PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha.
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1 Passou uma semana e ainda ecoa o clássico da Luz, com coisas por dizer. Volto ao lance do vermelho a João Mendes.
A verdade é que, dos "especialistas" na matéria que pude ler, ver e ouvir todos alinharam pelo mesmo diapasão: expulsão.
É aí que o jurista franze o sobrolho e faz o costume quando tem dúvidas: vai ler a lei. Um exercício curioso, esse. Toda a gente que vê futebol desde pequenino sabe as regras do jogo. É normal, por isso, que não haja interesse em lê-las. E o que dizem elas então? Que um jogador deve ser expulso se se tornar "culpado de uma falta grosseira" (marquem bem a palavra "culpado").
E é aqui que começam os problemas: o que é isso de falta grosseira? A lei dá uma ajuda e fala em "tackle", em "entrada" que ponha em perigo a integridade física de um adversário. Fala ainda num "ataque" a um adversário na disputa da bola, com força excessiva, pondo em perigo a sua integridade física. A questão é esta: nada na lei recomenda que se expulsasse João Mendes. Nada. Não houve "tackle", não houve "entrada", não houve ataque a um adversário e nem sequer houve disputa da bola com um. O que houve foi simplesmente uma tentativa de dominar uma bola por parte de um jogador que nem sequer se apercebeu que vinha de lá um adversário.
O lance lembrou-me de um outro em que Luis Díaz remata à baliza e na sequência do remate atinge a perna de David Carmo, que fica gravemente lesionado. Também nesse caso houve expulsão. Ora, num caso e noutro o que houve mesmo foi uma interpretação estúpida da lei. Porque em nenhuma das situações existe qualquer culpa do jogador. Um rematou e o outro dominou uma bola.
Finalmente, importa realçar a delícia que é ler alguns desses comentários e compará-los com outros, feitos noutras ocasiões, pelos mesmos articulistas, quando o clube em causa é um dos do costume. Aí, "pisões" que provocam lesões nos adversários não passam de "infelicidades", os gestos são "inadvertidos", os lances "feios", mas não justificam sequer amarelo.
Nessas alturas lembro-me de Pôncio Monteiro: é tudo uma questão de "intensidade".
2 E por falar de intensidade, ou falta dela: dois jogos. Duas mudanças de sistema testadas em jogos a eliminar. Duas competições que acabam antes mesmo de terem começado. Faltam as palavras para escrever sobre isto.