ERROS GROSSEIROS (ex: golos obtidos com a mão, em falta ou em claro fora-de-jogo, agressões impunes, expulsões indevidas), não para ser picuinhas. A filosofia implementada pela Premier League assenta, garantidamente, na tão propalada defesa do espetáculo. De facto, quando é necessário colocar em equação duas posições e movimentos (jogador que efetua o passe e o que receberá a bola) de humanos, dois, três ou cinco centímetros aferidos mecanicamente, por mais que os "bacteriologicamente puros" pugnem pela mesma, não atentam contra a apregoada verdade desportiva.
Paixão e emoção
Como os doutos responsáveis dizem, o futebol de hoje é uma indústria. Os ingleses desde há muito que assim o entendem, porém, melhor que ninguém, cedo perceberam que sem paixão e emoção a indústria não tem viabilidade. Em recente cavaqueira com gente ligada ao futebol, um treinador de equipa da primeira liga dizia: "com o VAR, quando minha equipa marca um golo, já não festejo, principalmente quando demoram 2/3 minutos a decidir validação". De igual modo, nas transmissões televisivas, é bem visível a forma menos acalorada como os espectadores nas bancadas mostram satisfação.