PLANETA DO FUTEBOL - Um artigo de opinião de Luís Freitas Lobo
Corpo do artigo
Lembro -me bem daquele sábado à tarde de 1996, também no fim de agosto. Ir a uma fase final do Mundial continuava a ser um sonho para a minha geração nascida pós-Eusébio’66. Por isso, aquele jogo na Arménia (então exótico país saído da ex-URSS) era contra um adversário tão desconhecido como perigoso. Corria, lutava e estávamos numa fase em que a chamada “geração de ouro” atingira a maturidade, mas ainda vivíamos uma relação complicada com a Seleção. Era vista como algo de constante sofrimento e desilusões.Os adeptos não tinham esta loucura em torno dela. Estava a querer deixar de ser quase o “patinho feio” do nosso descontentamento, mas estava muito longe de ser o “cisne” que se tornou já só no início dos anos 2000. Confesso que crescera a ver Mundiais sem sombra de Portugal (caído em qualificações em que os apurados eram muito menos e as forças eram muito diferentes), vibrava e, sobretudo, sofria mais pela Seleção nesse tempo.
O penálti do Oceano!
Por isso, recordo-me tão bem desse jogo (onde jogámos, como era habitual, sem ponta-de-lança, mas com dois “falsos 9”, João Pinto-Sá Pinto) e do momento em que, com o 0-0 cravado num jogo horrível, com choques e a batermos num muro, tivemos um penálti mesmo a acabar. Último minuto, marca o Oceano... ao poste! Pronto, nada a fazer, era o fado, o destino, tudo o que as bruxas quisessem. O resto do apuramento seguiu esse trilho até à histórica expulsão de Rui Costa na Alemanha.
A verdade é que, tirando esse último jogo (quase como “remake” do milagre de 85), todos os outros tinham sido de partir o coração. Fomos eliminados, claro, (e, nas contas finais, atrás da Ucrânia, segunda classificada, aqueles pontos perdidos na Arménia foram decisivos). Já passaram quase 30 anos (devem ter metido o tempo em “fast forward”) e tudo mudou. Hoje vamos à Arménia e nem nos passa pela cabeça outra coisa senão ganhar e vir embora. Outra coisa abriria uma crise de análises.
Os nossos adoráveis baixinhos!
O selecionador Roberto Martinez fala do passado para tornar o jogo mais difícil, mas não viveu na pele a realidade que descrevi de 1996 (então com o confuso bigodão de Artur Jorge no banco). Vitinha surge na conferência de antevisão a falar de poder ganhar a “Bola de Ouro”. Seria até justo, mas este futebol atual não olha com esses olhos para estes “médios baixinhos” que são, essencialmente, “jogadores de equipa”. Na verdade, em rigor, eles fazem a equipa.
Preferem o marketing do golo. Só que, ao lado de Vitinha (espero que não esteja a lateral), está outro baixinho que joga pela mesma escola de toque, passe e foge: João Neves (o baixinho dos dois golos em bicicleta no PSG que o fizeram campeão europeu). Em 1996, também tínhamos um “baixinho” (o maior da história dos baixinhos), o Rui Barros, mas esse era mais de correr e sprintar, “formiga” ou “rato atómico”. Estes pensam, logo existem. Isto é, a seleção (a equipa a pensar o jogo) existe!