PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha
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1 O onze inicial escalado por Luís Pinto foi aquilo que os americanos chamam um “statement”. Com ele, o jovem treinador quis passar duas mensagens. Por um lado, que não há vacas sagradas. Joga quem ele achar que merece e indiscutíveis é coisa que não há. Por outro, que aqueles reforços que foram chegando ao longo do verão, neste momento contam pouco para ele, pois quem entrou no onze foram dois jovens da cantera. Todos os adeptos gostam de ver os miúdos da formação a jogar. Mas convenhamos que este não era o contexto ideal para os atirar às feras. Ainda assim, há que dizer que os rapazes estiveram à altura, tendo mostrado que merecem ser opção.
Dito isto, o problema dos statements é que, ou bem que resultam e dão força ao treinador, ou bem que não resultam e daí sobra apenas o gesto. Este não resultou. Voltamos a jogar abaixo do exigível e acabamos o jogo com a sensação de que estava mais próximo o golo do Arouca do que o nosso.
Quanto ao mais, importa agora saber como serão interpretados os recados por quem de direito.
2 Com o mercado nacional prestes a fechar, há já algumas conclusões que podemos tirar, em função de dados objetivos que estão à vista de todos. E que dados são esses? Este ano os três clubes mais endinheirados, estão mesmo mais endinheirados. Somam-se as aquisições em que os milhões são sempre de dois dígitos. Já se chegou a pagar 30 milhões por um jogador, coisa nunca vista por estas paragens. Como se costuma dizer, parece que apareceu petróleo para os lados da Luz, Alvalade e Dragão.
E no entanto, para onde foram esses milhões? Foram todos para o estrangeiro. É que mesmo havendo um histórico positivo de aquisições no mercado interno (e o Sporting é talvez o melhor exemplo, pelo menos nos anos mais recentes), desta vez ninguém quis comprar cá dentro. Preferiram todos comprar caro e lá fora.
É uma decisão pouco inteligente, até quando percebemos que o Porto pagou mais caro agora por Alberto do que teria feito há meio ano. Ou quando constatamos que em cima da mesa poderia estar a vinda de Jota para o Sporting por valores mais elevados do que os que foram desembolsados pelo Forest.
Fica difícil aumentar a competitividade quando quem mais tem faz esta espécie de boicote. E seguramente que não é por falta de qualidade de alguns jogadores que por cá evoluem nos restantes clubes.