PONTAPÉ PARA A CLÍNICA - Um artigo de opinião de José João Torrinha
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Nota-se no tom do discurso do novo míster uma cautela de quem não quer elevar uma fasquia que em Guimarães vive permanentemente lá bem no alto. Isso transpira da mensagem quando não se pretende valorizar excessivamente os bons resultados conseguidos na pré-temporada, mas também quando o técnico não se quer comprometer com um objetivo definido, pelo menos numa fase tão madrugadora desta maratona.
E se no que toca à primeira cautela ela é não só absolutamente compreensível, como certeira, pois que todos sabemos que esta espécie de “Liga de Verão” que os clubes vão disputando tem um valor facial muitíssimo relativo, já no que concerne aos objetivos, a coisa fia mais fino. E fia mais fino porque aí entra a gestão de expectativas dos adeptos e mesmo dos próprios jogadores, expectativas essas (pelo menos no que toca aos primeiros) tantas vezes descalibradas relativamente à realidade.
Luís Pinto não se quer comprometer, mas as contas, a esse respeito, são fáceis de fazer. Se quisermos ser realistas, percebemos que, nos dias de hoje, por muito que isso nos custe, não podemos exigir à equipa nenhum lugar acima do quinto. Isto é dito assim, com esta crueza, porque se os chamados estarolas sempre viveram num mundo aparte do nosso, o certo é que o nosso eterno rival evoluiu para um patamar em que dispõe de armas a que nós não conseguimos aceder.
Quando se lê que contrataram dois jogadores por valores acima dos 10 milhões de euros, percebe-se que estamos já a falar de valores com os quais os vitorianos só podem sonhar. Isto quer dizer que é impossível ficar à sua frente? Claro que não e o Vitória tudo deve fazer para o conseguir. Mas exigir isso? Exigir, se quisermos ser sérios e estar de boa-fé, não o podemos fazer.
Por outro lado, sabendo-se que o apuramento europeu é para nós uma necessidade, então sim, podemos afirmar que esse é o lugar que os vitorianos têm o direito de reclamar. Uma tarefa que, ainda assim, não será fácil. Mais importante do que tudo isto é, contudo, a aproximação que o Vitória deve fazer aos lugares de topo. É percebermos se, ano após ano, nos estamos a aproximar ou a afastar desse comboio. Neste particular, sou um otimista e confio que quem nos dirige prosseguirá um caminho que temos vindo a trilhar e a consolidar. Um caminho mais fácil de percorrer quando as expectativas estão bem calibradas.