O árbitro era guardião silencioso do equilíbrio. O cartão vermelho erguia-se como simbolo da justiça, apenas quando necessário
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Tempos houve em que exibir um cartão vermelho transcendia o simples ato de impor disciplina numa partida de futebol. Não era um gesto impulsivo, nem fruto de vaidade ou de desejo de protagonismo. Revelava, antes, profundo conhecimento das regras, rara sensibilidade perante o jogo e, sobretudo, ponderação paciente aliada à preservação da integridade do espetáculo. O árbitro, naquele tempo, era guardião silencioso do equilíbrio. O cartão vermelho erguia-se como símbolo de justiça, apenas quando necessário — nunca como punição gratuita, mas como medida última para resguardar o respeito mútuo dos jogadores e a essência do desporto. Era a consciência de que o espetáculo pertence a todos: atletas, adeptos, treinadores e à própria história do futebol. Ser árbitro exigia mais do que domínio técnico; reclamava empatia e compreensão dos ritmos e emoções do jogo. O cartão vermelho, quando surgia, era compreendido pela maioria — não como um fim, mas como necessária proteção da integridade física, tática e moral do confronto.
Hoje, ao recordar esses tempos, percebe-se como a autoridade serena, aliada ao bom senso, conferia ao desporto a sua dimensão mais nobre. O espetáculo era preservado, a justiça emergia não do rigor cego, mas do discernimento de quem sabia, acima de tudo, zelar pela beleza e dignidade do jogo. Figura central do jogo, o árbitro, era tradicionalmente visto como o executor da justiça sobre o relvado, exercendo autoridade quase absoluta nas decisões tomadas durante a partida.
Com o advento do VAR, essa dinâmica alterou-se significativamente, reconfigurando o papel daquele, levando a uma nova compreensão sobre disciplina e legitimidade das decisões.