VELUDO AZUL - Opinião de Miguel Guedes
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São bem conhecidos os galos que mudam de cor, anunciando o tempo. Embora caídos em desuso, sensíveis às condições atmosféricas dos dias, ainda são uma marca portuguesa do século XX, relíquias dos tempos das cassetes de crómio. O jogo com o Gil Vicente, hoje à noite, será sensível e para gravar no sistema. O galo, aforismos e diversas aceções.
Há uma marca de portugalidade profunda que, se for de Barcelos, o galo transporta. Objeto, cultura popular e cores matriz. O FC Porto que espalha o futebol português pelo mundo (ainda o fez, há dias, frente à Lázio) não se pode espalhar ao comprido contra o galo português. Facilitar só pode dar nele, galo.
Tendo a hipótese de aumentar para oito pontos a distância que o separa do seu principal rival (o Sporting, que ontem deixou dois pontos na Madeira), o FC Porto não pode cantar como o animal em causa e abordar o jogo sem que - como Sérgio Conceição referiu - seja uma verdadeira final. Esta noite, como no familiar jogo do galo, só um Dragão simples e a uma só voz, sem cantar de galo e em família, poderá enfrentar o melhor Gil Vicente da época.
Nos últimos 15 jogos para a Liga, o Gil só foi derrotado por Braga e Sporting. 9 vitórias e 4 empates para uma equipa que ainda não perdeu qualquer jogo este ano, não sendo derrotada em qualquer partida fora de casa (ganhou, inclusivamente, por 1-2 no Estádio da Luz) desde que entramos em 2022.
Este ano, é mais um em que o FC Porto quer celebrar maio nos Aliados e, para tal, o jogo de hoje, com muitas ausências e de vulto, é importantíssimo. Pepe, Uribe, Grujic e Marchesín, castigados. Manafá, de fora, João Mário e Bruno Costa, em dúvida. Para uma equipa que surgirá desgastada, após um jogo de Liga Europa que cheirou a Champions, a inevitabilidade da reconfiguração da defesa e do meio campo é uma boa e uma má notícia, simultaneamente.
Se é verdade que dificilmente poderia jogar com o mesmo onze que eliminou a Lázio, também é certo que são demasiadas as peças chave do equilíbrio defensivo que ficarão de fora. Será, porventura, o tempo de Eustáquio, assim como de Vitinha e Fábio Vieira mostrarem porque nenhum dragão tem receio de os ver a assumir o jogo.
Quase não pôde haver preparação para o jogo com o Gil mas esta equipa tem todas as razões para jogar com a felicidade e confiança que transporta como capital acumulado.
A primeira mão da meia final da Taça, dias depois, pode esperar. Hoje, só a vitória interessa. Será para ela que todo o Dragão deitará fogo, a 90 minutos.
Sorte(io) para um domador
A certeza de que a Liga Europa continuará a ser um espelho da Champions (mas bem menos remunerado...), reside no adversário que nos coube em sorte(io). Como se já não bastasse um "leão" interno a competir pela Liga portuguesa, eis que nos surge um outro, o que fala francês na Europa. Nada a que não estejamos habituados. Embora numa fase menos boa no seu campeonato, a habitar o 8º lugar, o Lyon deita habitualmente as garras de fora pelo título francês.
Certo é que o FC Porto mostrou, em Roma, o porquê de ser candidato à final da Liga Europa. E que será promovido a "domador", caso consiga ultrapassar, com distinção, duas eliminatórias em 4 jogos com dois leões de indiscutível valor. Resolver até Abril, para celebrar em Maio.