APITADELAS - Uma opinião de Jorge Coroado
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Desde muito cedo que tenho dificuldade em compreender a dedicação extrema dos adeptos e sócios de qualquer clube, principalmente daqueles que, apesar das agruras da vida e dos míseros proventos, são presença assídua e fervorosa nas atividades dos emblemas que apoiam. A figura do adepto fiel, que sacrifica o pouco que tem para estar ao lado do seu clube, sempre me foi um enigma. Como podem estas pessoas, que muitas vezes enfrentam dificuldades financeiras e pessoais, encontrar forças e motivação para apoiar incondicionalmente uma entidade? Esta devoção ultrapassa o simples ato de torcer por uma equipa. É demonstração de amor e pertencimento que desafia as lógicas comuns da vida quotidiana.
Hoje, após tantos anos ligado à arbitragem, ainda me surpreendo! Como é possível alguém colocar em risco própria idoneidade e atividade profissional em benefício de um clube? É estranho como e por que motivo, uma pessoa alheia aos órgãos sociais de um clube se dispõe cometer um crime em benefício daquele mesmo clube. Esta questão só é entendível olhando ao poder avassalador da paixão desportiva, capaz de nublar o julgamento e subverter os valores de justiça e ética que regem a vida em sociedade.
De facto, a identificação com um clube, transcende, muitas vezes, a racionalidade, criando uma ligação emocional tão profunda que faz com que os indivíduos ajam de maneiras que jamais considerariam em outras esferas de suas vidas. Os casos de indícios de corrupção em benefício do SLB já divulgados, protagonizados por simpatizantes não integrantes dos órgãos sociais do clube da Luz, constituirão o que se pode chamar interessantíssimo case study da alienação desportiva. Será?...
Integridade