PASSE DE LETRA - Opinião de Miguel Pedro
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1 - O livro "Animal"s Farm", de George Orwell, conta a história de um grupo de animais que se revolta contra o opressivo proprietário de uma quinta.
Para regulamentar toda a sua atividade como animais iguais, instituem o "Animalismo", resumido em sete regras: aquele que andasse em duas pernas era inimigo, o que andasse em quatro patas ou tivesse asas era amigo, os animais não podiam vestir roupas, dormir numa cama, beber álcool, matar outro animal e, o mais importante, todos os animais eram iguais.
Os porcos, aparentemente os mais letrados e inteligentes, com o andar do tempo foram mudando as regras em seu proveito, para poderem explorar os outros animais, sendo a mais importante a alteração da sétima regra do Animalismo "Todos os animais são iguais", à qual os porcos acrescentaram: "mas alguns são mais iguais que outros".
É o que parece que está a acontecer com a regra do Fair Play Financeiro, imposta pela FIFA para controlar os gastos dos clubes e assegurar alguma competitividade e transparência na gestão dos milhões do futebol. A regra não deixou que Messi assinasse pelo Barcelona, mas permite que o PSG o contrate, clube este que já tem vários craques milionários e com uma massa salarial superior ao orçamento anual da grande maioria dos municípios portugueses.
O PSG, detido pela família Al Thani, dinastia que governa o Catar desde 1825, num sistema de oligarquia bem pouco "democrática", é hoje o expoente máximo do capitalismo no futebol e representa a ideia de que o dinheiro tudo consegue, incluindo "comprar" as regras que o regulam. Para os verdadeiros adeptos do desporto - e do futebol em particular - é uma ideia que nos mexe com as entranhas. Por isso, é importante para o futuro deste desporto, para a sua competitividade, que esta época o PSG não consiga qualquer título, pois comprovará a ideia de que os títulos podem ser comprados.
2 - O borrego vai ter que ficar para outra altura. Antes de começar o jogo de ontem, tive aquela sensação de que, contra este Sporting de Amorim, "são 11 contra 11 e no fim ganha o Sporting". E o jogo veio a confirmá-la.
O Braga não tem encontrado o antídoto para vencer ou, pelo menos, não sofrer golos contra a equipa de Rúben Amorim. Os jogadores - parece - sentem o estigma do "jogo perdido antes de começar" e penalizam as suas performances por isso, pois todos temos a certeza de que a equipa pode jogar mais do que aquilo que jogou ontem, ainda que tenha dado tudo para vencer um jogo que foi decidido só pela eficácia.
A questão, agora, é perceber se esta época (vamos ainda encontrar o Sporting, e, vaticino eu, mais do que uma vez) iremos conseguir perceber o que deveremos fazer para não sofrermos golos contra os de Alvalade. E que tal jogar à defesa, à moda antiga, tipo anos 80, com cinco defesas e dois trincos? Se calhar, até resultava....