PLANETA DO FUTEBOL - Opinião de Luís Freitas Lobo
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1 - Podemos definir táticas e posicionamentos que, depois, basta um jogador escorregar no momento decisivo e tudo isso deixa, na prática, de ter aplicação. O Vizela, taticamente bem orientado de boné por Álvaro Pacheco e suas ideias do futebol virado para a baliza adversária, estava a encarar o jogo a acabar, contra o Benfica e com 0-0, da mesma forma.
Foi então que, já no oitavo minuto de compensação, Samu na ânsia de sair para o contra-ataque, escorregou e deixou o flanco aberto (o lateral também disparara a subir). De pé no banco, Álvaro Pacheco temeu/adivinhou logo o pior e virou, resignado, as costas ao lance de mãos nos bolsos. Quando vi esse seu gesto, vi pela cabeça dele o golo em antecipação. Assim foi.
2 - Tudo isto sucede numa jornada em que as maiores questões táticas foram centradas no debate, lançado por Conceição, e depois pelo próprio Pacheco, sobre o uso de botas com pitons de borracha ou alumínio. Ambos criticaram, vendo como os seus jogadores escorregaram, aquilo que estes preferem atualmente, os de borracha (ou modelos híbridos) que têm claramente menos aderência. Por que os preferem então? Porque, mais leves, dão mais mobilidade mas menos tração e também menos prisão ao relvado que aumenta (em tese) risco de lesões (maior em terreno seco).
Nos terrenos molhados de Tondela e Vizela tinham, porém, outro risco, o das escorregadelas taticamente comprometedoras. A ironia dos pitons das chuteiras brincou, assim, com a mais complexa análise e preparação tática do jogo por parte do treinador.
3 - O Vizela voltou a mostrar (nas bancadas e no relvado) por que é das equipas mais empolgantes do campeonato. Voltou a soltar o seu 4x3x3 com um triângulo do meio-campo de pressão e saída (coberto pela experiência de Claudemir atrás e solto com bola para subir através dos interiores Marcos Paulo e Samu) no apoio a um ataque onde, com laterais projetados (e, atenção, faltou a mota Koffi), quero destacar um ala/extremo de quem gosto muito e acho ir perfeitamente a tempo de dar jogador de equipa grande: Nuno Moreira, da formação do Sporting. Sabe ler o jogo e (apesar de não definir a execução sempre bem) joga muito.
4 - O último lance com ironia e fineza tática disse também de que matéria é feito Pizzi. Podem criticá-lo, metê-lo no banco, dizer que o seu tempo já passou e que até entra sonolento. Com o jogo a sério, a precisar de quem o assuma para o decidir no momentos mais difíceis, não há, no Benfica, ninguém como ele a ativar meio-campo com ataque. A raça com classe. No assumir da bola e na precisão do passe. Fim de discussão.
O "canarinho" mais enganador
O jogo entre as duas equipas-sensação Portimonense e Estoril (duelo 4.º-5.º classificados), correspondeu à qualidade prometida. Foi, mesmo perdendo, do jogos em que gostei mais de ver a equipa de Paulo Sérgio, embora voltasse a desequilibrar-se vezes de mais nas costas quando perde a bola na saída para o ataque. Permite, assim, a chamada "contra-transição" ao adversário e sofre golos mais pela forma como quer atacar do que por aquela como defende (onde, em organização, é das mais sólidas). Em transição, porém, sofre muito.
Bruno Pinheiro estava, no fim, feliz, gesticulando em campo sobre como a equipa trocou a bola (sobretudo no 0-1), mas para isso esteve alerta a equipa estorilista para pressionar a saída algarvia. Este Estoril, embora goste da posse, é competitivo sobretudo pela forma como defende (com referências individuais), rouba a bola e depois mete a transição apoiada, esticando-a no momento certo para os avançados. Gamboa segura como médio (encosta-se aos centrais ou toca para o n.º 8 Rosier) enquanto André Franco ilumina a ligação ao ataque (com golo).
Ou seja, é um onze "canarinho" que engana bem o adversário, dizendo querer ser de posse mas que, depois, impõe-se pelo encaixe que faz nas forças adversárias para, recuperada a bola, o ferir em poucos passes.