PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
Corpo do artigo
1 - O clássico confrontou duas equipas que, a meio do campeonato, vivem em polos existenciais opostos.
Para perceber como se chegou a este ponto basta seguir a relação entre treinador e clube desde o início. Recuemos uma semana ainda com Jesus no banco do Benfica. Nessa altura, o seu enquadramento no mundo benfiquista já era o de alguém a conduzir em "contramão" na autoestrada. Toda esta sua segunda passagem no Benfica foi, aliás, em "contraciclo". Conduziu o "Ferrari" sem nunca (querer) perceber que, em vez dessa autoestrada, estava preso num trânsito de oposição interna que nem o deixava andar. Os erros (de ego, avaliação e ação) que cometeu a partir desse momento, acabaram por o condenar com todas as sombras de pecado de quem o fez a pairarem em torno dele como se nenhuma responsabilidade tivessem.
2 - Para existir uma rebelião de balneário contra um treinador desta dimensão é necessário muito mais do que apenas alguns jogadores descerem a montanha. Mesmo tendo eles essa autoridade no grupo, tal só seria possível, por si só, perante um líder sem quilometragem de experiência, incapaz de conhecer todo o submundo de cada balneário. Não era, claro, o caso (num cenário mais habitual do que se imagina no futebol).
A queda de Jesus precisou mais do que um "saco de moedas" mas foi quem, com o suporte do império, o tornou possível desta forma tão explícita e implacável. As multidões (entenda-se aqui adeptos), como a história (do futebol e da humanidade explicam milenarmente), limitam-se, nestes casos, a seguir o poder. Raramente, porém, em casos destes, ele tem um plano definido para qual regime (ideia) instalar a seguir, tal o tempo consumido antes exclusivamente em derrubar o anterior. É o desafio que neste momento se coloca ao Benfica.
3 - Antes de encontrar Conceição, o seu carisma (de passado e saber capitalizá-lo no presente), estilo de comunicação, liderança, noção de crescimento como treinador mas de conhecimento interno superior do mundo portista, também o FC Porto viveu vagueando entre treinadores que, desde deslocados do clube ou precocemente lançados, não souberam encaixar nessa teia complexa de poderes e influências que fazem as tais sombras de pecado de cada clube.
Por isso, a melhor frase de Conceição (em termos de poder de comunicação e definidora do que ele é - e teria de ser- nesse contexto portista) foi dita logo no dia da apresentação. Não falou em jogar o triplo (o FC Porto não ganhava nada há quatro épocas) nem em arrasar. Falou que não vinha para aprender. Disse que vinha para ensinar. A partir daí, qualquer sombra que comece a crescer em seu torno, ele já a viu ao vivo muito antes. Não existem rebeliões de balneário que possam crescer (nem ser incentivadas) dessa forma. E assim resistiu a tudo.
O estilo do "baixinho blasé"
O início do novo ano provoca a vontade de buscar os que, ao longo dos anteriores 365 dias de futebol, mais nos cativaram. Pensando no universo dos relvados portugueses, os últimos tempos têm sido marcados pelas diabruras excêntricas de Luis Díaz, mas, avaliando o plano geral do ano, o jogador que mais me seduziu, entre ser revelação ao mais alto nível e confirmação como elemento diferenciador capaz de fazer ganhar por si só, é Pedro Gonçalves.
No Sporting de Amorim ele foi sempre o traço imprevisível dentro de uma equipa que jogava (joga) quase como um programa de informática instalado através dum sistema tático que quase não admite erros (tem um "firewall" potente quando as ameaças se aproximam).
Penso nele e revejo o seu estilo meio trocista de como anda em campo, olhando para os adversários como se os provocasse (e provoca mesmo), a forma dengosa (quase parecendo desentendido da jogada) como se aproxima da bola, e, sobretudo como depois executa cada remate (que coloca a bola com os olhos bem abertos a caminho das redes) ou, nesse seu estilo de "baixinho blasé", faz como passes à baliza que o guarda-redes não consegue alcançar. Um verdadeiro "pote encantado de golos e futebol" que marcou o renascimento do Sporting. O meu jogador do ano. Sem dúvidas.