VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
Corpo do artigo
Depois da águia domar o leão pela honra, foi a vez do dragão domesticar o leão pelo acesso à muito desejada final da Taça de Portugal.
Não que esta equipa de Rúben Amorim seja um animal doméstico, longe disso. O Sporting que perdeu com o Lask na época passada, afastado das competições europeias, esse sim era animal doméstico por não jogar fora de portas, apenas domingo a domingo e para consumo interno, nada desgastado.
Audaz pelo que ainda não sabia fazer, acabou campeão. Este Sporting, o desta época, é melhor e mais robusto. Mas mais antecipável. Mais consumido, com mais lesões, menos sorte e a enfrentar um FC Porto muitíssimo superior e consistente.
Nos dois clássicos recentes, não consegue marcar um único golo e só dá luta na 1.ª parte no Dragão, onde jogou o que lhe sobrava da época. Futebol é futebol, mas a matemática não é uma ciência oculta. Após perder em casa no "derby" lisboeta, o Sporting deixou de morder calcanhares e só poderá ser campeão se o FC Porto quiser oferecer um título.
Na 1.ª parte do clássico da Taça, fruto da dúvida, o FC Porto não se sentiu confortável no jogo. Demasiados passes errados, falta de capacidade para ganhar a "segunda bola", falta de lucidez nas transições ofensivas, alguma desarrumação no espaço. A equipa não está habituada a ter que se controlar no domínio do jogo e a jogar na expectativa, criando dúvidas sobre o seu momento de defender ou de atacar.
Ainda assim, o Sporting só cria uma verdadeira oportunidade num lance em fora de jogo, explorando a profundidade e o espaço nas costas da defesa portista.
A segunda parte é de muitas oportunidades e de uma imensa superioridade que Toni Martínez traduz em vantagem no seu primeiro toque na bola, perante um adversário que sempre esteve forçado a marcar dois golos, perdia pilhas e sentia cada minuto que passava como o fim antecipado de uma época.
Com 12 pontos ainda em disputa, bastará que o FC Porto some 4 para ser campeão. Uma vitória e um empate. Pontuar no jogo de amanhã em Braga (sempre difícil mesmo frente a uma equipa sem objetivos), indicará que o jogo do título se joga no Dragão, frente ao Vizela, na semana seguinte. Mas a noite de amanhã, 25 de Abril, reserva um Boavista-Sporting onde os axadrezados, em sua casa, querem assegurar matematicamente a merecida manutenção.
Epifania bonita esta, onde os dois maiores clubes da cidade podem fechar as contas no Dia da Liberdade.