PASSE DE LETRA - um artigo de opinião de Miguel Pedro
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1 Na flash-interview no final do empate contra o Rio Ave, João Moutinho foi claríssimo e pragmático: uma equipa que se arroga como candidata, pelo menos, ao pódio não pode dar uma vantagem ao adversário de 45 minutos. O desalento enérgico de Moutinho era, afinal, o nosso: sentimos, na segunda parte, que o Braga é uma equipa com mais valor e talento do que os vila-condenses, mas não conseguimos mais do que um empate. Tal como no jogo anterior, contra o Aves SAD. E, se o leitor bem se lembra, também nos jogos que vencemos entrámos mal, dando claras oportunidades de golo aos adversários, que não concretizaram. Ora, a perder, de forma algo displicente, estes pontos contra adversários bem inferiores, em pouco tempo o comboio dos três grandes começará a afastar-se de forma irrecuperável, e lá ficaremos de novo naquele que tem sido o nosso habitat natural: o quarto lugar. Não é uma classificação que desmereça, mas sabemos que podemos entrar na luta por melhor, atrapalhar as contas dos crónicos candidatos e, por isso, tal como João Moutinho, exigimos mais da equipa, principalmente nas primeiras partes, que têm sido muito abaixo do que se espera da aparentemente ambiciosa equipa de Carlos Vicens.
2 Vamos ter de nos habituar ao antijogo, ao que parece. Os jogos contra o Aves SAD e Rio Ave (principalmente o primeiro) foi um hino ao antijogo, à negação do jogo. No futebol português, o antijogo instalou-se como um problema persistente: entre simulações, interrupções calculadas e o lento reinício das jogadas perde-se o ritmo, a intensidade, a autenticidade do espetáculo e a qualidade do jogo praticado. Os adeptos ressentem-se de ver faltas desnecessárias de tempo, jogadores a fingir lesões e esperam do árbitro que impeça que este comportamento antifutebol prolifere. Mas ainda não vi nenhuma vez em que a regra dos oito segundos tenha sido aplicada num jogo do Braga (o IFAB aprovou recentemente uma alteração ao artigo 12.2 das Leis do Jogo: guarda-redes que segurem a bola por mais de oito segundos serão penalizados com um canto para a equipa adversária). O célebre árbitro Pierluigi Collina, atual responsável pela arbitragem da FIFA, defende que os momentos que interrompem o jogo (substituições, VAR, celebrações, lesões, cartões, penáltis) devem ser contabilizados de forma exata no tempo de compensação, em vez de meras estimativas, arbitrárias e injustas. E, enquanto isso, os bons jogos, tipo liga inglesa, vão escasseando no nosso mísero campeonato tão “portuguesinho”…