A JOGAR FORA - Opinião de Jaime Cancella de Abreu
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1 - O futebol português tem tanto a aprender com o inglês que mete até dó.
E não me refiro aos clássicos problemas da intensidade, do número de faltas ou do tempo útil de jogo - refiro-me, desta vez, à forma como eles relevam a história dos clubes um pouco por todo o lado à volta dos recintos; como respeitam os adeptos visitantes, que se misturam com os da casa no vai e vem do estádio sem precisar da proteção de qualquer aparatosa força policial; como constroem uma atmosfera tão positiva que a ninguém passa pela cabeça ouvir cânticos ofensivos para com o adversário, muito menos para com um rival ausente; ou como dispensam claques pela simples razão de que todo o estádio é uma claque.
2 - "Esse amor não dá para explicar, tem que sentir!" - considerou o locutor de um canal brasileiro enquanto ia observando aquelas imagens, que correram mundo, dos adeptos do Benfica manifestando-se na "visitors section" de Anfield muito para além do apito final do árbitro. Deixo a sugestão: sempre que Rui Costa precisar de explicar a alguém o que é o benfiquismo, que lhe mostre as empolgantes e comoventes imagens da noite de quarta-feira - é quanto basta.
3 - Recordo dois dos golos anulados ao Benfica pelo VAR - um fora de jogo de seis centímetros contra o Sporting, na Luz, e outro de quatro centímetros no Dragão, para a Taça - e aposto em como o segundo e o terceiro golos de quarta-feira à noite jamais teriam sido validados pelos homens que decidem os foras de jogo na Cidade do Futebol. Porque não cria a UEFA uma central de profissionais altamente qualificados, insuspeitos, imunes a pressões, para oferecer um exemplar serviço de VAR às suas federações mais necessitadas?
4 - Em Anfield, evitada a catástrofe numérica que muitos anteviam como mais do que certa, Grimaldo comentou: "Ninguém esperava que lutássemos como lutámos." Como assim? Os adeptos esperam que os jogadores lutem sempre de forma sacrificada e abnegada, que deixem a pele em todos os campos. Logo mais, em Alvalade, têm Grimaldo e colegas uma oportunidade única para mostrarem que sabem lutar cá dentro da mesma forma como lutaram lá fora ao longo de toda a época. Ou, como dizia o grande João Saldanha: "Só a vitória interessa. Já vamos entrar em campo perdendo de zero a zero!"