PLANETA DO FUTEBOL - Uma análise de Luís Freitas Lobo
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Não é só a questão de elogiar o lateral que corre muito e destaca-se a atacar (os espanhóis batizaram-nos há alguns anos de “carrilleros”), mas sim de ver o critério com que esses novos donos dos flancos de trás para a frente em termos de ganhar profundidade (o império dos extremos de “pé trocado” veio para ficar) conseguem, nessas iniciativas, mostrar fundamentos de jogo além da mera física-velocidade.
Tudo começa na velocidade com que arrancam, mas tudo termina na forma como definem. É aí que se vê quem sabe jogar mesmo!
Dedic está a criar esse impacto neste Benfica de arranque de época. Tudo começa, ok, na velocidade com que arranca, mas tudo termina na forma como define depois na frente o passe (é aí que se vê quem sabe jogar mesmo) e no percurso, o caminho a tomar, mais por dentro ou por fora, a finta em progressão e, por fim, algo que os treinadores tanto gostam, em nome da glorificada intensidade, o ganhar de duelos por todo o campo.
Os adeptos adoram este tipo de jogador. A sedução pelo esforço (que nunca se prescinde) antes da criatividade (que às vezes é um adorno, perda de tempo). Estranho futebol este.Pelo menos, se gostam mesmo do jogador, que o apreciem naquilo em que ele é mesmo bom. Dedic não é um lateral moderno de alto nível por correr muito. É por ter fundamentos de jogo quando o faz, sobretudo quando para, escuta, olha e... decide. O resto é esforço.
William Gomes ganha espaço no ataque do FC Porto. É um jogador perfeito para a “fariolização” ofensiva da equipa que quer, nos últimos 30 metros, jogadores de “ir para cima” e ultrapassar defesas com agressividade.
Num jogo de ataque continuado contra o Casa Pia não se sentiu a falta de outro tipo de jogo que... outro tipo de jogador possa dar. Ou seja, não se sentiu a falta de Pepê (Mora é outro debate) e a leitura de, em vez de jogar sempre vertical, saber quando deve “ir dentro”, fazer arrastamentos e arriscando... perder a bola, ter o impacto na movimentação coletiva além da mera individualidade (empolgante, mas menos elaborada) de William Gomes.
Também tem os laterais no seu processo de “levantamento de voo”. Alberto Costa é, nesse contexto, um jogador que arranca a pensar sempre que vai passar por cima de todos, mas quando chega o momento do confronto/definição, emaranha-se nele próprio vezes demais. Como a equipa ataca sempre com muitos, e ele tem esses apoios próximos, a coisa (a jogada) resolve-se, mas, em rigor, precisa de trabalhar, em especificidade, critério de como acabar as jogadas.