A JOGAR FORA - Uma opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - Quatro letras bastam para apontar responsabilidades pela vergonha do que se passou ontem à noite no Jamor: Liga.
Não é tempo mais do que suficiente para se regulamentarem situações como as provocadas pelos surtos de Covid nas equipas?
Vivemos numa pandemia há quase dois anos e vale, por isso, perguntar: não é tempo mais do que suficiente para se regulamentarem situações como as provocadas pelos surtos de Covid nas equipas? A ninguém passou pela cabeça a necessidade de se programarem os calendários por forma a encaixar jogos que comprovadamente precisem ser adiados?
Depois do presidente do Belenenses ter afirmado ao longo do dia de ontem que ia a jogo, a partir do momento que o Belenenses não avançou com o pedido de adiamento do jogo junto do Benfica a tempo e horas, que as autoridades sanitárias anuíram à sua realização, que a Liga fez (que se saiba) nada para impedir que a vergonha se consumasse, ao Benfica só restava uma possibilidade: cumprir os regulamentos e ir a jogo com todo o profissionalismo possível.
Nem é preciso lembrar os mais amnésicos que o Benfica foi obrigado a jogar com o Nacional para a Liga com inúmeros jogadores infetados (empate na Luz), ou que jogou com o Braga para a meia-final da Taça da Liga (e não por vontade de fazer descansar titulares) com uma defesa constituída por João Ferreira, Todibo, Weigl, Jardel e Cervi (derrota com o Braga por 1-2 em Leiria). O Benfica teria até boas razões para querer adiar em tempo útil a partida com a Belenenses SAD - depois de passar pelo que passou a época passada, tudo o que não quererá é correr o risco de voltar a viver o mesmo pesadelo.
Uma coisa é certa: o futebol português vai voltar a correr o mundo pelas piores razões.
2 - Foi nas mais insultuosas condições até hoje vividas enquanto adepto visitante que desesperei com a forma como aos 90"+3" minutos Seferovic desperdiçou o golo mais cantado da (minha) história do futebol. Teria sido para os pouco considerados adeptos encarnados a vingança perfeita - ver o jogo lá no cocuruto do gigantesco estádio, tudo bem, já conhecíamos o setor onde nos iam enfiar, quem quisesse distinguir o Grimaldo do Yaremchuk que tivesse providenciado uns binóculos; levar com uma valentíssima carga de água durante quase três horas, menos mal, sabíamos que ia chover a cântaros e que as bancadas do Nou Camp são mais descobertas que a careca do Yul Bryner; mas ver o jogo com umas enormes placas de acrílico pela frente foi como tentar conduzir em noite de chuva ao volante de um automóvel com o para-brisas avariado. O vergonhoso desrespeito do Barça por quem paga para assistir a um jogo esteve bem à altura do degradante momento por que o clube passa.
Depois do empate no Nou Camp - justo, se bem que com aquele sabor final a derrota -, custará muito se, somando quatro pontos contra o Barcelona, não conseguirmos o apuramento. A Liga Europa está assegurada - e isso ao menos garante jogos internacionais para lá de dezembro -, contudo, vencer o Dínamo de Kiev na Luz e esperar que o Bayern não seja derrotado em casa pelo Barcelona não é utopia sem sentido, simples questão de fé ou mero exercício matemático - é uma possibilidade tão real que as casas de apostas online não lhe atribuem odes especialmente convidativas.