PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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Ela sorriu e ele foi atrás (e a satisfaz). Penso na bola e em João Félix. Adaptando a letra da música dos Xutos, “aqui ao luar da Arménia”, João Félix ressurgiu com a cara e sorriso do menino que surgiu, há uns anos, na equipa principal do Benfica (antes da “Simeonização depressiva” da sua criatividade) e que ganha vida quando pega na bola nos espaços em que se sente feliz, a segundo-avançado livre. Na estrutura, até começava na ala-esquerda, mas o seu campo de sonhos é no meio, onde surgiu, nos toques/xutos mais bonitos e golo com arte.
Assim começou esta jornada dupla de Portugal rumo ao Mundial’2026. Podem dizer que o apuramento é hoje uma formalidade (tal a diferença para os adversários), mas é preciso mostrar em campo.
O jogo fácil na Arménia só o foi porque a Seleção, pela forma personalizada e com criatividade coletiva a atacar, o tornou fácil. Bastaram uns piques de Pedro Neto (o nosso extremo verdadeiro), com Cancelo, lateral a chegar desde a defesa, para desmontar, fintar e cruzar. Golo. O tapete do nosso futebol apoiado estava estendido (0-5 e podiam ser mais).
Foi diferente na Hungria. O papel de Félix foi ocupado por Bernardo Silva, mas só em tese. Porque Félix flete pensando como avançado e Bernardo flete para pensar como médio.
O extremo Pedro Neto manteve-se, mas em vez da dupla atacante fizemos, muitas vezes, um “meio-campo a 4”, onde o elemento que devia surgir mais da retaguarda era Bruno Fernandes. O encaixe de marcações individuais húngaro tirou-nos os espaços livres para ruturas e caímos num jogo de excessivos cruzamentos (até Bruno Fernandes sair). A atenção na transição defensiva tinha de estar mais ativa. Ficámos muitas vezes descobertos nas faixas atrás e assim sofremos dois golos.
Demos a volta ao resultado (de penálti) pela presença constante, de quase toda a nossa equipa, em cima do meio-campo magiar. Mais do que criatividade atacante, volume ofensivo.
No fundo, mantendo o primado da posse, demos diferentes soluções para jogos diferentes de abordar. Sempre com a consciência que a categoria individual dos nossos jogadores resolveria qualquer problema coletivo. O golo de Cancelo (2-3) é um tratado de craque do melhor jogador português nos dois jogos.
Da Arménia à Hungria, duas vitórias, diferentes exibições e sensações. Do renovado aroma do “gato” Félix ao futebol do “lateral-total” Cancelo.