Um guarda-redes a jogar bem com os pés viu-se na precisão com que Diogo Costa lançou Galeno
PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - O novo milénio trouxe o incrível mundo dos guarda-redes que têm de jogar bem com os pés. Um erro nesse gesto técnico que antes, durante longos anos, ninguém ousaria exigir (e até se evitava), passou a ser visto com um olhar fulminante para o guarda-redes.
Entendo a nova necessidade vinda da alteração das regras mas a atual complexidade da primeira fase de construção passou a exigir-lhes algo que já não é só receber/controlar passes atrasados, mas sim obrigá-los a receber a bola sob pressão na pequena área, tendo de jogar quase como um defesa-central a passá-la para o pivô receber de costas ou ao lateral projetado. São momentos de pôr os cabelos em pé. Se corre mal (e corre tantas vezes), a hipótese de dar golo é enorme.
O guarda-redes da dita nova geração vive neste precipício. Os jogos da Champions têm mostrado diferentes faces desta realidade. Quando Adán falhou em Marselha não me pareceu muito incomodado. Ele sabia que não iria melhorar muito nesse aspeto mas iria, num jogo seguinte, fazer a diferença onde antes os guarda-redes mostravam o valor sem mais: nas grandes defesas que salvam golos feitos e dão resultados. Assim foi, nos Açores.
2 - O que, porém, me levou a pensar mais no tema foi ver, em Leverkusen, Diogo Costa na dimensão certa deste duplo-mundo. A defesa do penálti foi gigante, mas onde vi o que deve ser um guarda-redes a jogar bem com os pés foi na precisão com que lançou dessa forma um contra-ataque para Galeno receber a bola e, ato imediato, ir para cima do último defesa e fazer o golo.
Em vez de lhes pedirem para jogar como um central quase sobre a linha de baliza, é neste ponto, da reposição da bola em jogo, lançando um ataque rápido/contra-ataque, que este novo traço dos guarda-redes deve ser mais ensaiado. Ederson, em Manchester, também faz (já fazia no Rio Ave) esses lançamentos incríveis. Outros farão. A maioria porém, parece-me, mais de iniciativa individual e não pensada (como é o complexo sair a jogar desde trás). Foi importante, nesse contexto, Conceição frisar que o lance foi trabalhado. Devia fazer escola. Treino e jogo.
3 - Os erros evidentes de Adán e de Esgaio, em cada jogo com o Marselha, são tentadores para explicar as derrotas por causas individuais, mas (independente dessas falhas arrepiantes) os problemas revelados pelo Sporting em ambos os jogos, como em outros desta época, estão longe desses casos particulares.
São mais consequência de problemas do processo defensivo e, nesse ponto sim, pode-se analisar as prestações dos seus intérpretes. Mas nunca por erros em lances isolados e sim por características (sobretudo médios, mantendo o mesmo sistema) ou questões de posicionamento da linha defensiva, hoje, sem a mesma sincronização de alinhamento de outras épocas.
Como meter draxler a titular?
O jogo do Benfica em Paris mostrou a maturidade da equipa para grandes jogos. Schmidt sabe, porém, que tem de o relativizar por não ter ainda o peso dos confrontos a eliminar. Nesta sua equipa forte no plano tático terá, agora, um grande desafio: como inserir Draxler no onze?
Não imagino um jogador deste nível vir para o futebol português sem ser para protagonista. A questão é que neste momento não o é, nem a forma tática do 4x4x2 encarnado tem uma entrada clara para ele sem mexer nas suas dinâmicas e sobretudo equilíbrios porque o seu lugar natural seria a ala esquerda onde está o falso-ala organizador/equilibrador João Mário. A opção de segundo avançado mexe no espaço Rafa, hoje intocável.
Mais opções? Pode ser à direita e alternar com Neres. Noutra variante, João Mário pode por vezes recuar para médio, até pela necessária gestão física dessa dupla e, assim, Draxler jogar na tal faixa esquerda. Mas embora isso dê dinâmica ofensiva para os ditos jogos normais do nosso campeonato, compromete o tal equilíbrio contra adversários mais fortes.
Não é uma equação simples porque mexe na nobreza do onze e, apesar de Draxler poder arrasar ofensivamente, uma mudança posicional em falso no sistema arrisca todo o equilíbrio dinâmico/competitivo revelado até agora.